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Covid-19: Por que a previsão de pico da pandemia muda com frequência?

Desde que o coronavírus chegou ao Brasil, as previsões feitas por especialistas sobre o pico de casos da pandemia muda. Veja o histórico das projeções para o DF

Desde março, o Distrito Federal toma ações com o objetivo de barrar o avanço do coronavírus. No dia 13 daquele mês, o Governo do Distrito Federal (GDF) decretou a suspensão das aulas e, no dia 15, o fechamento do comércio não essencial e de academias. Começava ali a quarentena. 

O DF foi uma das primeiras unidades da Federação a aderir a medidas de isolamento. A preocupação, então, era impedir que o número de infectados com coronavírus subisse a ponto de colapsar o sistema de saúde. 

No início de abril, duas semanas depois de a quarentena começar em Brasília, o GDF previa que o pico da epidemia no aconteceria no fim do mesmo mês, com mil casos da doença. Segundo a previsão, a linha se manteria estável algum tempo e, depois, começaria a cair. Na ocasião, em 2 de abril, havia cinco mortos pelo vírus e 377 casos confirmados. 

No fim de abril, momento estimado para o pico, o DF havia ultrapassado os mil casos de coronavírus, contrariando as previsões do governo feitas no início da quarentena. Na época o subsecretário de Vigilância à Saúde afirmou, em entrevista ao Correio, que o pior ainda não havia chegado. O DF fechou abril com 1.535 casos confirmados da doença.

No início de maio, nova previsão do GDF estimou que o pico dos casos de coronavírus aconteceria em meados de julho. A discussão, então, era quando reabrir o comércio. Na data, o DF contabilizava 2.442 casos confirmados e 37 vítimas da covid-19. Entramos em junho com mais de 10 mil casos confirmados. Hoje (25/6), o DF tem mais de 37 mil contaminados pela covid-19 e 454 vítimas que perderam a vida na luta contra o vírus. 

Por que a mudança frequente na previsão? 


O que é o pico da epidemia


O professor Jonas Brant, epidemiologista e coordenador da Sala de Situação da UnB, explica que o pico é algo que pode ser definido pelo vírus, pela taxa de transmissão da doença até que a maior parte da sociedade esteja infectada, ou pode ser definido pela sociedade, tomando ações de combate à disseminação do coronavírus. 

“A estratégia não é esperar que o pico passe, mas desencadear ações de enfrentamento da epidemia para que o pico seja hoje, o pico é o dia que resolvemos enfrentá-lo, e não quando ele cansar de infectar a gente”, esclarece. 

Brant explica que a ideia de vigilância em saúde é justamente intervir para que a curva de infectados aconteça antes, pois a partir do momento que se reverte a curva, o pico está definido. “Se, a partir de hoje, o número de casos só diminuir, eu atingi o pico, mas isso depende do nosso esforço na tentativa de conter a epidemia”, diz. 

Mudanças na previsão


As mudanças na previsão do pico da epidemia, explica o epidemiologista, acontecem quando a sociedade toma ações. “No início da epidemia, a taxa de duplicação era de cinco dias. No auge do isolamento, era de 15 e, agora, oscila entre 10 e 15. Isso faz com que a velocidade da epidemia seja menor e, com isso, a gente vai empurrando esse potencial pico para a frente”, afirma Brant.

Saiba Mais

A previsão de pico é uma possibilidade, mas a ideia é que esse pico jamais aconteça. É o que explicou o diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan. “Se olharmos para o resto do mundo, se olharmos para as Américas, o pico tem muito a ver com o que fazemos. O que se faz afeta a altura, o comprimento e a trajetória da curva para baixo”, garantiu Ryan, ao ser questionado sobre o Brasil, em entrevista coletiva, nesta quinta (24/6).

O diretor-executivo afirmou que o pico depende do tipo de intervenção do governo em resposta à pandemia, da cooperação da comunidade e do sistema público de saúde. Ryan disse ainda que o vírus se aproveita da má gestão do governo, da falta de educação das pessoas e da falta de empoderamento das comunidades para se espalhar.
 
* Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer