A Polícia Civil do Distrito Federal investiga, ainda em caráter preliminar, mensagens associadas a dois religiosos da Paróquia São Marcos e São Lucas, no P Norte, em Ceilândia, suspeitos de cometer assédio contra fiéis menores de 18 anos. As diligências começaram após imagens de conversas relacionadas a freis franciscanos da paróquia surgirem nas redes sociais. Nas mensagens, pessoas que disseram ser vítimas dos crimes detalharam situações de perseguição e aliciamento. Ontem, durante cerca de quatro horas, envolvidos no caso prestaram depoimento na 19ª Delegacia de Polícia (P Norte).
Os relatos vieram à tona no último fim de semana, a partir do compartilhamento de mensagens feito por duas pessoas no Instagram e no Twitter. O Correio falou com as responsáveis pelos posts. Elas disseram que não foram vítimas e que não estavam envolvidas nas situações. No entanto, decidiram compartilhar as mensagens recebidas de terceiros. As imagens mostram conversas de WhatsApp, no chat do Facebook e do Instagram de supostas vítimas dos freis da Paróquia São Marcos e São Lucas. Os casos teriam acontecido em diferentes períodos.
As imagens incluem acusações contra um dos integrantes da paróquia, que teria aliciado jovens com presentes caros. Por envolver pessoas com menos de 18 anos, as investigações correm sob sigilo. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) ainda não recebeu informações sobre o caso e aguarda o andamento das diligências policiais. O alcance das denúncias fez com que a assessoria jurídica da igreja emitisse uma nota a respeito, no fim de semana. No texto, a equipe da paróquia “lamenta a repercussão de acusações” contra integrantes da igreja, incluindo sacerdotes.
A instituição ressaltou que “reafirma o compromisso de busca da verdade” e que “repudia qualquer ato que viole a dignidade e a integridade do ser humano”. “Em tempos de disseminação de ódio, precisamos priorizar a busca da verdade. Portanto, reafirmamos que foram tomadas as providências para apuração dos fatos, estando o caso sendo acompanhando pelas autoridades competentes com a seriedade e responsabilidade que o caso requer”, informou o documento.
Oitivas
Na 19ª DP, o delegado-chefe, Sérgio Bautzer, afirmou que há uma investigação inicial para apurar as publicações feitas no Instagram e no Twitter. Durante a tarde de ontem, ele ouviu pessoas envolvidas no processo. “Tudo será apurado com cautela, em sigilo e com muita seriedade e serenidade”, disse o investigador. O delegado destacou que, em casos como esse, julgamentos preliminares podem atrapalhar os trabalhos. Além dos depoimentos, o delegado vai avaliar o material postado na internet.
A advogada Marcia Teixeira, que responde pela paróquia e, especificamente, pelos dois freis, ressaltou que não teve acesso a qualquer acusação formal envolvendo os padres da igreja. “Já falamos com o delegado. Não há nenhuma conduta que os desabone”, complementou. Ontem, Marcia ainda registrou uma ocorrência de difamação e calúnia contra as duas pessoas que expuseram as mensagens nas redes sociais. Ela destacou que tomará as providências cabíveis quanto à divulgação de informações falsas.
Procurada, a Arquidiocese de Brasília informou que não responde diretamente pelos freis, mas que o caso é acompanhado pelo departamento jurídico da instituição. A reportagem tentou contato com a secretaria da Cúria Provincial dos Franciscanos Conventuais em Brasília, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.
Memória
14 de janeiro
Um homem foi preso por suspeita de abusar sexualmente de quatro mulheres, incluindo uma adolescente de 14 anos. As vítimas frequentavam um terreiro de umbanda, onde ele atuava como pai de santo. O suspeito se aproveitava da fé das vítimas para atraí-las à casa dele, em Ceilândia, onde as obrigava a ter relações sexuais.
19 de fevereiro
Agentes da 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas) prenderam um homem de 40 anos, bispo de uma igreja evangélica na mesma cidade, suspeito de abusar sexualmente de uma adolescente de 15 anos. Ele foi preso no Aeroporto de Brasília, no momento em que chegava de viagem. Para a polícia, o líder religioso teria feito outras seis vítimas em outras unidades da mesma igreja, no Gama e em Goiânia (GO).
18 de maio
Um homem de 30 anos foi denunciado à Polícia Civil por suspeita de estupro e violação sexual contra 12 meninos que faziam parte de um grupo jovem em uma igreja católica do Gama. Ele era o líder do grupo litúrgico e conhecido da comunidade da região. A denúncia surgiu durante uma apresentação ao vivo pela internet da banda do suspeito. O homem morava na paróquia desde 2017 e, segundo as investigações, não praticava os crimes na igreja. Após as diligências, a polícia recebeu outra denúncia de práticas semelhantes cometidas em Santa Maria.