Cidades

Morre, aos 43 anos, Juliana Pacheco, militante na luta antimanicomial

Psicóloga morreu após parada cardiorrespiratória antes de cirurgia

Correio Braziliense
postado em 30/06/2020 14:30
Juliana Pacheco morreu nesta segunda-feira (29/6), aos 43 anos, vítima de um infartoA psicóloga, professora e militante Juliana Pacheco, 43 anos, morreu na tarde desta segunda-feira (29/6), vítima de um infarto. A médica faria uma cirurgia e, antes do início do procedimento, teve uma parada cardiorrespiratória.

 

Juliana Pacheco fez graduação, mestrado e doutorado na Universidade de Brasília (UnB). A psicóloga foi residente de saúde mental em 2000, em uma residência de vanguarda quando, no Distrito Federal (DF), não havia ainda nenhum Centro de Atenção Psicossocial (Caps).

 

Psicóloga no Caps do Paranoá desde 2010, Juliana foi referência na militância e na atuação antimanicomial no DF. Ela abraçou a luta nas suas mais diversas faces: conferências, pesquisas, grupos de estudo, nas artes, no acompanhamento terapêutico, no Caps, nas supervisões de estágio e nas tutorias.

 

Entre 2014 e 2015, a militante viajou para o Norte da Itália, onde aprofundou sua pesquisa sobre o paradigma da desinstitucionalização, pelo fim dos manicômios e práticas opressoras. A paixão pela racionalidade científica aflorou e se materializou, e foram retratadas pela tese, que resultou no livro Reforma Psiquiátrica, uma realidade possível: representações sociais da loucura e a história de uma experiência.

 

Clínica criativa, professora inspiradora, Juliana participou da construção da Lei nº 10.216/01, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

 

A doutora fez parte do coletivo que fundou a Inverso, centro de convivência e cultura em saúde mental do DF. Atualmente, era supervisora da instituição e atuava no campo formativo, tendo sido mentora em residência de saúde mental e estágios na área. Além disso, ajudava a formar gerações de psicólogas, psicólogos e militantes.

 

Perda para a saúde pública 

Para a psicóloga Elizabet Garcia Campos, tia de Juliana Pacheco, a perda é imensurável. “Acompanhei toda a trajetória dela. É uma menina que, apesar de pouca idade, conseguiu construir um currículo invejável. A saúde pública do DF perde, hoje, uma grande profissional. Ela foi uma militante para desvendar o mundo da saúde mental”, diz. “Dificilmente haverá uma outra Juliana para dar conta do que ela dava. Era apaixonada pelo trabalho dela, eu nunca vi alguém gostar tanto. Nós todos estamos muito tristes”, completa Elisabet.

 

Em nota, o Conselho Regional de Psicologia do DF (CRP-DF) lamentou a morte de Juliana. “Era respeitada e admirada por muitos usuários dos serviços de saúde mental e amada por estudantes.” A entidade acrescentou, ainda, que a luta da psicóloga pela saúde mental terá a devida continuidade: “Defensora inconteste das políticas públicas de saúde, Juliana deixa o campo da saúde mental cedo demais; deixa trabalhadoras e trabalhadores, usuários e seus familiares e diversos militantes na tarefa de prosseguir a luta pelo cuidado digno no DF e no Brasil”.

 

* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer 

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