Exaltado, Gustavo Barbosa Sampaio, 43 anos, dono de uma academia, no Guará , chegou a dizer que “meteria a porrada” no juiz responsável pela determinação de fechar, novamente, os estabelecimentos. Ontem, ele publicou um outro vídeo, alegando que a fala dele foi em uma hora de impulso e de nervosismo. “Foi um vídeo de desabafo, estou há quatro meses sem trabalhar. Acho que todo mundo tem esse momento. Não conheço esse juiz nem quero conhecer”, explica o professor de artes marciais ao Correio.
No entanto, Gustavo conta que não se arrepende de ter feito a gravação. Ele se indigna pela situação e afirma ser revoltante o que está acontecendo, pois muitos empresários tiveram que fazer investimentos para poder reabrir e, logo depois, precisaram que fechar. “As pessoas gastam o que não têm, para, dois dias depois, fechar novamente. Estão brincando com os seres humanos”, argumenta.
Em nota, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) informou que o juiz que deliberou e concedeu a liminar que pede a suspensão da reabertura está recebendo todo o apoio da administração do órgão e que está sendo assistido pela Assessoria de Segurança Institucional para a adoção de eventuais medidas cabíveis.
“Estrume”
Além do magistrado, o advogado e militante do PSol Marivaldo Pereira, 41, foi alvo de ameaças nas redes sociais. Ele, o conselheiro de saúde do DF Rubens Bia, o jornalista Hélio Doyle e o cientista político Leandro Couto entraram com a ação popular na Justiça. O autor dos ataques é o empresário Felipe Carvalho, dono de uma marca de suplementos. Em vídeos divulgados no Instagram, ele chama Marivaldo de “estrume” e convoca seus seguidores a agredi-lo. “Só entrar no perfil desse retardado mental que você vê que ele não gosta de cuidar nem dos próprios dentes e quer vir falar de saúde. Estamos cansados de ouvir essa palhaçada. Isso aqui está parecendo um circo”, diz o homem, no vídeo.
Os ataques continuam: “Pode meter processo, não ligo, não, você vai matar mais do que o vírus, você está sendo um assassino. Eu acho que quem devia ter medo de mim era você. Você não ganha mais do que eu. Tenho 21 anos e ganho mais do que você. Eu peço a Deus que um dia eu te encontre na rua”, esbravejou Felipe, na gravação. Após tomar conhecimento das agressões verbais, Marivaldo prestou queixa na 5ª Delegacia de Polícia (Área Central de Brasília). No entanto, o caso será investigado pela 2ª DP (Asa Norte). Até o fechamento desta edição, o boletim de ocorrência não havia sido entregue à unidade policial.
Marivaldo conta que recebeu os atos com tristeza e indignação. “Estamos pleiteando em defesa da vida, nossa ação não é contra o pequeno e médio empresário. Estamos lutando para que o Estado tenha mais responsabilidade nas ações de combate à pandemia da covid-19”, ressalta. Ele acredita esses ataques não representam a categoria. “Apesar dessa situação, recebi muitas mensagens positivas, de apoio. Isso me dá forças”, pontua.
Ao Correio, Felipe afirmou que os vídeos não se tratam de uma ameaça e que a intenção dele era fazer uma live com o Marivaldo. “Gostaria de dizer exatamente o que foi dito, sem cortes, não foi ameaça de violência, no meu caso, não, falei que íamos fazer uma live de surpresa quando achasse ele um dia, não foi ameaça de violência física”, defendeu-se.
De acordo com Felipe, a live seria para que o militante explicasse seu posicionamento. “Para perguntar para ele o que o povo comentaria na própria live, as pessoas que estão indignadas, não sou eu, as revoltas em massa na rede social dele já estavam acontecendo antes de eu ver a publicação. A consequência do ato dele, de mexer com o trabalhador, não foi eu o responsável por todo esse ódio disseminado”, disse o empresário.