Desde a chegada do novo coronavírus ao Distrito Federal, em março deste ano, o governo local vem se esforçado para implementar medidas de prevenção. Ainda em março, o secretário de Saúde Osnei Okumoto foi exonerado, dando lugar ao então presidente do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), Francisco Araújo Filho. De lá para cá, a pasta aumentou o número de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs), inaugurou hospital de campanha e deu início às testagens rápidas para detecção da covid-19.
Em entrevista ao Correio, o secretário falou sobre as ações do órgão, bem como, o estado de calamidade decretado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Entre as próximas medidas, estão a construção de 16 novas unidades básicas de saúde (UBS), uma nova unidade de pronto atendimento (UPA), em Ceilândia, além do hospital que será instalado no complexo penitenciário da Papuda.
A secretaria anunciou a construção de novas unidades básicas de saúde, um hospital de campanha, em Ceilândia, e um hospital acoplado ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Existe previsão de quando ficarão prontos?
O hospital anexo ao HRC entregaremos, na segunda-feira, para a população e, no mesmo dia, será dada ordem de serviço para empresa que vai construir o hospital de campanha ao lado da unidade de pronto atendimento. Ceilândia é o maior território nosso e, lá, temos 30 leitos para covid-19 no HRC, mais o anexo, que reforçará com mais 70 leitos e outros 20, na UPA de Ceilândia. Estamos, também, fortalecendo nossas UBSs. Nesta fase da pandemia, a gente faz muita força e usa o potencial da atenção primária no enfrentamento à covid-19.
Nesses mais de 100 dias, o ponto que temos de destacar é o grande esforço dos trabalhadores. Todos os profissionais da saúde, desde o início da pandemia, têm produzido resultados extraordinários. Esse esforço é o ponto mais importante do processo.
Na rede de saúde, antes da pandemia, tínhamos 348 leitos de UTI para o dia a dia. De lá para cá, conseguimos colocar, até hoje, funcionando 627, só para covid-19. Também, colocamos em operação o hospital do estádio (Mané Garrinha). Outro ponto é que a empresa responsável já está montando a estrutura no hospital da Polícia Militar, com 86 leitos. Na Papuda, estamos em fase final para que a empresa administre o hospital, que talvez seja o primeiro de campanha dentro de um complexo penitenciário. Chamamos, praticamente, todos os profissionais de saúde remanescentes dos dois concursos vigentes e ampliamos a carga horária de todos os trabalhadores da saúde.
Atualmente, a sala de situação mostra 75% dos leitos adultos ocupados. No hospital do Mané Garrincha, por exemplo, não há mais vagas. Existe previsão para compras de mais leitos e equipamentos de proteção individual (EPIs)?
Estamos consolidando o hospital da Polícia Militar, onde teremos mais 86 leitos, todos com suporte ventilatório. A parceria com o Iges-DF tem sido boa, e o instituto está entregando mais 20 leitos na UPA de Sobradinho. Em Ceilândia e Santa Maria, que eram retaguarda, eles, também, dão um suporte muito grande.
Quanto aos EPIs, há um esforço da secretaria para que não falte. A grande dificuldade da compra e aquisição é por causa de uma fragilidade do mundo. O mundo inteiro vive a pandemia, e isso fez com que houvesse escassez de EPIs para a saúde no mercado. Temos vários processos abertos para compra de avental, luva, máscara. Além dos que o Ministério da Saúde doa, nós temos conseguido comprar, e temos vários procedimentos em andamento. O equipamento é fundamental para proteger profissionais e pacientes, daí a nossa união de forças para não deixar faltar.
Por que parar com os testes por drive-thru?
Na primeira fase, nós fizemos a testagem em massa em mais de 400 mil pessoas. Isso foi importante, porque fizemos o mapeamento da covid-19 nas regiões e permitiu que enxergássemos o movimento da doença. Na segunda fase, é natural que se chegue à atenção básica. A testagem vai para mais perto do usuário. Temos quase 600 equipes no DF e é natural que utilizemos a força da saúde da família.
No momento, trabalhamos com dados feitos pela nossa área de epidemiologia e estudos das universidades nacionais e de fora (do Brasil), fazendo análise do número de infectados por região, com quantitativo de leitos de covid-19, para disponibilizarmos suporte ventilatório a quem precise. Não tem como afirmar que a testagem de drive-thru não vai voltar. O que vai falar, se sim ou não, é a necessidade. Se houver necessidade, sim, podemos voltar.
A secretaria faz alguma projeção de quando atingiremos o pico da curva de casos?
Estamos atravessando o pico. Tira-se pelo aumento crescente da ocupação de leitos. Dentro deste processo de pico, estamos em algo que chamamos platô. Após o platô, a tendência natural é de desaceleração do processo. Como tudo é muito novo, não gosto de fazer afirmações. Estruturamos muito a rede, colocando 627 leitos para covid-19 no sistema de saúde, o que não é fácil. O envolvimento do trabalhador, quantitativo de leitos e aperfeiçoamento da rede de saúde são elementos que fazem com que a gente consiga enfrentar a pandemia de cabeça erguida, dando a segurança que o cidadão precisa.
Qual é a dinâmica da sala de situação? Como oferecer informações claras à sociedade?
A sala de situação é um instrumento essencial, do ponto de vista da comunicação e informação, que a secretaria dispõe. Foi muito tempo para aperfeiçoar. Temos a regulação normal, que já existia: pacientes direcionados para as unidades, por exemplo, diabéticos e hipertensos que precisavam de UTI. Com a pandemia, foi criado um novo cenário, para o qual a sala foi criada. Temos leitos de UTI com e sem suporte dialítico, leitos de covid-19 que estão nos boxes e enfermarias, isto é, intermediários. Tudo isso são informações que monitoramos, aqui, para direcionar o paciente nesse processo, saber o perfil e dizer que tipo de leito vai utilizar.
Da sala de situação, acompanhamos o giro dos leitos. A gente fez um esforço muito grande para que eles girem rápido. A sala de situação faz com que a gente enxergue esse todo. Ela é nossa bússola. É por meio dela que a gente toma decisões, monitora o crescimento da covid-19 e a ocupação dos leitos. Claro que uma sala de situação não é estática. Ela é dinâmica. Em 24 horas, tem pacientes que entram e saem.
O decreto estabelecendo o estado de calamidade proporcionou a vinda de recursos do governo federal?
Sim. É natural que, em uma pandemia, o governador decrete calamidade. Você vê o número crescente de leitos ocupados, o avanço da covid-19 nas regiões, número de óbitos, índice alto de infectados, e a preocupação do governador Ibaneis sempre é proteger. Quando o governo utiliza qualquer instrumento, como decreto ou outro recurso legal e jurídico, nossa intenção é proteger as pessoas.
Recebemos do Ministério da Saúde mais de 200 ventiladores mecânicos para estruturar a rede, que foram distribuídos em todas as unidades. Recebemos, também, aventais, luvas, máscaras, álcool em gel, medicamentos. Isso ajudou muito. É um alerta que chama a atenção de todo o comando maior. Quando se acende o sinal vermelho, o ministério, automaticamente, tem tempo de resposta mais rápido.
Médicos, enfermeiros e outros servidores estão sendo infectados em grande proporção, como mudar esse cenário?
A maneira de reduzir a infecção de quem está no front é com EPIs e cuidados individuais. O trabalhador de saúde é um ser humano normal, então precisa ter cuidado ao utilizar EPI, álcool em gel, e deve manter distanciamento. Desde o início da pandemia, o médico trabalha dia e noite. Enfermeiro tem que acessar centro cirúrgico, estar nas unidades, porque a saúde é o escudo da população. O médico não pode acordar e dizer que não vai trabalhar, porque, se fizer isso, as pessoas vão morrer. A secretaria tem feito se esforçado para proteger esses trabalhadores, porque quanto maior a vulnerabilidade do profissional de saúde, maior a vulnerabilidade da população.