Cidades

Casos dobram cada vez mais rápido

Monitoramento feito pela UnB mostra que a quantidade de diagnósticos da covid-19 leva, atualmente, menos de 10 dias para duplicar no Distrito Federal. Especialistas alertam que esse cenário pode provocar a falta de leitos para tratamento da doença


A quantidade de casos confirmados do novo coronavírus está duplicando de forma mais rápida. Ontem, o Distrito Federal ultrapassou a marca de 20 mil infectados e registrou a primeira morte de paciente com menos de 20 anos: uma bebê de 1 ano e 4 meses (leia reportagem abaixo). Monitoramento da Sala de Situação da Universidade de Brasília (UnB), que acompanha a evolução da doença na capital, mostra que o número de diagnósticos da covid-19 leva 9,6 dias para atingir o dobro, no cenário atual. O ideal, segundo avaliação dos pesquisadores, é que esse aumento ocorresse a cada 10 dias. Especialistas alertam que a flexibilização das medidas de restrição e o descumprimento das orientações de higiene impactam nos dados.

O DF atingiu o tempo de duplicação abaixo do esperado no domingo. A última vez que a taxa apresentou tanta redução foi em 20 de maio, quando o período para que os casos dobrassem chegou a 9,7 dias. Em 13 de abril, o índice apresentou o melhor resultado, quando a capital levava mais de 18 dias para que a quantidade de infectados sofresse esse aumento.

Além do acompanhamento da UnB, outro estudo comprova que a velocidade da infecção na capital vem aumentando continuamente. Pesquisa da Companhia de Planejamento (Codeplan), divulgada na terça-feira, mostra que o índice de crescimento dos casos subiu para 7,1% na semana entre 31 de maio e 6 de junho. Isso significa, segundo a análise, que a quantidade de casos de coronavírus na capital demora de 10 a 11 dias para dobrar.

De acordo com a Codeplan, na semana anterior, entre 24 e 30 de maio, a taxa era de 5,2% ao dia, ou seja, a quantidade de casos levava de 13 a 14 dias para duplicar. Entretanto, a companhia ressalta que o aumento não foi suficiente para indicar uma nova tendência em escala logarítmica, usada para fazer o cálculo.

Causas
O epidemiologista Mauro Sanchez, da Sala de Situação da UnB, explica que o tempo de 10 dias, considerado o desejado pelos pesquisadores, foi definido em consenso pelos estudiosos. “Quando os casos duplicam a cada 10 dias, a velocidade de aceleração não é muito rápida. Isso te dá um tempo para que o serviço de saúde absorva (a demanda). Abaixo desse período, é um volume grande (de pacientes) em um pequeno intervalo de tempo. Entretanto, há internações que duram mais do que esse período”, destaca.

De acordo com o especialista, essa taxa, além de ser uma referência da disseminação do coronavírus, é uma indicação de que o sistema de saúde pode começar a ter problemas na disposição de leitos para os pacientes. “Apesar disso, Distrito Federal aumentou a capacidade de vagas em unidades de terapia intensiva (UTIs), com habilitação na rede privada e com o hospital de campanha. Porém, o período de duplicação é um alerta de que está entrando muito doente em um curto período de tempo. O ideal é ficar atento”, reforça.

Para o epidemiologista, a flexibilização das medidas de restrição, como a abertura do comércio e o relaxamento das pessoas quanto às orientações sanitárias, contribuiu para que o período de duplicação da taxa de infecção tenha diminuido. “Educar a população é fundamental. A gente está se arrastando na primeira onda da doença, e só se começa a perceber o pico quando os casos começarem a diminuir”, frisou.

Por meio de nota oficial, a Secretaria de Saúde informou que esse crescimento é esperado. “A realização da testagem rápida em larga escala aumentou a capacidade de detecção e tem representado em torno de 40 a 50% do total de casos detectados”, destacou o texto. Além disso, a pasta reforçou que usa metodologias de estudos internacionais adaptadas para os parâmetros do DF e que realiza projeções semanalmente.

Isolamento social
Enquanto a velocidade dos diagnósticos da covid-19 cresce, o isolamento social cai. Atualmente, o Distrito Federal está em 14º lugar no ranking das unidades da Federação que mais obedecem à medida de restrição. A taxa na capital é de 39,35%, quase metade do valor ideal considerado pela Secretaria de Saúde no início da pandemia, que era de 70%.

Com 47,83% de taxa de isolamento social, Rondônia lidera o ranking. Na segunda colocação, está o Acre, com índice de 43,91%, e, em terceiro, o Amapá, onde 43,18% da população obedece às restrições. Por outro lado, Tocantins (34,59%), Goiás (35,36%) e Mato Grosso do Sul (36,33%) apresentam piores resultados. O percentual é medido por uma empresa de softwares, que verifica geolocalização de aparelhos eletrônicos, como celulares.