Cidades

Casal denuncia negligência médica após morte de bebê no Hmib

De acordo com a mãe da criança, ela esteve na unidade de saúde três vezes com dores e sangramento, mas foi orientada a voltar para casa

A espera por Aurora Beatriz era a realização de um sonho, mas acabou da forma mais dolorosa para o casal José da Conceição, 32 anos, e Edilene Rodrigues de Sousa, 21. A mulher chegou no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), na manhã do último sábado (20/6), com dores fortes e sangramento. Após exame, foi constatado que o coração da bebê não batia. Ela já havia ido à unidade de saúde outras três vezes, com os mesmos sintomas, mas a orientação médica era sempre voltar para casa. Agora, com a perda da criança, o casal denuncia o hospital por negligência médica.

Ao Correio, Edilene contou que, em 3 de junho, foi a uma consulta do pré-natal em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da Estrutural, onde mora. Lá, a médica informou que ela estava dilatando e que o coração da bebê estava acelerado. A orientação imediata era ir ao hospital fazer alguns exames. Ela estava com 39 semanas. 

Edilene conta que chegou na maternidade do Hmib por volta das 14h40 e foi atendida apenas às 21h. “Falaram que a neném estava bem e pediram para eu voltar para casa. Disseram que as dores que senti eram normais”, disse Edilene. Ela e o marido saíram do hospital às 22h. Em 12 de junho, ela voltou a sentir as dores. “Eram contrações fortes. Como era mãe de primeira viagem, não sabia se realmente era contração. Eram fortes, mas dava para aguentar e segui o conselho médico, fiquei em casa”, lembra a doméstica. 

Na manhã de 15 de junho, ela percebeu um sangramento e voltou para a maternidade. Ao passar pelo exame do toque, informaram que ela estava com um centímetro de dilatação. Os demais exames indicaram que a bebê estava bem. À paciente, mais uma vez, disseram que as dores eram normais e que o sangue era decorrente da dilatação do útero. 

Sem entender e com muita dor, Edilene pediu que o parto fosse induzido. No entanto, ela estava com 40 semanas de gestação. Para que o procedimento fosse realizado, ela precisaria estar com 41 semanas completas. Segundo orientação médica, o casal voltou para casa.

Na madrugada da última quinta-feira (18/6), ainda com dor, ela percebeu que perdeu muito líquido e voltou, pela terceira vez, ao hospital. “Era uma contração atrás da outra. Cheguei chorando, sofrendo muito e pedi para ser atendida logo. Fizeram o toque e eu ainda estava com 1cm de dilatação. Assim, não conseguiria induzir o parto e nem ser internada. Meu marido pediu para fazer a cesárea, mas precisava estar com as 41 semanas completas e eu estava com 40 semanas e três dias”, conta Edilene, emocionada.

Apesar da situação, a orientação médica foi a mesma. “Ela pediu para eu ir para casa, andar, me exercitar e ficar debaixo do chuveiro quente para dilatar. Mesmo com muita dor, passei o dia fazendo exercícios. Comecei a perceber que eu sentia dor, mas já não sentia mais os movimentos da minha filha. Cheguei a sentir o útero expelindo algumas coisas”, lembra.

Dor

Na manhã do último sábado (20/6), o casal voltou ao Hmib e contou o que havia acontecido no dia anterior. Após passar por uma ultrassom e não ouvir os batimentos cardíacos da criança, receberam a notícia de que ela estava morta há, pelo menos, seis horas. “O coração ficou acelerado e parou porque ela forçou para sair. É como se ela tivesse morrido tentando sair”, conta Edilene. 

A doméstica foi internada imediatamente. À tarde, por volta das 15h12, começaram a induzir o parto natural para tirar o corpo. “Eu pedi tanto que tentassem a cesárea. Talvez poderia ter feito algo para trazerem minha filha de volta. Eu tinha essa esperança. Mas enrolaram muito e diziam que tinha que induzir o parto normal”, lamenta. “Colocaram remédio para que eu tivesse dilatação. Passei a tarde inteira sofrendo, gritando de dor”.

Apenas na manhã de domingo (21/6) o corpo da pequena Aurora Beatriz foi tirado. “Fizeram o toque de manhã, mas eu ainda estava sem dilatação. Acabou sendo uma cesárea. Eu falei que isso deveria ter sido feito desde o início. Poderiam ter feito algo por minha filha, mas não fizeram”, diz.

Esperada

Casados há um ano, Edilene e José planejaram a primeira filha. “Estava tudo pronto para a chegada dela. Quarto arrumado, lavei as roupas à mão. Tudo com todo carinho e cuidado, mas, infelizmente, perdemos. A gente acredita em negligência médica, porque fizemos tudo tão certinho e estava tudo bem com ela”, lamenta. 

“Podiam ter internado minha mulher desde a primeira vez que fomos ao médico. A gente tinha o encaminhamento do posto de saúde da Estrutural. Entregamos o papel no Hmib, mal olharam e pediram para a gente voltar para casa. Ela, como mãe, sabia que aquelas dores não eram normais. Tudo o que planejamos foi desfeito”, declarou José.

Justiça

Agora, a família busca por justiça. “Já registrei boletim de ocorrência e queremos respostas para que outros pais não passem pelo que passamos. Espero que a morte da nossa filha não fique parada. Sabíamos que era para ela estar com a gente agora. Foi erro médico”, alega o motorista. “Estamos esperando o corpo da minha ser liberado para fazer o enterro. Depois, com certeza, vamos entrar na justiça”, afirma José.

Atendimento 

Em nota, a direção do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) esclareceu que a paciente esteve na unidade na segunda-feira (15/6), foi avaliada e realizou o exame de Cardiotocografia que mostrou que o bebê estava bem. Como não havia contrações no momento que indicassem trabalho de parto ativo, ela foi orientada a retornar se preciso.

Segundo a unidade, a gestante relatou que, na sexta-feira (19/6), o feto não estava mexendo e somente no sábado (20/6) procuraram assistência médica novamente no Hmib. Ao ser avaliada foi diagnosticado o óbito fetal. A gestão informou ainda que, não só a gestante, mas os acompanhantes tiveram atendimento multidisciplinar incluindo psicólogos e psiquiatra.

Quanto à indução, o Hmib disse que é o protocolo mundial e pode demorar de 24 a 48 horas, visto que é melhor para história e prognóstico obstétrico não se fazer cesariana para retirar feto morto, raras exceções

Quanto ao atendimento anterior, ainda em 15 de junho, diz o texto: “cabe ressaltar que o protocolo da SES-DF, é que só se interna no momento de trabalho de parto ativo, que não era o caso naquele momento da paciente em questão". 

Arquivo pessoal - mulher grávida
Arquivo pessoal - homem segurando macacão de bebê