O governador Ibaneis Rocha (MDB) liberou ontem a reabertura de clubes recreativos e a retomada de treinamentos pelos times de futebol profissional do Distrito Federal. Mesmo com a maior alta de casos em 24 horas (leia reportagem ao lado), o Decreto nº 40.923 permite que os times voltem a treinar em meio à pandemia de coronavírus desde que atletas e demais profissionais sejam submetidos a exames de covid-19. No caso dos clubes de lazer, além das medidas de higiene, estão proibidos esportes coletivos, utilização de áreas coletivas, como piscinas, churrasqueiras, academias, saunas e afins, e o uso de espaços para a realização de piqueniques ou outras atividades que gerem aglomeração (veja Normas).
Segundo o novo decreto, para os times de futebol profissional, os testes que detectam a presença do vírus devem ser repetidos semanalmente, e os treinos só poderão envolver atividades físicas individuais. Distância mínima de dois metros entre atletas e equipe técnica precisa ser respeitada, além do uso obrigatório de máscara. Outras recomendações básicas de combate à covid-19 também são destacadas na norma do GDF, como a proteção aos grupos de risco. Profissionais com mais de 60 anos ou portadores de doenças crônicas não devem participar dos treinamentos. Médicos, fisioterapeutas e demais profissionais de saúde deverão sempre usar equipamentos de proteção individual durante as atividades com os atletas.
Além disso, cada clube precisará manter um registro de casos suspeitos, testes realizados e diagnósticos confirmados com análise periódica das informações. A Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DF Legal) e a Secretaria de Esporte e Lazer ficarão responsáveis por fiscalizar o cumprimento das medidas de prevenção ao contágio pelo coronavírus nos treinos realizados pelos clubes no DF.
Alimentação e beleza
Sem perspectiva de quando poderão reabrir as portas, donos dos estabelecimentos que seguem fechados estão apreensivos. Como medida de prevenção à transmissão do coronavírus, são três meses sem atendimento presencial. O governador Ibaneis Rocha chegou a anunciar duas datas possíveis para bares e restaurantes: 25 de junho ou 1º de julho. No mesmo dia, também era esperada a volta de salões de beleza.
Contudo, a 3ª Vara Federal Cível barrou a decisão, acatando pedido do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Ibaneis entrou com recurso e foi atendido pelo Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1). Agora, o governo estuda uma nova previsão para o retorno desses estabelecimentos. Em nota, a Subsecretaria de Relações com a Imprensa do Governo do Distrito Federal (GDF) informou que não há definição de datas nem estão decididas as regras e protocolos de funcionamento ou de fiscalização. “Tão logo sejam definidos serão amplamente divulgados.”
A empresária Alba Lúcia Amaral, dona do Café e um Chêro, acredita que a volta das atividades demorará. “Não deve acontecer na semana que vem, como temos ouvido”, lamenta. Mesmo após a autorização, ela vai aguardar para receber os clientes presencialmente. “Eu tiro por mim. Fico meio cabreira com essa situação toda. Saio na rua porque preciso, mas, em shopping, por exemplo, não quero ir tão cedo. Acho que as pessoas vão ficar meio com pé atrás também.”
Mesmo assim, Alba prepara-se para as possíveis normas que serão implementadas. “A gente tem de procurar termômetro para os clientes, dispensador de álcool em gel especial e manter as mesas afastadas. Serão muitas exigências, mas espero que tenham nexo, e não sejam impossíveis”, afirma. Até lá, o café funciona por delivery, o que tem mantido a empresa funcionando. “Tomara que a gente tenha condições de saúde no Brasil para a reabertura”, diz.
Enquanto isso, trabalhadores de salões de beleza estão ansiosos pelo retorno. O sindicato dos salões, institutos e centros de beleza, estética e profissionais autônomos do DF (Simbeleza) estima mais de 20 mil estabelecimentos deixaram de atender aos clientes. “O nosso setor fatura cerca de R$ 400 milhões por mês. É muito dinheiro, e famílias que dependem disso. Se o governador não abrir, será a sacramentação do caos”, avalia o presidente do Simbeleza, Célio Paiva.
Para o diretor executivo da rede Hélio Diff, Gustavo Nakanishi, o período tem sido de experiência e reflexão. A empresa existe há 41 anos e tem 12 unidades no DF, mas esta é a primeira crise de grandes proporções. “A pandemia trouxe, para todos, uma visão de necessidade de mudança. Se existe um ponto positivo em toda a situação, é esse olhar da transformação”, ressalta. De olho na volta, Gustavo providenciou kits descartáveis, que serão oferecidos a clientes e funcionários. Cada um terá máscaras, face shields e aventais. “O nosso grande objetivo é mostrar o quanto o salão é seguro. Só vamos atender a uma cliente por hora, mantendo espaçamento de 2 metros e reduzimos a jornada de trabalho das equipes”, detalha.
Academias
Embora os parques estejam abertos para quem quer fazer atividade física, muitos sentem falta dos treinos em academias. Manter os estabelecimentos não tem sido fácil, sem os clientes. O aluguel de equipamentos como halteres, colchonetes e bicicletas ajuda, mas não é o suficiente, como explica Diego Rodrigues, proprietário da Espaço 16, na Asa Sul. “O nosso público é fiel. Muitos continuam pagando mensalidade, mesmo sem estarem comparecendo, porque vamos jogar esses meses para a frente. Mas muitos estão cancelando, não tem muito o que fazer”, revela.
Sócio de Diego, Oscar Aranha entende que é possível segurar as contas mais um pouco, mas, sem reabrir, o risco de encerrar as atividades é grande. Para receber novamente os alunos, a academia reorganiza o espaço, reduzindo o número de esteiras pela metade, assim como as bicicletas para aula de spinning. Serão disponibilizados álcool em gel e toalhas descartáveis. Na recepção, todos terão a temperatura corporal medida e quem estiver com 37 ºC ou mais, não entrará. “A primeira semana será a mais difícil, porque é de adaptação. Vamos precisar conversar com os alunos para organizar os horários, especialmente pela manhã e no início da noite, momentos, normalmente, de pico”, afirma.
Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), Farid Buitrago, reabrir esses setores é um equívoco. “Precisamos diminuir a pressão em cima do sistema de saúde. A curva está crescente tanto de casos quanto de óbitos”, destaca. “Com a abertura, aumenta-se o risco de contaminação. Sabemos que o vírus é transmitido por gotículas. Em restaurantes, as pessoas retiram as máscaras para comer e conversar; nas academias, para se exercitar”, alerta.
O médico reforça que, se há aumento de infectados, consequentemente, cresce a quantidade de casos graves, com necessidade de internação. “A pessoa que vai para unidade de terapia intensiva (UTI) fica lá por, no mínimo, 10 dias. Ocupa o leito durante um bom tempo, e temos limitação de atendimento”, calcula. “O momento certo para reabrir é quando as taxas de contaminações e de óbitos estiverem estabilizadas ou decrescentes, e Brasília ainda não demonstrou isso.”