Cidades

Crônica da Cidade

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Viva, Gil!


Gil setentaeoitou. E que presente poder fazer parte da comemoração. Tive de subverter o sentido de live, é verdade, e, na impossibilidade de assistir à apresentação desse mestre da música popular brasileira ao vivo em celebração ao aniversário de 78 anos na sexta-feira, "sintonizei" na gravação um dia depois. Melhor companhia para um almoço de sábado.

O arraiá de seu Gilberto foi uma verdadeira aula. Acompanhado de um talentoso sanfoneiro, percussão, backing vocal e das filhas Preta e Bela, o baiano homenageou a música nordestina. Além do Rei do Baião, o cantor da Novidade lembrou Sivuca, Dominguinhos e tantos outros.

A convocação para o aniversário já havia mobilizado a internet — essa mesma que ele desvendou tão bem, velejando pelo infomar. Em vídeo, o aniversariante puxa os primeiros versos de Andar com fé. Logo a tela se enche de artistas e amigos. "Certo ou errado até/A fé vai onde quer que eu vá/Oh oh/A pé ou de avião/Mesmo a quem não tem fé/A fé costuma acompanhar/Oh oh/Pelo sim, pelo não."

E assim a gente segue, ao lado daquela que não costuma faiá. Olelê, olalá. Difícil ficar parado. O ritmo pede que as pernas e braços acompanhem. Que a voz siga os versos da letra, imortal como a Asa Branca, hino do Nordeste. Terra que arde inda hoje, mesmo quando distante da fogueira de São-João.

Gil é atual. No momento em que o mundo discute o racismo e a própria humanidade — a essência, aquilo que nos torna humanos de verdade, o que é, o que é? — as canções dele falam de amor, perdão, respeito, negritude, Deus, fé.

“Toda menina baiana tem encanto, que Deus dá/Toda menina baiana tem um jeito, que Deus dá/Toda menina baiana tem defeito também que Deus dá.” E assim terminou a festa Gil. Imortal. Um mero mortal. Como disseram alguns dos que te homenagearam, que privilégio viver na mesma época em que habitas este planeta. Viva! Axé!