A distância não significa não estar junto, muito pelo contrário. No meio da pandemia da covid-19, manter-se longe do outro se tornou um grande ato de amor. Na quarentena, casais precisam encarar a distância como uma forma de segurança. Se, antes, os encontros eram diários, e estar perto um do outro fazia parte da rotina, agora as ligações de vídeo ganham espaço e os encontros exigem cuidados. Perto do Dia dos Namorados, casais contam como têm sido lidar com um relacionamento em meio ao isolamento social.
Os estudantes Pedro Henrique Carniello, 19 anos, e Ana Rita Marrêta Fontenele, 18, estão há quase dois anos juntos. Os jovens estudam na mesma universidade e costumavam se ver diariamente. “A gente se encontrava no intervalo e depois das aulas. Estávamos juntos sempre”, conta Pedro. Devido à covid-19, as aulas foram suspensas e os encontros passaram a ser feitos com uma série de cuidados e com bem menos frequência. Ana Rita é do grupo de risco e isso deixou o casal ainda mais apreensivo. “Aqui em casa temos três pessoas que têm asma, contando comigo, e o meu pai tem pressão alta. As poucas vezes que nos encontramos, usamos máscara o tempo todo, o álcool em gel fica do lado e mantemos uma distância entre nós. Andamos nos vendo, com dois metros de distância e raramente”, comenta a estudante.
Pedro, sempre que possível, encontra formas de demonstrar o carinho pela namorada. “Como a gente mora bem perto um do outro, levo alguma coisa para ela, alguma comida, e ela também traz, mas sempre mantendo a distância e tomando os devidos cuidados”, ressalta o namorado. Para Ana, uma situação difícil, porém necessária. “Eu e o Pedro sempre amamos a companhia um do outro. Não poder abraçar e segurar a mão é difícil para mim”, afirma. Sobre o fim da quarentena, a jovem deseja: “Quero abraçá-lo, acabando com toda a saudade, quero poder cozinhar junto e rir das nossas besteiras, ficar o tempo todo com ele”, destaca.
A instrutora e palestrante Elaine Toledo, especialista em relacionamentos, ressalta que, mesmo à distância, é possível manter a chama do amor com pequenos gestos no dia a dia. “O relacionamento pode ser fortificado, despertando no outro o encanto. Isso pode ser feito por meio de uma boa conversa, prestigiando o outro, ouvindo as questões dele, as preocupações”, cita. Para ela, os casais também podem ousar da criatividade para surpreender o parceiro. “Têm tantas possibilidades. Colocar uma faixa na entrada da quadra com declarações de amor, comprar um mimo pela internet e pedir para entregar na casa dele ou dela, fazer uma embalagem personalizada. É importante mostrar que você se interessa, se importa”, orienta.
De acordo com Elaine, o período longe pode fortalecer ainda mais o relacionamento, pois os casais estão passando por um momento complicado, lidando com a saudade e apoiando um ao outro, mesmo à distância. “Há uma vontade de estar perto e estamos sendo impossibilitados disso. É mais ceder do que cobrar. Isso fortalece. Esses relacionamentos estarão muito mais fortes”, ressalta.
Adaptação
A publicitária Larissa Fernanda de Souza, 26, e o namorado, o arquiteto Gubbio Adson, 27, adaptaram a rotina para poder continuar se vendo. Em média, a cada duas semanas, o casal se reúne na casa de um deles para ficar uma semana juntos. “A gente está cumprindo a quarentena desde o início e, para não desobedecer, fizemos isso. Ele vem de carro e passa a semana toda aqui”, conta Larissa. Para quem costumava estar junto todos os dias, mesmo se vendo às vezes, foi difícil se adaptar à nova realidade, segundo Larissa. “No início foi bem complicado. O psicológico fica muito abalado com tudo que está acontecendo. Estávamos dispostos até a ficar sem se ver, mas, com o tempo, acabamos adotando esse formato”, diz.
O casal tem procurado respeitar a quarentena e garante que só sai quando necessário, na maioria das vezes para ir ao supermercado. Mesmo assim, eles tomam todos os cuidados. “Se a gente precisar passar em algum mercado, sempre usamos máscaras. Andamos com álcool em gel dentro do carro. Eu estou meio neurótica (risos). Dentro de casa também tomamos todas precauções”, enfatiza Larissa.
Redes sociais
As redes sociais têm sido uma grande aliada dos casais nesse período. Os estudantes Matheus de Resende, 18, e Giulia Nepomoceno, 18, têm apostado na tecnologia para se manter mais perto um do outro. “Usamos muito a chamada de vídeo. A gente conversa, vê vídeos juntos, jogamos gasmes. Todo dia a gente está em contato”, diz Matheus. O dois se conheceram na escola e estão juntos há um ano e três meses. “Estamos nos vendo bem menos. Antes, era toda semana. Hoje, a gente se vê a cada duas semanas. Quando nos encontramos, ela vem aqui para casa, pois ela mora em apartamento, tem mais fluxo de pessoas nos corredores e elevadores do prédio”, comenta Matheus. Quando os jovens se encontram, tomam cuidados para diminuir o risco de contaminação. “Sempre vou de máscara. Antes de entrar na casa dele, passo álcool em gel nas coisas, levo outras roupas e um sapato que esteja limpo. Quando chego em casa, faço a mesma coisa”, explica Giulia
Para a microempresária Laís Christine de Souza, 21, a tecnologia também tem ajudado a diminuir a distância do namorado que mora em Formosa (GO). Os quilômetros, que separam os dois, precisavam ser encarados e a quarentena complicou mais a situação. “Nossa comunicação é pelas redes sociais”, comenta Laís. Para a microempresária, o relacionamento a distância não é fácil. Apaixonados, os dois ficaram noivos recentemente e planejam morar juntos. A expectativa é de que o parceiro de Laís venha para Brasília daqui a 15 dias. Os dois pretendem se casar no civil e deixar a festa para depois da quarentena. “Estou muito ansiosa. Quero que ele venha o mais rápido possível. A gente acelerou as coisas por ter certeza do que queremos, mas também para não ficar distante um do outro”, destaca.