Cidades

Gangues rivais em ''guerra'' geram onda de ataques violentos em Sobradinho

Integrantes dos grupos foram presos na Operação Zé Pequeno, em alusão ao filme brasileiro Cidade de Deus. Cinco homens estão detidos e três adolescentes estão apreendidos

Integrantes de duas gangues que declararam guerra pelo “domínio” do acampamento Dorothy Stang, em Sobradinho, acabaram presos durante a Operação Zé Pequeno (leia Cidade de Deus), da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho). Os grupos rivais iniciaram uma onda de ataques violentos na região, gerando aos moradores locais momentos de terror. As prisões e apreensões ocorreram entre quinta (11) e esta sexta-feira (12/6). 

As gangues se consolidaram em 28 de março, por alguns residentes do acampamento. Um dos grupos, organizado por Adriano Rocha, conhecido como “Barata”, e os irmãos Gilmar e Rogério Alegre, tentaram estabelecer uma espécie de milícia e passaram a controlar a região, cobrando moradores pela “segurança” e pagando motoboys para realizar rondas. A segunda quadrilha, formada por Afrânio dos Santos, vulgo “Maronfa” e Marcos Cunha, tentava comandar a área para estabelecer um ponto de tráfico de drogas.

Segundo o delegado Hudson Maldonado, chefe da 13ª DP, as duas gangues disputavam o local por meio de várias tentativas de homicídio sucessivas, em uma batalha pelo “comando” da região. “Os acusados realizaram cerca de cinco ataques, que passaram a ser apurados pela nossa delegacia. Já de início, percebemos que não eram crimes isolados e conseguimos confirmar a hipótese”, explica.

O investigador esclarece que a equipe encontrou dificuldades em apurar os casos com os moradores locais. “Por se tratar de uma comunidade mais fechada, as pessoas não queriam falar. Elas também estavam aterrorizadas com a onda de violência que tomou conta do acampamento. Mas mantivemos nosso trabalho de campo, observando os integrantes e buscando provas para as prisões”, detalha. 
 
 

“O grupo liderado pelos irmãos já tentavam manter a milícia no espaço, cobrando taxas de moradores, usando radiocomunicadores e terceirizando as ‘rondas’ nos espaços com motoboys, que não tinham qualquer tipo de envolvimento com os crimes realizados pelos grupos”, acrescenta. 

O estopim da disputa entre as quadrilhas ocorreu em 2 de junho, quando um dos motoboys contratados pelos irmãos Alegre sofreu uma tentativa de homicídio. Afrânio “Maronfa” e um adolescente, que se intitulava como “Bang”, atacaram a vítima. Eles atiraram e tentaram esfaquear o motoqueiro, que conseguiu fugir e informar o crime para a gangue da milícia. 

Ao saberem sobre o ataque, Gilmar e Rogério Alegre, juntamente com Adriano “Barata” buscaram uma revanche. Se deslocaram para a área do acampamento onde vivia Afrânio e Marcus Cunha. No caminho, decidiram procurar por “Maronfa” na residência de uma ex-namorada — que não mantinha mais contato com o suspeito ou integrava a gangue. 

O trio adentrou a casa e, ali, encontrou Julia e o irmão, Gustavo. Ao questionarem sobre o paradeiro de Afrânio, a jovem afirmou que não se relacionava mais com ele. “A vítima explicou que não sabia mais do acusado, e que até estava namorando outro rapaz. No entanto, houve uma situação de estresse no local. Então, os suspeitos atiraram contra Julia e Gabriel, que eram inocentes e não tinham nada a ver com a disputa que ocorria na área”, frisa o delegado Hudson Maldonado. 

Com as provas coletadas contra as gangues, os agentes realizaram as prisões dos suspeitos, que já tinham passagens pela polícia. Todos os envolvidos vão responder pelos crimes de associação criminosa, tentativa de homicídio, homicídio e corrupção de menores, com penas que poderão chegar a 30 anos de reclusão. Outros três adolescentes, que integravam o grupo que visava o tráfico de drogas, também foram apreendidos. 

Zé Pequeno

De acordo com o delegado Hudson Maldonado, o operação ganhou o nome de “Zé Pequeno” em alusão ao filme Cidade de Deus, criado a partir do livro homônimo de Paulo Lins (1997). O roteiro foi realizado por Bráulio Mantovani, com direção de Fernando Meirelles e Kátia Lund. O lançamento ocorreu em agosto de 2002.

“Quando tomamos ciência da onda de violência que as duas gangues realizavam no acampamento Dorothy Stang, na mesma hora lembrei do filme. Parecia a guerra retratada entre Zé Pequeno e Mané Galinha. Tinha até a versão do Trio Ternura, que eram os adolescentes que eram aliciados para o tráfico de drogas”, comenta. 
 
 

Cidade de Deus

O filme brasileiro acompanha a história de vários personagens que moram na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. O narrador-protagonista é o fotógrafo Buscapé, que é criado no contexto violento da cidade, mas buscava um caminho diferente. Na mesma idade do jovem, havia Dadinho e Bené, que se envolveram no mundo do crime. O primeiro, após crescer, foi batizado como “Zé Pequeno”. 

Na fase adulta, Zé Pequeno comanda o tráfico de drogas de uma área da Cidade de Deus, mas não consegue se relacionar com nenhuma mulher. Já o amigo dele, Bené, é um traficante querido pelos moradores e que, depois de começar a ter uma “interação” com um usuário da Zona Sul, passa a namorar um jovem e decide largar a criminalidade e a cidade. 

Frustrado, Zé Pequeno tenta seduzir a companheira de Mané Galinha, mas é rejeitado. Então, ele estupra a mulher em frente ao marido, que decide buscar vingança. É quando ocorre uma guerra na Cidade de Deus, que acaba sendo retratada pelas lentes de Buscapé.