Correio Braziliense
postado em 04/07/2020 07:00
A retomada total das atividades comerciais e industriais, além do retorno das aulas, interrompidas devido ao novo coronavírus, reforçou as discussões sobre a importância do isolamento social no Distrito Federal. Ontem pela manhã, manifestantes reuniram-se em frente ao Palácio do Buriti para questionar decreto publicado pelo Executivo local com cronograma de reabertura. Cerca de 100 pessoas promoveram o ato Todas as Vidas Importam, homenagearam as vítimas da covid-19 e pediram mais tempo de distanciamento a fim de evitar mais mortes. Ao Correio, o governador Ibaneis Rocha (MDB) garantiu que as análises da Secretaria de Saúde mostram que o cenário é seguro para que os segmentos voltem a funcionar, inclusive as escolas.O decreto, publicado na quinta-feira, prevê a abertura escalonada e por setor. Na próxima terça-feira, abrirão salões de beleza, barbearias, esmalterias, centros estéticos e academias. Em seguida, em 15 de julho, bares e restaurantes poderão retomar os negócios. Escolas privadas têm permissão para receber alunos em 27 de julho, e as públicas, em 3 de agosto. Apesar das restrições e do protocolo de higienização impostos pela determinação, o retorno às atividades preocupa os participantes do protesto.
“A vida é muito breve. Agosto é muito cedo” e “Romper o isolamento é promover o genocídio” foram algumas das frases escritas nas faixas erguidas pelos manifestantes. Uma das organizadoras, a professora Leda Gonçalves, 56 anos, ressaltou que a medida do Executivo local colocará em risco a saúde da população. “Para nós, romper o isolamento do modo como o GDF está propondo é aumentar a quantidade de mortos, perder vidas. Então, a gente quer pedir um basta”, destacou. Para a dentista Geovania Rodrigues, a abertura é inexplicável, já que o crescimento de casos continua em aceleração. “Justo no momento do pico da pandemia, já previstos por estudos, a gente depara-se com a liberação de praticamente todas as atividades econômicas. É um momento que, no nosso entender, põe em risco muitas vidas”, frisou.
Em nota, o Palácio do Buriti informou que o protesto foi pacífico e acompanhado por equies da Polícia Militar. “A manifestação é um direito fundamental do cidadão, previsto na Constituição”, avaliou.
Educação
A retomada das aulas é um dos pontos mais sensíveis do decreto publicado pelo GDF. Ontem, representantes do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) também participaram do protesto. O diretor Samuel Fernandes ressaltou que não há condições de as escolas brasilienses receberem alunos na pandemia.
O decreto de reabertura dos colégios prevê série de medidas para evitar a disseminação da doença. Entre elas está a testagem dos professores, o fechamento dos bebedouros, o distanciamento entre cadeiras de 1,5m e a suspensão de eventos que promovam aglomeração. Além disso, as turmas serão divididas pela metade e alternarão, a cada semana, aulas presenciais e remotas. Entretanto, o Sinpro não considera as medidas suficientes. De acordo com Samuel, alunos e professores não podem ser obrigados a frequentarem aulas presenciais. “Na próxima semana, vamos tentar uma reunião com a Secretaria de Educação para tratar do assunto”, comentou.
O Correio Braziliense entrou em contato com a Secretaria de Educação e solicitou entrevista para comentar as queixas feitas pelo Sinpro, entretanto, a pasta não atendeu ao pedido da reportagem até o fechamento desta edição.
Com avanço dos casos do novo coronavírus, o sistema de saúde corre risco de entrar em colapso. Levantamento mais recente da Secretaria de Saúde mostra que o DF tem 751 leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) exclusivos para pessoas com a covid-19. Desses, 529 estão ocupados por pacientes, ou seja, tem 70% da capacidade comprometida. De acordo com a pasta, a taxa de ocupação na rede pública está em 62% e na privada, em 92,1%.
UTIs
Projeção feita por Breno Adaid e Thiago Nascimento, professores do Centro Universitário Iesb, doutores em administração e especialistas em análises de dados e quantitativos estatísticos, estima que o sistema de saúde deve ficar sem vagas em breve. Os estudiosos fizeram uma análise de previsão a partir dos dados disponibilizados pela Secretaria de Saúde. O resultado mostra três possíveis cenários para a capacidade hospitalar da capital. Caso não ocorra a expansão dos leitos de UTI na rede, a expectativa é de que as vagas acabem em 10 dias, no cenário provável; em oito dias, na pior das hipóteses; e em 13 dias, na melhor avaliação. “O que me surpreende é que os dados do DF em relação a esses leitos estão padronizados. Mesmo com o aumento de casos, a proporção de pessoas entrando na UTI manteve-se. O cálculo seguiu essa lógica, que não me parece razoável”, avaliou Breno.
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que amplia a capacidade das UTIs gradativamente. A pasta ressaltou que a capital federal conta com o hospital de campanha do Estádio Nacional Mané Garrincha, que tem 177 leitos de enfermaria e 20 de suporte avançado. “O DF também contará com os hospitais de campanha de Ceilândia e do Complexo Penitenciário da Papuda, além da instalação de um hospital acoplado ao Hospital Regional de Ceilândia e do Hospital da Polícia Militar”, acrescentou.
Colaborou Jaqueline Fonseca
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