Correio Braziliense
postado em 18/06/2020 21:50
Dados do grupo independente de cientistas Covid-19 Brasil, que reúne pesquisadores de várias instituições, mostram que o número de infectados no Distrito Federal é três vezes maior do que o apontado pelos números oficiais. Segundo o grupo, o DF atualmente tem cerca de 75 mil casos, ao invés dos 28 mil confirmados.
Segundo o professor Mauro Niskier Sanchez, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Covid-19 Brasil, essas predições são feitas com base no número de óbitos. “Se estima quantas pessoas estão infectadas para que se observe o total de número de óbitos atuais; é como uma conta de trás pra frente. Com essa metodologia, se encontra o número total de infectados, não apenas os testados”, explica.
A taxa de letalidade usada é a verificada pela Coreia do Sul, que conseguiu testar em massa sua população e portanto tem a taxa mais próximo do real.
Neste gráfico, a linha azul representa o número de confirmados oficialmente, que hoje (18/6) é de 28.521. A linha vermelha é a estimativa do número real de casos, que para o mesmo dia é de 75.340.
“Nessa estimativa, se leva em conta muitos fatores, como a estrutura etária, a vulnerabilidade da população e outros indicadores, tudo entra na conta. Com base nisso, podemos ver o quão longe o DF está da imunidade de rebanho, pois 70 mil para 3 milhões, que é a população total daqui, está muito longe de conseguirmos 70% da população”, ponderou Mauro.
Os cientistas acreditam que o coronavírus deixa de circular na sociedade quando 70% das pessoas já tiverem entrado em contato com o vírus, o que no DF seria aproximadamente 2 milhões e 100 mil pessoas.
“O número de infectados no DF é crescente, mesmo para os dados oficiais a curva está crescendo. Nesse contexto, me preocupa a abertura das feiras populares, como a Feira dos Importados. Mesmo com cuidados de marcações no chão, para distanciamento, as pessoas se aglomeram”, notou o professor.
Segundo ele, a abertura das feiras é ainda pior porque são espaços fechados, que facilitam a proliferação do vírus, diferentemente da abertura de parques ou do Eixão do Lazer. Mauro também faz parte da Sala de Situação da UnB, que fornece dados para o Governo do Distrito Federal (GDF).
“Apesar do número de infectados estar crescendo, se observamos os dados da Sala de Situação, vemos que está crescendo num patamar confortável, dobrando a cada 14 dias. Isso até deve ter deixado o governo confortável pra abrir o comércio”, disse. No entanto, o pesquisador alerta para as diferenças da propagação do coronavírus entre a área central da cidade, como Plano Piloto, Lago Sul e Lago Norte, e as Regiões Administrativas mais afastadas, como Ceilândia, Brazlândia, Estrutural e Riacho Fundo.
“Se, no período de um mês, triplicam os casos na região central, na periferia ele multiplica por 10 ou 15 vezes”, afirmou Mauro. O professor alerta que isso é um problema, já que as pessoas dessas regiões dependem exclusivamente do sistema público de saúde e podem ficar desassistidas.
Brasil
A subnotificação de casos é maior no Brasil do que no DF, segundo os dados do grupo Covid-19 Brasil. Enquanto o número oficial de infectados em todo o território nacional é de 980 mil, a previsão afirma que na verdade existem mais de 7 milhões de infectados.
“Estão todos na expectativa de que, nos próximos dias, o Brasil passe de 1 milhão de infectados, quando na verdade já passamos essa marca há muito tempo”, disse o professor. “A subnotificação é um problema da própria epidemia, que não se manifesta em muitos casos, mas precisamos ficar de olho nos dados para tomarmos as decisões certas com responsabilidade”, concluiu.
*Estagiário sob supervisão de Adson Boaventura
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