Cidades

Segundo estudo da UnB, pandemia fez 60% dos brasileiros alterarem viagens

Pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB) revela ainda que 36% cancelaram as viagens

Correio Braziliense
postado em 22/06/2020 15:15
A estudante, Yasmin Gurgel, 21, teve que retornar mais cedo dos Estados Unidos por medo de ficar presa no paísA pandemia causada pelo novo coronavírus afetou diretamente o turismo entre os brasileiros. Uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) que alcançou 1.136 participantes revela que, entre os que planejavam viajar este ano, 60% alteraram os planos de viagem. Desse total, 56% pediram adiamento e 36% cancelaram o passeio. Ainda assim, o estudo aponta que os impactos também vão ocorrer em 2021, porém com menor intensidade. (Leia abaixo o perfil dos entrevistados)
 
De acordo com a professora e coordenadora do  Laboratório de Estudos em Turismo e Sustentabilidade (LETS), Helena Costa, a equipe buscou entender a mentalidade e reação dos viajantes. "Se está cancelando, se está adiando, quais são as preferências, como é a percepção de riscos, o que seria importante para voltar a viajar”, comenta. A docente reforça que a pesquisa foi um esforço interdisciplinar na UnB e que fez pontes com o setor produtivo do turismo. “Devido ao diálogo estabelecido, conseguimos compreender quais as necessidades da sociedade, das empresas e do mercado” aponta.
 
A estudante Anne Campos, 25, não conseguiu adiar uma passagem que havia comprado para o Rio de Janeiro, onde iria participar de um aniversário. Além disso, ela teve a passagem cancelada sem aviso prévio da empresa responsável. “Comprei a passagem antes da pandemia, mas quando as restrições começaram e assim que cancelaram todos os eventos, e não iria mais poder participar do aniversário, solicitei, no início de maio, a troca da data da passagem. Mesmo assim, fiquei sem retorno da companhia aérea”, afirma.
 
Sem retorno e com as incertezas do que fazer, Anne decidiu viajar para não perder o dinheiro que investiu. “Mesmo tendo que ficar trancada em casa com a  família, tentei fazer o chek-in, mas fiquei sabendo de última hora que a passagem foi cancelada pela empresa. Agora, continuo sem respostas sobre a minha viagem, não sei se irão alterar a data, se irão me ressarcir, agora tenho que esperar a resposta deles”, completa. 
 
Já a estudante Yasmin Gurgel, 21, teve a viagem interrompida devido às medidas de prevenção para conter o avanço da covid-19. Ela e mais cinco pessoas da família viajaram para os Estados Unidos (EUA), em março deste ano, para realizar um cruzeiro. No entanto, por causa do vírus, ela e a família tiveram que mudar o roteiro da viagem e voltar ao Brasil antes da data prevista. "A viagem planejada era para 21 dias, porém, nós ficamos só 14. A intenção era ficar o restante dos dias em Orlando. Mas, enquanto estávamos a bordo, ficamos sabendo que os parques da Disney iriam fechar as portas, o hotel já estava pago, carro reservado e os ingressos comprados. Por fim, recebemos o reembolso e ficamos com o crédito da entrada dos parques”, conta.  
 
A estudante conta que a família achou mais seguro o retorno mais cedo, mesmo com os prejuízos, devido à maior exposição ao coronavírus durante a viagem. “Nós achamos mais prudente voltar antes do previsto, pois ficamos com medo de ficarmos presos no país e não conseguir voltar para o Brasil. Compramos outra passagem e perdemos a passagem que havíamos comprado antes de ir, pois usamos milhas para comprá-las”. 
 
Por meio de coleta on-line, o estudo abrangeu um público composto, majoritariamente, pelo público feminino na faixa média de 41 anos, com nível superior completo ou com pós-graduação, e com alta experiência de viagens, especialmente nacionais. Nas questões, a pesquisa buscou identificar como o turista percebe a pandemia e seus riscos, se acredita haver maior exposição durante esse período e a intenção de manter os planos de viagens.
 
Segundo Jéssica Farias, doutoranda do Instituto de Psicologia (IP/UnB) e participante do estudo, a leitura científica oferece informações à população num período de incertezas. “Não sabemos quando a pandemia vai acabar, quando o risco vai diminuir e, por isso, fizemos perguntas para captar a percepção de riscos, do grau de severidade da doença”, diz.
 
Para Jéssica, o estudo reflete o comprometimento da ciência para emissão especializada de informações. “Quando fazemos uma pesquisa e falamos com mais de mil pessoas sobre determinado assunto, já não fica mais na base de nossa opinião. Conseguimos, assim, inferir medidas com maior proximidade com a realidade estudada”, afirma.
 
“A contribuição do estudo foi, principalmente, mostrar às operadoras e agências de viagens, além de gestores de políticas públicas e autoridades locais ou nacionais, que o mais importante nesse momento, para o turista, é a segurança”, destaca a doutoranda do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS), Anastasiya Golets, também participante da pesquisa.
 

Planos para 2021

De acordo com o levantamento, no próximo ano, os números serão bem diferentes: dos 82% respondentes que fizeram planos de viagem para 2021, apenas 23% havia feito alterações e 51% deste número optou pelo adiamento diante de 12% que cancelou as viagens. Em relação ao ano que vem, apareceu uma forte indecisão sobre a manutenção dos planos e, entre os planos revelados, a maioria era para viagens a destinos internacionais.
 
Segundo a docente Helena Costa, o público analisado valoriza novas aventuras e experiências genuínas, em vez de locais considerados por eles como excessivamente turísticos. Apesar disso, a insegurança sentida – em razão dos riscos à saúde – destaca-se entre os aspectos que podem influenciar a intenção de realizar turismo. “Em segundo lugar, eles ressaltam a necessidade de uma vacina contra a covid-19, seguida por estabilidade econômica, além de protocolos sanitários”, acrescenta.
 
Para Helena, o resultado da pesquisa oferece oportunidades às agências de turismo para a readaptação ao novo cenário. "Quando você fala em cancelamento, existem tarifações e reembolsos, existe uma lógica. Quando se fala em adiamento, ainda existe a promessa dessa viagem, de que a pessoa vai fazer num futuro próximo. Para o setor que organiza as viagens é uma expectativa importante”, explica.
 
A pesquisa foi apresentada no painel Impactos da pandemia sobre operadores e viajantes brasileiros, apresentado em webinário organizado pela Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa), em parceria com o LETS e com a consultoria em inovações de turismo Amplia Mundo. A Braztoa e o Ministério do Turismo colaboraram com a divulgação do instrumento de pesquisa. O estudo integra as ações desenvolvidas pela universidade para o enfrentamento da pandemia.

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