A velha vaidade imposta no questionamento “espelho, espelho meu” encontra, na modernidade, espaço virtual. As multifacetadas das redes sociais atendem às mais variadas demandas e, para encher as páginas de fotos, vale aproveitar, também, a fofura dos bichinhos de estimação. Não tem sido incomum se deparar com vários perfis encantadores. A bicharada está à solta na internet e em busca de um elogio ou risada do outro lado da telinha. A atenção do tutor dispensada ao seu pet, seja nos momentos de cumplicidade, seja de exposição, é benéfica para a saúde dos dois.
Em diversos casos, a psicologia indica o contato entre humanos e animais de estimação, conforme explica Raquel Estrela, psicóloga clínica. “O ser humano se apega ao animal, pois ele reconhece que este bicho tem o mesmo amor, ou até maior, por ele também. Então, ele acaba se tornando um ente da família, sobretudo os cachorros e gatos, que demonstram maior empatia. O vínculo formado é muito grande.”
O afeto dos bichinhos tem efeito terapêutico, mas não substitui tratamento em casos de transtornos. “Ele é um aliado no tratamento, assim como uma medicação, mas que não faz o trabalho sozinho. É necessária a psicoterapia. Mas eles são muito úteis em diversos aspectos, até para ensinar as crianças que desejam ter um animal sobre ter responsabilidade”, diz Raquel.
Ela alerta, porém, que a exposição precisa ser comedida, pois pode mascarar distúrbios que devem ser tratados clinicamente. “Dentro da psicologia, a exposição excessiva pode até se tornar patológica. Sempre digo que tudo em excesso faz mal.” Portanto, o equilíbrio é buscado em qualquer situação da vida, e as atividades digitais não podem roubar espaço das cotidianas, acredita a psicóloga.
Com a bolinha toda
Quem tem um bichinho em casa sabe o quão divertida pode ser a missão de criá-los. E foi para mostrar a rotina de Luke e de Sentinela que a comunicóloga Carina Vasconcelos, 29 anos, criou um perfil no Instagram dedicado aos irmãos. “É engraçado mostrar a diferença dos dois, pois eles são o oposto um do outro, e isso gera muita situação curiosa. Também aproveitamos para lembrar a importância dos cuidados veterinários, pois Luke precisa de acompanhamento constante”, conta.
Além das situações divertidas, Carina aproveita a página para levantar a bandeira de causas importantes. “Sentinela foi adotado, então sempre estamos falando sobre a importância da adoção. Já resgatamos outros bichinhos e fazemos vaquinhas para o tratamento. Por essas ações, mais pessoas passaram a conhecer o perfil dos dois. Uma vez, uma pessoa me parou e perguntou se eu era a Carina, dona do Luke e do Sentinela”, diverte-se.
A advogada Nathalia Ohofugi, 24, arrumou em seu cachorrinho uma forma de lazer durante a quarentena. “Há seis meses, peguei o Kadu e, com o isolamento, não pude apresentá-lo aos meus amigos. A página no Instagram foi a maneira que encontrei de colocá-los em contato. Além disso, foi uma forma de me distrair durante essa pandemia e me manter mais ocupada”, relata.
Nathalia segue a linha low profile em sua rede pessoal e não tem pretensão de alcançar grandes números com o perfil de Kadu. “Fiz para os meus amigos e familiares conhecerem e acompanharem a rotina dele. E meus seguidores são mesmo meus amigos e os amigos do meu irmão. Nós dois postamos fotos lá e não seguimos nenhum roteiro ou programação. É assim: quando o Kadu faz alguma coisa bonitinha ou engraçada, a gente divide com os amigos.”
Exótico
As redes também valem para mostrar todas as curiosidades envolvidas na criação de um bichinho exótico, como o de Bruna Timponi, 32. A nutricionista é tutora da Olívia Bisteca, uma porquinha de pouco mais de 1 ano. “Eu postava coisas dela e dos outros filhos na minha rede – temos nove cachorros e quatro gatos –, mas não foi o suficiente. As pessoas ficavam curiosas e perguntando sobre os cuidados e a rotina com um porco, então, surgiu a necessidade de fazer uma conta só para ela”, explica.
Bruna garante que é uma delícia ter Olívia, mas não indica que todos tenham. “Eu sempre gostei muito de bicho e tinha o desejo de ter um porquinho. Estudei muito antes de pegá-la, temos um hotel para cachorros, e os cuidados com um porco são muito diferentes, mesmo com minha prática. Ela é muito carinhosa, extremamente inteligente e manipuladora, tem sua personalidade. Apesar de tudo, ela se dá superbem com os irmãos e, quando o hotel está cheio, sabe reconhecê-los. O mesmo ocorre com os gatinhos, que a adoram”, conta.
Outro filhotinho que roubou um pouquinho dos holofotes do tutor foi Kobe, um buldogue “muito fofinho”, segundo Vitor Gravia, 23. “Desde que ele chegou aqui em casa, há quatro meses, eu e minhas irmãs, Geovanna e Rafaela, passamos o dia fotografando e filmando. Elas deram a ideia de criar um perfil só para ele, e eu topei. Tudo é feito espontaneamente; quando ele faz gracinhas, a gente aproveita o momento”, conta o estudante.
Mesmo com o curto período de experiência, Vitor já traçou a forma de engajamento do público de Kobe. “A maior parte é de amigos meus e das minhas irmãs, mas já tem bastante gente que não conhecemos. Um dia desses, uma marca entrou em contato conosco e ofereceu biscoitinho para ele em troca de postagens. O Kobe já começou a carreira de blogueiro e teve até esse ‘recebidos’ (presentes enviados por empresas)”, diverte-se.
*Estagiária sob supervisão de Sibele Negromonte
Aprimorando o clique
Que tal aproveitar o maior tempo em casa e treinar umas poses com o seu pet, também? A adestradora Marcela Marques dá dicas para melhorar o clique com o seu bichinho.
Recompensa
- Sempre trabalhe com a adestramento positivo, aquele que oferece uma recompensa ao animal quando ele obedece ao comando.
Petisco
- Posicione atrás da câmera um petisquinho que atraia a atenção do cachorro e direcione o olhar dele para a foto.
Ambientação
- Quando fizer fotos em um ambiente diferente, deixe o animal vasculhar. Ele precisa se familiarizar com o local para se sentir confortável.
Preparação
- Disponibilize água, comida, petiscos e um local adequado para o cachorro fazer suas necessidades.
Observação
- O animal dará sinais de que está cansado da missão, fique atento se: ao chamar, ele virar a cara; começar a arfar em demasia, ficar ofegante com a linguinha para fora; se ele começar a se coçar ou se lamber, sobretudo as genitais; e se começar a bocejar. Todos esses são sinais de estresse.
Proibido
- O animal não deve ser exposto ao castigo por não obedecer ao comando. O treinamento de adestramento deve, sempre, ser realizado com tranquilidade e em troca de recompensas, sejam quais for: petisco, carinho, brinquedo. Essa recompensa deve ser analisada de acordo com as preferências do animal.