Cidades

Jovem picado por naja deve prestar depoimento ainda nesta semana

Previsão é de que estudante picado por naja deixe o hospital hoje. É provável que ele preste depoimento na 14ª Delegacia de Polícia (Gama) ainda esta semana, para esclarecer a origem da cobra que o atacou

Correio Braziliense
postado em 13/07/2020 06:00
O estudante Pedro Henrique e a naja que o picou, hoje abrigada no Zoológico de BrasíliaO jovem picado por uma naja kaouthia na terça-feira passada deve receber alta do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama, hoje. Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl, 22 anos, ficou internado na unidade de saúde por seis dias e chegou a entrar em coma. Na noite de sábado, ele saiu da unidade de terapia intensiva (UTI) e foi transferido para o quarto. O Correio apurou que, ainda esta semana, o estudante de medicina veterinária deve prestar depoimento na 14ª Delegacia de Polícia (Gama), unidade que investiga o caso.

A polícia acredita que ele e outros amigos estejam envolvidos em um esquema nacional e internacional de tráfico de animais exóticos e silvestres. Outra suspeita é de que o grupo tenha usado essas espécies para produzir pesquisas clandestinas. Contudo, na história, ainda há muitas lacunas que, para o esclarecimento total do caso, devem ser apurados.

Em menos de uma semana, 30 cobras, três tubarões, um lagarto teiú, uma moreia e um casco de tatu foram encontrados no Distrito Federal. Dezessete serpentes, incluindo a naja, teriam ligação com o estudante Pedro Henrique. De acordo com a apuração policial, a chácara no Núcleo Rural Taquara, em Planaltina, onde foram capturadas 16 cobras, pertence a um dos colegas do jovem, que é estudante de medicina veterinária.

Dois dias depois, agentes da Delegacia Especial de Proteção ao Meio Ambiente e à Ordem Urbanística (Dema) receberam uma denúncia anônima sobre uma espécie de criadouro de tubarões e outros animais na Colônia Agrícola Samambaia, em Vicente Pires.

Segundo a delegada da Dema, Fernanda Lopes, os tubarões permanecem na chácara, por enquanto, por meio de termo de depósito, em razão da impossibilidade de transporte seguro. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está à procura de um aquário próximo ao DF para abrigar os peixes, segundo apurou a reportagem. No mesmo imóvel, havia sete serpentes, uma moreia e um lagarto teiú. O proprietário, no entanto, apresentou a documentação apenas de uma das jiboias e do teiú. Ele foi autuado por crimes ambientais e receberá multa do Ibama.

[SAIBAMAIS]A apreensão mais recente ocorreu no sábado. Agentes encontraram, em um apartamento vazio no Guará 2, uma jiboia arco-íris, ratos — que serviam de alimentos para as cobras — e um casco de tatu. O dono do imóvel, um servidor do Judiciário, é pai de um dos amigos de Pedro, o mesmo que teria ocultado as 17 serpentes e soltado a naja próximo ao shopping Pier 21, após o incidente. O homem apresentou documentação incompleta e foi autuado por manter o animal exótico sem a devida permissão e por maus-tratos.

Perigo

Na avaliação de Igor Morais, biólogo e gerente de projetos educacionais do Zoológico de Brasília, o tráfico de animais silvestres tem várias facetas. “Geralmente, quem captura o animal no Brasil o faz por questão de necessidade. São pessoas com baixa renda, em regiões pobres, que veem nisso uma forma de conseguir algum dinheiro para o sustento. Mas quem lucra mesmo é o intermediário, a pessoa que compra o animal, transporta-o e faz a revenda nos grandes centros urbanos”, explicou.

O biólogo comenta os motivos que costumam levar as pessoas a criar animais exóticos em casa, mesmo que ilegalmente. “No caso de aves canoras, como bicudos e trinca-ferros, é por razões culturais e de competição, por dinheiro. Agora, quando envolve répteis, peixes e mamíferos, é por questões de ‘status’. Igual a ter um carro importado na garagem”, afirmou.

O especialista ressalta, ainda, o perigo de manter animais exóticos no Distrito Federal. “No caso da naja, além do risco de acidentes com pessoas, há o potencial de a espécie se tornar invasora. Ou seja, de elas fugirem ou serem soltas e começarem a se reproduzir e a estabelecer uma população no cerrado. Isso seria uma tragédia, porque elas começariam a predar animais nativos e a competir por espaço e alimento com as serpentes nativas, como a cascavel e as três espécies de jararaca que temos no DF. Uma dessas espécies de jararaca, a cotiarinha, é considerada dependente de esforços de conservação”, destacou.

» O que falta esclarecer?

Veja as lacunas nas investigações sobre o caso do estudante picado por naja no Gama

» De onde veio a naja que picou Pedro Henrique?
» As outras 16 serpentes encontradas em Planaltina pertenciam a Pedro?
» Por que os amigos de Pedro teriam ocultado as cobras?
» Pedro e os amigos fazem pesquisas clandestinas com os animais exóticos?
» Existe relação entre o caso da picada e os tubarões, as serpentes, o lagarto e a moreia encontrados na Colônia Agrícola Samambaia?

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