O tema deste ano é “Utopias negras” e tem como objetivo criar debates que projetem o futuro. “No meio de uma distopia e uma crise humanitária, a gente precisa conseguir ter fôlego e sobreviver para projetar o futuro. Essa é a mensagem que a gente quer trazer esse ano: a utopia como legado”, avalia Jaqueline Fernandes, uma das idealizadoras. As homenageadas da edição são Elisa Lucinda, Elza Soares e Dona Dalva.
Por isso, o evento contará com mais de 60 atividades que envolvem painéis, shows de música, recitais de poesia, workshops, vivências, oficinas, rodas de conversa e espaço infantil com atrações do Distrito Federal, mas também de âmbito nacional e internacional.
A presença candanga no festival é inerente à origem do evento, que começou e fez história na capital federal, ocupando, principalmente, a área central de Brasília. Entre os nomes confirmados da cidade estão duas cantoras da nova geração da música brasiliense: Letícia Fialho e Moara. Cada uma delas fará uma apresentação musical no Latinidades.
Letícia será responsável pelo encerramento do primeiro dia, 22 de julho, com um pocket show às 21h30, em que passeará pelo repertório autoral Purpurina anzol e Maravilha Marginal. “Sempre acompanhei o festival e nunca tinha participado como atração. Esperei esse momento e, agora, rolou o convite. Estou muito feliz. Acho que é um evento superimportante não só para a cidade, mas nacionalmente, por dar protagonismo às mulheres negras, autoras e fazedoras”, comenta a artista.
No show, ela aproveitará, ainda, para divulgar um single do próximo EP Carta de fogo, que vem gravando na pandemia. O primeiro em que assume todos os instrumentos. Sobre a importância do evento, destaca o fato de dar lugar de fala às mulheres. “Acho que é fundamental, porque dá esse protagonismo às mulheres que, muitas vezes, têm esse lugar negado”, completa.
A cantora brasiliense Moara tem uma relação de proximidade com o Latinidades. Desde 2011, ela frequenta o evento como participante. Mas, agora, pela primeira vez, estará entre as atrações. Moara participa do pocket show do dia 24, sexta-feira. Ela conta que tem se preparado para a apresentação adaptando o trabalho para o formato on-line. “Esse será um dos shows mais especiais da minha carreira, estarei muito entregue. E é engraçado falar isso mesmo sendo on-line. Por mais que existam mil adversidades, estarei com a minha verdade num show intimista de voz e violão”, explica.
Para Moara, o Latinidades tem uma função muito importante de levar ao público diálogos atuais e até que antecipam discussões. “É uma programação cheia de significados, tanto na música, quanto nas oficinas e nos painéis. Traz essa fortaleza da ancestralidade ocupando mesmo, ainda que on-line. Fazer parte disso é somar a minha voz a um evento em que sempre fui espectadora. Acho que é um festival em que as pessoas se reconhecem”, avalia a artista.
Espaço da internet
Além de ser realizado no âmbito virtual, o Latinidades traz para o debate assuntos ligados à internet. É o caso da mesa “Criar juntos novas narrativas negras na internet para o futuro”, no domingo, 26 de julho, que se aprofunda no papel da web em relação à diversidade e representatividade, indo além dos movimentos que aconteceram neste ano após a morte do norte-americano George Floyd.
A mesa terá participação de três influenciadoras digitais que levam diferentes narrativas para o espaço: Bielo Pereira, bigênero, body positive, apresentadora do Coisa boa pra você (GNT) e 138 mil seguidores no Instagram; Lorrayne Carolyne, que tem 193 mil seguidores no Instagram e aborda temas sobre beleza e relacionados às pessoas com deficiência; e Xan Ravelli, influenciadora digital com foco em moda e beleza negra.
“Comecei a ficar mais ativa nas redes sociais no ano passado, falando do meu cabelo e os vídeos viralizaram. De um tempo para cá, minha vida mudou. Muitas pessoas passaram a me seguir, e dizem se inspirar em mim. Se eu conseguir tocar a vida de uma pessoa que seja, eu já me sinto feliz”, diz Lorrayne, de apenas 18 anos. No evento, ela falará sobre a trajetória dela nas redes sociais.
Depois de estrear no ano passado na versão paulista do Latinidades, com uma apresentação de dança de mulheres plus size, Bielo Pereira agora participará de uma mesa de debate para falar sobre a experiência de representatividade na internet. “É muito importante poder voltar numa posição em que vou falar. Na primeira, fui para militar. Agora, vou falar da minha vivência”, afirma. Sobre o fato de ser um evento on-line, ela diz preferir: “Fica mais acessível, mais fácil da gente atingir mais público”.
Bielo acredita que a internet é um espaço em que é necessário que sejam criados mais ambientes para as mulheres negras. “Estou aqui para mostrar que é possível. Eu comecei a construir uma narrativa, mesmo sendo fora do padrão. Inclusão é diferente de representatividade. A gente precisa de inclusão, mostrar como a nossa sociedade é plural”, completa.