O avanço do novo coronavírus em municípios goianos do Entorno do Distrito Federal levou prefeitos da região a estabelecerem lockdown — bloqueio total das atividades — para conter a disseminação da doença. A medida será implementada durante os fins de semana, a partir do dia 11, em nove cidades. Além disso, nos demais dias, a partir da próxima segunda-feira, o horário de todos os serviços, essenciais e não, serão controlados para evitar aglomerações de pessoas. As restrições serão adotadas para evitar colapso no sistema de saúde, que já enfrenta sobrecarga devido à quantidade de diagnosticados.
Levantamento da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, divulgado ontem, mostra que, apenas nos nove municípios que passarão pelas medidas de restrição, há 3.464 casos confirmados e 83 mortes provocadas pela covid-19.
Os serviços considerados essenciais, como supermercados, farmácias e padarias, poderão funcionar das 6h às 21h durante a semana. Os demais segmentos terão restrição de horário mais acirrada, com permissão para abrir as portas das 9h às 17h. Entretanto, o delivery dos estabelecimentos está permitido até as 22h, apenas para as lojas que permanecerem fechadas.
O lockdown começará em 11 de julho e será mantido em todos os fins de semana, até que ocorra redução significativa de casos. Todo sábado, a partir das 15h, os segmentos terão atividades interrompidas até a 0h de segunda-feira. Apenas postos de gasolina, distribuidoras de gás e farmácias terão permissão para funcionar. Entretanto, os estabelecimentos deverão permanecer de portas fechadas, em regime de plantão. A medida visa evitar aglomerações nos comércios.
Apesar das restrições, os eventos religiosos poderão ser realizados, seguindo as recomendações dos órgãos de saúde, e organizados para evitar aglomerações. Os municípios goianos que terão a medida implementada são: Águas Lindas de Goiás, Abadiânia, Alexânia, Padre Bernardo, Valparaíso, Luziânia, Ocidental, Santo Antônio do Descoberto e Planaltina de Goiás.
Decisão
O presidente da Associação dos Municípios Adjacentes a Brasília (Amab) e prefeito de Águas Lindas de Goiás, Hildo do Candango, informou que o lockdown começaria no próximo fim de semana, entretanto, como muitos comerciantes já haviam se preparado para as vendas, inclusive com produtos perecíveis, decidiu adiar o início da restrição. “A medida terá duração até quando tivermos uma situação mais confortável dos leitos de UTI (unidade de terapia intensiva)”, ressaltou.
De acordo com Hildo, a proposta do Executivo de Goiás era de que as atividades fossem suspensas e reabertas com intervalo de 14 dias, entretanto, não foi possível implementar a medida nas cidades do Entorno, devido à configuração das cidades. “Temos uma população flutuante, onde muitas pessoas trabalham no Distrito Federal. Por isso, não iríamos conseguir fazer o isolamento delas. Portanto, é melhor que essas pessoas retornem para casa e permaneçam isoladas aos fins de semana”, esclareceu.
Além disso, segundo Hildo, o transporte semiurbano que atende aos municípios é regulamentado pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT). Por isso, os prefeitos não podem interferir na circulação dos coletivos, já que a responsabilidade é do Governo Federal.
Hospital de campanha
Inaugurado em 5 de junho, o Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás foi criado para receber pacientes do Entorno acometidos pelo novo coronavírus. A unidade foi projetada para ter 200 leitos, sendo 40 de UTI e 160 de enfermaria. Entretanto, de acordo com Hildo, a capacidade de atendimentos está muito abaixo do esperado. “Temos, apenas, 15 vagas em UTI, que já estão ocupadas. Estamos com carga máxima. A nossa preocupação, agora, é cobrar dos órgãos da esfera Estadual ou Federal, para que aumente a capacidade desse hospital”, frisou.
Ainda de acordo com Hildo, moradores do Entorno só podem contar com o hospital de campanha e uma unidade de saúde de Luziânia, que tem 20 leitos de UTI, todos ocupados. “O que está disponível é insuficiente, até mesmo para atender à comunidade local”, disse. O prefeito ainda destaca que outras cidades de Goiás têm maior capacidade de atendimento do que a dos municípios do Entorno.
Em entrevista ao Correio, o diretor técnico do Hospital de Campanha de Águas Lindas, o médico clínico geral Marcos Pontes, informou que há, apenas, 10 leitos de enfermaria desocupados na unidade. “Entendemos que há uma sobrecarga no sistema de saúde, mas se não tivéssemos adotado as medidas necessárias, certamente estaríamos em colapso. Estamos nos aproximando do pico e, se a quarentena não for seguida de maneira correta, poderemos ter uma consequência no aumento dos diagnósticos”, destacou.
A previsão, segundo ele, é de que, nos próximos dias, mais 10 leitos de UTI e 50 de enfermaria sejam inaugurados. “Só estamos terminando de receber os monitores e ventiladores. Se tudo sair como planejado, em sete dias tudo estará pronto”, frisou.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, mais 50 respiradores foram adquiridos e serão distribuídos para hospitais de campanha, inclusive o de Águas Lindas. Além disso, a pasta esclarece que o Estado considera que a demanda de pacientes está “sob controle”, e que uma terceira unidade de campanha será construída em Formosa.