Apesar de manterem o ensino a distância (EaD) durante a pandemia do novo coronavírus, instituições particulares de ensino superior do Distrito Federal têm demitido professores em massa. O Sindicato dos Professores em Entidades de Ensino Particulares do Distrito Federal (Sinproep-DF) foi notificado após um grande número de desligamentos feitos no Centro Universitário UDF, na Universidade Paulista (Unip) e no Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (Uniplan). Segundo o sindicato, foram mais 400 demissões de professores, desde o início das medidas de isolamento social.
Até o momento, a reclamação mais grave é contra o Centro Universitário do Distrito Federal UDF, onde, de acordo com o Sinproep-DF, na segunda-feira, houve a demissão de mais de 50 professores, sendo 10 deles, apenas, do curso de psicologia. O sindicato levou a denúncia ao Ministério Público do Trabalho (MPT), solicitando mediação do órgão para evitar que os trabalhadores sejam prejudicados. A entidade afirma que as demais instituições também serão denunciadas.
Para Rodrigo Pereira, diretor jurídico do Sinproep-DF, a tendência é que haja mais desligamentos nas instituições particulares de ensino superior. “Este mês, teremos um grande número de demissões”, afirma. Ele explica que os cortes de pessoal ocorrem porque, a fim de economizar gastos, os estabelecimentos têm centralizando as aulas EaD. Com as aulas virtuais, as faculdades dispensam professores locais e centralizam as transmissões em um único estado. “Isso é um absurdo. Cai a qualidade da educação, o que não se justifica, uma vez em que os alunos não tiveram a diminuição da mensalidade”, expõe Rodrigo Pereira.
Um professor da Universidade Paulista (Unip), que preferiu não se identificar, recebeu a notificação de que seria desligado na semana passada. O sentimento é de tristeza. “No meio dessa pandemia vou ficar sem salário. Isso é muito ruim”, diz. O docente não sabe dizer quantos professores já foram notificados, mas garante que ele não foi o único. “Estão aproveitando desta pandemia para fazer isso.”
Estudantes criticam
Evelyn Mesquita, 30 anos, estudante do terceiro semestre de psicologia, no UDF, não se conforma com a demissão dos docentes. “Foram nossos melhores professores. Eram aqueles que tínhamos apenas elogios para dar, que se se esforçaram muito durante a pandemia”, conta.
Aluna, também, do curso de psicologia Regiane Rocha, 39, critica a forma com que o UDF tomou a decisão. “Há instituições que promovem enquetes virtuais, debates sobre temas que envolvem a comunidade acadêmica. Não fomos consultados sobre nada. Ainda aumentaram as mensalidades, mesmo em meio à pandemia, quando muitos tiveram dificuldades econômicas”, comenta.
Em nota, a Cruzeiro do Sul Educacional, gestora do UDF, informa que, durante a pandemia, tem “evitado tomar medidas mais drásticas, mesmo sofrendo com o aumento expressivo da inadimplência e da evasão”.
“O agravamento e prolongamento da crise econômica, somados às incertezas quanto ao próximo semestre, levaram o grupo a adotar uma adaptação de custos, inclusive e inevitavelmente de pessoal, de modo a manter e preservar, minimamente, a saúde financeira, a qualidade de sua operação e a pontualidade dos seus compromissos”, completa a nota.
O MPT informou que recebeu a denúncia, na terça-feira. Ontem a tarde, o procurador Joaquim Rodrigues Nascimento concedeu prazo de cinco dias para que o entro Universitário do Distrito Federal (UDF) se manifeste sobre o caso.
O Correio entrou em contato com a Universidade Paulista (Unip) e o Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (Uniplan), mas, até o fechamento desta edição, não recebeu resposta.
* Estagiária sob supervisão de Ana Sá