Conversa na loja
Fui a uma lojinha comprar uns botões para uma camisa. Nas circunstâncias atuais de pandemia, chega a ser uma veleidade, mas me dirigi a uma que estava vazia. A dona da lojinha era educada. E revelava muito cuidado com a prevenção e com a higienização dos objetos.
Depois que passei o cartão, limpou a maquininha e pediu que eu estendesse as mãos para que ela borrifasse álcool em gel. Fiquei tocado porque, apesar das recomendações para que o procedimento seja realizado a cada operação no comércio, percebo que isso nem sempre acontece.
E, muitas vezes, em estabelecimentos muito mais ricos e maiores. Nunca vi a menor atenção semelhante nos postos de gasolina nos quais parei para abastecer o carro. Perguntamos a um frentista se a empresa fornecia álcool em gel e ele me respondeu que não: “Se quiser usar, a gente tem de pagar com dinheiro do próprio bolso”.
A senhora do primeiro parágrafo fazia o correto, mas com desvelo. Por isso, tive a atenção despertada para ela e quis esticar a conversa para saber o que pensava sobre a situação na qual estamos mergulhados.
— Imagino que para quem trabalha com comércio estava difícil sobreviver tanto tempo sem funcionar.
— É verdade, mas o problema é que as pessoas não fizeram o isolamento de maneira correta. Então, agora estamos pagando o preço.
— A culpa não foi dos governantes?
— Foi dos governantes e também da população que não cumpriu o que precisava ser feito.
— A senhora sente segurança para voltar?
— Não, mas é preciso.
— E a mistura de política e saúde?
— Veja a loucura, agora quem usa máscara é de esquerda e quem não usa é de direita. O que isso tem a ver com salvar a vida? Quem fez as coisas certas foi a primeira-ministra da Nova Zelândia.
— Mas dá para comparar a Nova Zelândia com o Brasil?
— Não dá para comparar em termos de tamanho, mas é possível comparar em termos de atitude. Eles fizeram sete semanas de isolamento drástico.
— O que a senhora acha da decisão de voltar com as aulas para todos?
— Isso é uma das coisas que mais me preocupam. Imagine que muitas crianças e adolescentes moram com os avós. Não adiantará nada se isolar. A contaminação será obrigatória.
— A senhora acha que o combate ao vírus foi bem administrado?
— Se as pessoas tivessem feito o isolamento de maneira correta, talvez a gente estivesse retornando agora com segurança.