O advogado baleado pelo deputado estadual Alexandre Knoploch (PSL/RJ) teve alta nesta sexta-feira (17/7) e se recupera do tiro em casa, depois de 13 dias internado. Ao Correio, Helvídio Neto apresentou novas versões do ocorrido na madrugada de 2 de julho. Disse que o restaurante onde o evento acontecia antes da confusão omitiu o socorro e que o parlamentar propôs pagar R$ 15 mil para que as duas partes acordassem que não houve desproporcionalidade na reação.
Segundo Helvídio, o convite para participar de uma “balada privada” no restaurante Noah, na 408 Sul, partiu de uma amiga. Após a chegada de três deputados estaduais do PSL do Rio de Janeiro, o advogado baleado narra que o burburinho entre os convidados era de que os parlamentares deram uma “carteirada” na entrada do restaurante. “O comentário entre os participantes da festa era de que ninguém conhecia os deputados e ninguém os tinha chamado. Pelo que falaram, os deputados ouviram o barulho dentro do restaurante e pediram pro segurança para deixar entrar, se não, eles chamariam a fiscalização”, disse Helvídio.
À época, o funcionamento de bares e restaurantes estava proibido em razão das medidas de isolamento adotadas pelo Governo do Distrito Federal para conter a disseminação do coronavírus.
Em 8 de julho, o então responsável pela defesa de Helvídio, Thiago Leônidas - que não o representa mais - disse ao Correio que três deputados estaduais estiveram no evento que terminou com o tiro: Rodrigo Amorim, Gustavo Schmidt e Alexandre Knoploch.
Após o ingresso dos parlamentares no restaurante, teria começado um desconforto entre os presentes por causa do comportamento dos deputados que, de acordo com o relato de Helvídio, mexiam com as mulheres que estavam ali, todas acompanhadas. A confusão teria começado quando um dos deputados deu um soco em um amigo de Helvídio. O advogado partiu pra briga e revidou a agressão no homem que correspondia com a descrição apresentada pelo amigo, “um moreno de óculos”.
Depois de ser atingido no olho esquerdo por Helvídio, o deputado Alexandre Knoploch sacou a arma e atirou no advogado. A vítima baleada correu para dentro do restaurante mas afirma que foi retirada do local. “O responsável pelo restaurante pediu para a gente não chamar a polícia nem a ambulância. Eles me obrigaram a sair, ir pulando num pé só para a esquina e esperar a ambulância. Todo mundo foi embora e me deixou na rua. Só ficou um amigo do dono bar e ele fez a cabeça da moça que estava comigo para que ela falasse que estávamos na rua, vimos uma briga de casal e que, quando tentei ajudar, fui atingido pelo tiro”, afirma.
Troca de versão por R$ 15 mil
Helvídio diz que o deputado Alexandre Knoploch tentou comprar o silêncio dele e propôs um acordo por R$ 15 mil. Inicialmente, o advogado aceitou e chegou a receber R$ 1.250. Depois, no entanto, diz que se arrependeu do acordo pois, segundo relatou, teria que mudar o depoimento feito à polícia. Prints de conversas mantidas com representantes do parlamentar mostram o acordo sendo feito e, depois, em nova troca de mensagens, a desistência de Helvídio, que devolveu o valor.
“Vou processar todo mundo”
Helvidio se diz revoltado e traumatizado com o episódio. Ele está sem andar, pois o tiro acertou dois ossos essenciais para o movimento dos pés, e precisará de nova cirurgia, já marcada para a primeira semana de agosto. Ele ficou internado no Hospital de Base por 13 dias e passou por uma cirurgia no pé. “Eu estou com fratura exposta. Destruí os dois metatarsos, estou com falha óssea, vou ter que fazer um enxerto da bacia para colocar osso no pé.”
Disse ainda que vai processar o deputado Alexandre Knoploch e o restaurante onde aconteceu o evento. Para ele, o tiro que levou do deputado foi uma reação desproporcional. Ele também disse que acionará a Justiça, por meio da Defensoria Pública, pela omissão de socorro do restaurante. “Acho completamente desproporcional a atitude do deputado Alexandre e o restaurante. Todas as testemunhas do tiro são mais amigos do dono do bar ou do deputado. Estava errado de fazer a festa e também de omitir socorro. A vítima no final das contas sou eu”, defende.
Em nota, o Alexandre Knoploch afirmou que "vê com muita estranheza a nova versão dada pelo advogado Helvídio Neto". "Reitera ainda que agiu em legítima defesa e moverá uma ação penal contra Helvídio, inicialmente, por calúnia e difamação". Segundo o texto, a versão apresentada por Helvídio mais recentemente não condiz com a realidade dos fatos. "No último dia 2, o deputado foi convidado para uma reunião particular em Brasília. Ou seja, a versão sobre "carteirada" não é verdadeira".
Alegou ainda que a defesa do deputado não tentou fazer nenhum acordo financeiro com Helvídio, após o ocorrido. "O que houve foi um acordo para custeio de despesas médicas, a pedido do próprio Helvídio. Foram combinadas 12 parcelas no valor de R$ 1.250, para arcar com serviços como os de fisioterapia". "A defesa de Knoploch não tentou convencer Helvídio a mudar de versão em nenhum momento. Pelo contrário: a iniciativa de procurar a delegacia de polícia partiu do próprio parlamentar, relatando a veracidade dos fatos, em boletim de ocorrência."
O Correio procurou o restaurante Noah, mas não obteve retorno até a mais recente atualização desta reportagem.
A investigação
O Delegado responsável pelo caso, Mauricio Iacozzi, disse que Helvídio não relatou à polícia a proposta que disse à reportagem ter recebido do deputado Alexandre Knoploch. O responsável pela investigação disse que apuração do caso está em fase final. O advogado foi baleado na noite de quarta (1º/7) para quinta (2/7).
Veja a íntegra da nota do deputado estudal Alexandre Knoploch:
O deputado estadual Alexandre Knoploch afirma que vê com muita estranheza a nova versão dada pelo advogado Helvídio Neto. Reitera ainda que agiu em legítima defesa e moverá uma ação penal contra Helvídio, inicialmente, por calúnia e difamação.
Isso porque a versão por ele apresentada mais recentemente não condiz com a realidade dos fatos. No último dia 2, o deputado foi convidado para uma reunião particular em Brasília. Ou seja, a versão sobre "carteirada" não é verdadeira.
Além disso, a defesa de Alexandre Knoploch não tentou fazer nenhum acordo financeiro com Helvídio, após o ocorrido. O que houve foi um acordo para custeio de despesas médicas, a pedido do próprio Helvídio. Foram combinadas 12 parcelas no valor de R$ 1.250, para arcar com serviços como os de fisioterapia.
A defesa de Knoploch não tentou convencer Helvídio a mudar de versão em nenhum momento. Pelo contrário: a iniciativa de procurar a delegacia de polícia partiu do próprio parlamentar, relatando a veracidade dos fatos, em boletim de ocorrência. Foi dele também a iniciativa de pedir exames complementares, provando que não havia ingerido álcool.
Vale a pena lembrar que Knoploch agiu em legítima defesa, disparando contra o pé de um homem que o agrediu, em via pública, pelas costas.
No dia seguinte ao ocorrido, foi contactado pelo próprio Helvídio que lhe pediu desculpas pela agressão e confirmou que havia confundido o deputado com outra pessoa.
O parlamentar afirma também que não cederá a nenhuma tentativa de extorsão.