Cidades

É possível criar animais exóticos legalmente no Brasil; veja relatos

Amantes de araras, tucanos, papagaios, cacatuas, jabutis e cobras relatam paixão por animais. Até mesmo cobras não venenosas podem ser adquiridas com autorização dos órgãos competentes

O caso de Pedro Henrique, picado por uma naja na terça-feira (7/7), colocou em evidência o hábito que algumas pessoas têm de criar animais exóticos. Depois do episódio, vários foram apreendidos pela polícia do Distrito Federal ou entregues voluntariamente por seus responsáveis. Nesta sexta-feira (10/7), uma pessoa entregou ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) uma víbora-verde-de-vogel, serpente exótica e venenosa que não tem soro antiofidíco no Brasil.
 
A legislação ambiental autoriza a criação desse tipo animal exclusivamente para fins comerciais, por instituições farmacêuticas ou para conservação - como quando o animal não tem condições de voltar ao seu habitat. No Brasil, apenas espécies sem veneno podem ser criadas em casa, mediante autorização do órgão ambiental local e do Ibama. A única empresa autorizada a fazer esse tipo de venda no país cobra cerca de R$ 2 mil por filhote de jiboia.
 
Atualmente, o biólogo e professor universitário Flávio Terrassini possui duas jibóias. No começo do ano, uma terceira serpente de que cuidou por 18 anos morreu. Flávio explica que é possível ter uma cobra legalmente no Brasil. “Mas, infelizmente, muitas pessoas acabam indo para o lado da biopirataria e importando de outros países, como infelizmente aconteceu no casos do jovem picado pela naja”, observa. As jibóias de Flávio têm um chip de registro junto ao Ibama e são utilizadas para educação ambiental em comunidades, escolas e feiras de ciências. “A gente administra palestras para orientar a população a não matar esses animais.”
 
Por meio dessa atividade, ao longo dos últimos anos, nas feiras de ciências, centenas de estudantes tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a biologia, as serpentes e outros animais. Uma dessas pessoas foi a jovem Bruna Rafaela. Hoje, aos 24 anos, é graduada em biologia. Fez cursos no Instituto Butantan e estagiou Centro de Estudos de Biomoléculas Aplicadas à Saúde (CEBio) da Fiocruz, em Rondônia, onde, entre outras coisas, estuda venenos de serpentes.
 
“Houve uma feira de ciências na minha escola e foi uma das barracas que mais chamou a minha atenção... aliás, eu nem lembro do que tinha nas outras barracas, só lembro da barraca da biologia. E lá havia várias Morpho que são borboletas azuis e aquilo me deixou encantada. Tinha várias mariposas belíssimas, tinha as cobras. Os alunos que estavam nas tendas me encantaram. Eu falei: 'Nossa, é isso que eu quero da minha vida'. Ser bióloga mudou minha vida, mudou meu jeito de ver as coisas”, relata a jovem.
 
Sobre o recente episódio, em que o estudante de medicina veterinária foi picado pela cobra da espécie naja, ela pondera: "Às vezes quem cria esses bichos se acha como um Deus por ter esses animais exóticos, mas, depois, o bicho dá bote e a pessoa pode até morrer”. Questionada sobre a razão que pode levar uma pessoa a esse tipo de aquisição, ela critica: “Normalmente, as pessoas compram para alimentar o ego mesmo, se sentirem poderosas por ter um animal tão venenoso em casa”.
 
Quem também não concorda em manter desse tipo de animal peçonhento em casa é o empresário Bernardo Prieto, de 35 anos. Ele mora no Jardim Botânico e cuida de vários animais, muitos deles exóticos. Ele tem cachorros, araras, tucanos, papagaios, cacatuas e até um pônei. Há mais de 30 anos, se dedica à criação, tendo começado com um jabuti e, depois, um papagaio, ainda nos primeiros anos de vida.
 
Ele diz que ama todos os tipos de animais, mas nunca quis ter um peçonhento. “Um cachorro pode levar um susto e querer te morder. Estar com dor e você pegar onde ele tá com dor e aí ele pode te morder. Se uma cobra tiver ruim e você pegar nela e ela te picar? O que acontece? Você morre? E aí? É muito perigoso, não concordo.”