“Basta acreditar, sou teu anjo aqui!”. Esse é o trecho da música da banda Anjos de Resgate que inspira diariamente a técnica de enfermagem Maria das Graças Oliveira, 53 anos. A profissional de saúde trabalha no Hospital Universitário de Brasília (HUB) tratando pacientes com a covid-19. Uma relação que vai além dos procedimentos médicos e passa pelo carinho, cuidado e afeto. Maria das Graças sai de casa todo dia com uma certeza: “Eu vou ser o anjo de alguém hoje”, diz. Assim como a técnica de enfermagem, médicos e enfermeiros, entre outros profissionais, são o único contato direto dos pacientes infectados pelo novo coronavírus. Em meio aos longos plantões, ao trabalho árduo e ao risco da contaminação, esses já reconhecidos heróis encontram espaço para a empatia e o amor ao próximo.
“Quando chegamos e vemos o paciente, nos colocamos no lugar dele. É como se fosse o nosso filho, o nosso pai, o nosso avô, o nosso marido, a gente vê como um parente. A maneira como nós cuidamos é como nós gostaríamos que fôssemos cuidados. Eu, por exemplo, amo tomar banho. Então, na hora do banho deles, na medida do possível, capricho. Lavo o cabelo, faço a barba, corto a unha, passo creme, para ficar todo mundo cheiroso”, comenta Graça.
A técnica de enfermagem trabalha na área da saúde há 12 anos e tem um carinho especial pelos pacientes. “Meus pais já faleceram. Meu pai ficou cinco meses em uma unidade de terapia intensiva (UTI) e ele foi muito bem cuidado. Eu me sinto, no mínimo, com a obrigação de fazer a mesma coisa. É como se eu recebesse um abraço da minha mãe e do meu pai de volta”, destaca.
Graça contagia a todos com a sua alegria e foi a responsável por conduzir Rosilaine Bueno, a primeira paciente da covid-19 a receber alta no HUB, na saída do hospital. A técnica é chamada carinhosamente de Tia Graça. Para ela, além de ver uma pessoa recebendo alta, a reciprocidade é o que a fortalece. Algo demonstrado em palavras e gestos. “Quando o segundo paciente (com a covid-19) saiu, ele levantou da cadeira de roda e me pediu um abraço. Ele falou que jamais esqueceria de mim e de toda a equipe”, relembra. “Isso, para a gente, é uma vitória. É o que me faz levantar todo dia às 5 horas da manhã e chegar com alegria, dando o meu melhor”, completa.
Uma UTI diferente
Gustavo Mendonça Wagner, 39, é coordenador médico da UTI do Hospital Santa Helena. Em cerca de 15 anos de profissão, Gustavo viu o poder do atendimento humanizado na cura de seus pacientes, algo que tem ganhado ainda mais força no combate ao novo coronavírus. “A UTI da covid-19 é um pouco diferente de uma UTI normal. Os pacientes ficam totalmente afastados das famílias. É algo difícil, e a gente tentar amenizar isso”, explica.
Na medida do possível, a equipe médica se esforça para suprir a falta do carinho, de ter um familiar ao lado. Para isso, ouvir e conversar se tornou algo fundamental no dia a dia na UTI. “A gente pergunta para o paciente o que é importante para ele. Às vezes, é uma comida, ou ele quer ver um sobrinho, um neto. Fazemos o que podemos, viabilizamos videochamadas e tentamos humanizar ao máximo este momento tão difícil”, ressalta. Para Gustavo, as ações são fundamentais para proporcionar um verdadeiro acolhimento, pois, em períodos como estes, uma palavra de afeto faz toda a diferença. “A gente tenta dar esse apoio e ser essa família que eles não têm naquele momento”, conta.
Comunicação
Do lado de fora do hospital, familiares também dependem da equipe médica para saber como os pacientes estão. O profissional, muitas vezes, é a ponte entre os dois. Por meio da tecnologia, a equipe tenta levar para os leitos um pouco do carinho dos parentes aos pacientes internados. “Nós trabalhamos muito tempo com humanização em terapia intensiva e, cada vez mais, com a presença de familiares dentro das unidade. Mas, no tratamento da covid, essa possibilidade não existe. Então, tivemos que nos reinventar”, afirma o coordenador das Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Santa Luzia e do DF Star, Marcelo Maia.
A equipe do hospital passa, diariamente, o estado de saúde dos pacientes para a família. E, para aqueles que estão conscientes, ainda é possível conversar diretamente por meio de chamadas de vídeo e manter o contato pelo celular. Uma ligação que, muitas vezes, é viabilizada pela mão de profissionais, que, assim como a família, torcem pela alta médica. “Na pandemia, vários pacientes chegam ao mesmo tempo, com fragilidade física, além da angústia dos familiares. Cada alta para nós é, com certeza, um motivo de muita alegria. É uma vitória”, enfatiza Marcelo.
Gratidão
A certeza que de que o afeto dentro das unidades faz diferença está no relato de quem enfrentou a covid-19. A farmacêutica Caroline Sidou, 59, passou uma semana no Hospital Santa Lúcia lutando contra a doença. Para ela, um momento único em que pôde contar com o apoio de bons profissionais. “A gente fica sozinha, sem receber visita, mas em nenhum momento eu me senti abandonada. Eu fui muito bem amparada”, garante.
Caroline destaca a atenção que recebeu de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas durante o período de internação. Para ela, a dedicação e o carinho estavam por todos os lados, até mesmo em uma simples ajuda para ir ao banheiro. A farmacêutica conta que a equipe sempre mantinha o otimismo e a lembrava de que ela era capaz de vencer a doença. “Essa postura do profissional é muito importante para a nossa recuperação, para termos força”, diz. “Eu não amanheço um dia sem recomendá-los a Deus. São heróis”, completa.
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