As aulas presenciais na rede pública de ensino retornarão a partir de 31 de agosto, com estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e da Educação Profissional. O calendário divulgado na última segunda-feira pela Secretaria de Educação destaca que a retomada das atividades será de forma gradual. Em entrevista ao CB.Poder, uma parceria do Correio com a TV Brasília, ontem, o secretário de Educação, Leandro Cruz, afirmou que o cronograma é uma forma de retorno seguro, tanto para os alunos, quanto para os profissionais da educação. “Vamos preservar, acima de tudo, a vida e a saúde das pessoas. Depois, a preocupação serão os conteúdos”, disse.
A ideia de iniciar o calendário com o retorno das aulas para jovens e adultos é a facilidade para seguir os protocolos de segurança, como uso de máscaras, distanciamento e higienização. Aos poucos, as demais faixas etárias voltam às atividades. “Vamos começar com aquele aluno que a gente acha estar mais capacitado para retornar primeiro. A cada semana vamos retomar um segmento, até chegar na totalidade de alunos do DF”, explicou Leandro Cruz.
Para receber os estudantes, as escolas terão que seguir uma série de orientações, como manter o distanciamento dentro da sala de aula. O secretário conta que 100% das cadeiras continuarão nas salas, para facilitar a distância entre os estudantes. “Vai ser um obstáculo físico para garantir o distanciamento”, destacou. Além disso, em parceria com o BRB, serão distribuídas 1,6 milhão de máscaras nas escolas públicas. Leandro Cruz falou ainda sobre a volta às aulas da rede privada de ensino, prevista para o dia 27, a polêmica da licitação da merenda escolar e a convocação de novos profissionais da educação.
O GDF tem segurança para planejar o retorno das escolas, sem colocar em risco a vida dos alunos?
Preservaremos, acima de tudo, a vida e a saúde das pessoas. Depois vamos ter a preocupação com o conteúdo pedagógico. Esse é o nosso maior desafio. Faremos tudo de forma gradual e na velocidade necessária para que seja feito com segurança. Retornaremos primeiro com a testagem dos professores, depois com toda preparação e o ensaio dos protocolos, em seguida, a retomada da aula presencial com o aluno.
Começar com os alunos mais velhos e de classes avançadas é para garantir a segurança?
O aluno mais velho é mais fácil educar sobre a utilização e manutenção da máscara, higienização. Vamos começar com aquele aluno que a gente acha estar mais capacitado para retornar primeiro. A cada semana, vamos retomar um segmento até chegar na totalidade de alunos do DF.
Como será o trabalho com as crianças, para elas entenderem as noções básicas?
Temos um protocolo para isso e vamos contar com professores. Essa vai ser a primeira lição do retorno às aulas. Nas aulas mediadas por tecnologia vamos começar focando todo o protocolo.
A ideia é fazer modelo híbrido também. Como vai funcionar?
Na semana A, a turma A terá aula presencial, e a turma B estará em aula mediada por tecnologia. Na semana B, a turma B terá presencial, e a turma A estará em aula mediada por tecnologia. Desta forma, garantimos que as salas terão, no máximo, 50% de estudantes.
Como será feita essa primeira etapa de testagem?
Em conjunto com a Secretaria de Saúde, e vamos organizar a testagem, evitando, ao máximo, aglomerações, garantindo a segurança (dos professores e outros servidores). Onde pudermos, vamos fazer por drive-thru. O professor que não tiver carro, vamos garantir que ele tenha acesso também.
Vai haver distribuição de máscara?
Sim, 1,6 milhão de máscaras. O BRB tem um convênio com a Secretaria de Educação e está nos fornecendo essas máscaras.
Como fica o processo após as testagens? Se alguém apresentar sintomas será afastado?
Medição diária de temperatura, questionamento diário de sintomas, tanto pelos professores, direção e estudantes. Deu qualquer sintoma, a gente faz testagem e faz a quarentena, imediatamente.
Como será organizada a estrutura dos colégios para garantir o espaço entre as carteiras?
Vamos manter 100% das cadeiras em sala de aula e vamos, intercalar 50% da turma. Deixamos a cadeira como obstáculo físico para garantir o distanciamento.
Esse calendário longo e gradual é justamente para tentar minimizar os riscos?
Sim. Minimizar os riscos, ter a capacidade científica de observar a reação. O governador nos orientou, acima de tudo, a preservação da vida e da saúde. Sob orientação dele, fizemos um calendário extenso, onde podemos observar semana por semana. Serão mais de 600 mil pessoas se movimentando na cidade ao retorno da comunidade de educação do DF.
Caso o cenário se complique, não se descarta a possibilidade de reavaliar e alterar prazos?
Sem dúvida nenhuma. (Como também) a necessidade de minimizar o prejuízo que os estudantes estão tendo. O administrador público, assim como o privado, tem, por obrigação, transformar a crise numa oportunidade. A Secretaria de Educação, por orientação do governador, está preparando um projeto de recuperação, colocamos o nome de Virando o jogo. Que a gente saia, daqui uma década, não com o prejuízo de uma geração inteira, mas com salto de qualidade nessa geração.
No uso da tecnologia, o ideal seria que todos tivessem condições de acesso e equipamento, mas a realidade não é essa. Como o GDF tem lidado com isso nas aulas não presenciais?
Não estamos aqui para enganar ninguém. Nada vai substituir o mestre em sala de aula. A relação estudante e professor constrói uma educação pública gratuita de qualidade que queremos.Teremos pagamento de dados reverso para estudantes que não têm acesso à internet de qualidade; material impresso para estudantes que não têm condições de ter sinais de internet nem gratuito. Estamos criando todos os mecanismos para que menos pessoas tenham prejuízo com essa pandemia.
Além dessa complicação da pandemia, algumas denúncias de contrato da merenda geraram preocupação. O que está sendo feito para garantir um processo sem irregularidade?
O processo foi ao Tribunal de Contas (do DF). O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pediu acesso irrestrito ao SEI (Sistema Eletrônico de Informações) para fazer toda apuração que tem que ser feita. Sou defensor de um processo de terceirização completa da merenda, em que poderemos ter uma reforma de todas as cozinhas, condições de ofertar uma alimentação de mais qualidade para os estudantes. Tem que ser feita essa licitação de forma transparente, que garanta livre concorrência e que garanta a melhor qualidade e menor preço.
Como está o processo de convocação para novos profissionais?
São 821 professores que já passaram no concurso, foram convocados e estão entregando na Secretaria de Educação seus documentos, no sistema de drive-thru. Eles são fundamentais para esse esforço que estamos tendo. Vão passar por capacitação e depois já estarão em sala de aula.
Como fica o retorno das escolas particulares?
Retornam dia 27 de julho e cada escola particular vai construir o seu processo de aula por meio de tecnologia e presencial. Elas vão deixar pela livre escolha do pai mandar ou não o estudante para a aula presencial.
Com a suspensão das aulas, o GDF aproveitou para fazer algumas obras e mexer na infraestrutura das escolas. Como foi feito?
Fizemos uma grande reforma e manutenção nas escolas. O GDF não pode parar. Precisamos manter a máquina pública em movimento. Esperamos receber os alunos numa escola melhor. Vamos construir lavatório em todas as escolas que não têm condições de ter lavatório na entrada. Temos que respeitar a arquitetura (dos prédios escolares), mas queremos garantir que o estudante tenha condição de higienizar as mãos.
No cenário nacional, a educação passa por turbulências. Qual expectativa com a entrada no novo ministro?
Essa crise foi prejudicial. Esse período sem ministro da Educação, num momento tão importante, foi ruim. Mas, agora, com o novo ministro, acho que vamos conseguir deslanchar e ter o apoio do MEC para enfrentarmos essa crise.