Os órgãos de saúde consideram que a taxa de isolamento social ideal deve estar acima dos 70%. O índice máximo que a capital conseguiu atingir, segundo uma empresa de softwares que monitora a geolocalização dos moradores, foi de 65,6%, em 22 de março, três dias após o Executivo local determinar a suspensão das atividades não essenciais. Entretanto, conforme ocorreram flexibilizações das medidas de distanciamento, o valor decaiu gradativamente.
Outro ponto destacado por Paulo é de que a média de reprodução do vírus, que indica para quantas pessoas um contaminado transmite a doença, está em 1,32. “Mesmo com as aberturas, esse índice mantém-se baixo. No fim de abril, ele chegou a 1,92, o maior valor registrado até o momento”, comentou. Segundo o subsecretário, o próximo passo do Executivo é identificar as regiões onde há focos de disseminação da covid-19 e implementar ações específicas.
Controle
A infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) Ana Helena Germoglio defende que o isolamento social é uma das medidas necessárias para evitar o colapso no sistema de saúde. No total, somando as redes pública e privada, a capital tem 672 leitos de UTI exclusivos para pacientes com covid-19 e 493 ocupados. Monitoramento da Secretaria de Saúde mostra que, no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), região que lidera o número de casos e de mortes no DF, 21 das 30 vagas estão ocupadas. Há 20 dias, a unidade tornou-se referência no combate à doença. “A recomendação permanece a mesma desde o início da pandemia: quem tiver condições de ficar em casa não deve sair”, destacou.
A especialista pontua que a população tem dificuldade de internalizar as medidas de restrição. “Infelizmente, muitos só têm consciência da gravidade do problema quando se sentem parte responsável dele. Por exemplo, quando algum familiar adoece ou morre. É como ensinar uma criança como são as coisas dentro de casa”, comparou. De acordo com ela, mesmo com a abertura de leitos, pode haver falta de mão de obra capacitada. “As equipes de saúde que estão no combate à pandemia estão exaustas. É muito estressante, porque, além do cuidado com o paciente, deve-se ter atenção para não se contaminar”, explicou.
Breno Adaid, professor do Centro Universitário Iesb, doutor em administração e especialista em análises de dados e quantitativos estatísticos, explica que, em comparação com outras unidades da Federação, o avanço da pandemia no Distrito Federal é menos problemático. “O fechamento das atividades não essenciais no início dos contágios causou um impacto positivo na evolução dos diagnósticos e os deixou sob controle. Essa aceleração constante que vivemos é esperada, o que não pode acontecer é esse número subir descontroladamente”, alertou.
De acordo com o especialista, a taxa de crescimento de casos na capital é de, em média, 6,5% ao dia. “Essa taxa não pode disparar, como aconteceu em Ceilândia, e as atividades precisaram ser travadas por um período. Caso a gente tenha um crescimento dessa forma, impacta diretamente na disponibilidade de leitos”, esclareceu.
O estudioso ainda alerta que, estatisticamente, daqui para a frente, as chances de se infectar estão, a cada dia, maiores. “Até a gente chegar ao pico, será dessa forma. Por isso, é importante que as pessoas se mantenham em casa. Não é porque aconteceu a flexibilização das medidas, que todos precisam ir às ruas. Se a população achar que está tudo bem, terá muito mais gente com o vírus, o que pode resultar novamente na suspensão das atividades”, alertou.
O Correio entrou em contato com a Secretaria de Saúde e questionou sobre os planos para que o sistema hospitalar da capital suporte o fluxo de pacientes durante o pico da pandemia e sobre quais impactos da flexibilização das medidas de restrição. Entretanto, a pasta não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição.