Correio Braziliense
postado em 09/06/2020 15:58
Para diagnosticar o novo coronavírus nos brasilienses, a Secretaria de Saúde do DF (SES/DF) dispõe de três processos: o RT-PCR; o teste rápido IgG-IgM, usado na testagem em massa da população no sistema de drive-thru; e o teste rápido que separa o anticorpo IgG do IgM, para a testagem dos profissionais da saúde. O Correio preparou um guia que explica como funciona cada um deles. Confira.
Teste rápido - IgG-IgM
É um tipo de testagem imunológica - feita a partir de secreção nasal e de garganta ou sangue - que tem por finalidade encontrar, no corpo humano, anticorpos específicos para o vírus. Também é um exame que não necessita de um laboratório para ser feito. O resultado sai entre 10 e 30 minutos.
Com ele, é possível detectar a parcela da população que já teve contato com o vírus e se tornou imune ou foi assintomática, auxiliando o processo de mapeamento. Contudo, não tem função de diagnóstico, como esclarecido pela própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Como funciona?
A partir do procedimento denominado imunocromatográfico, o exame detecta a quantidade de dois anticorpos (o IgG e o IgM) que o organismo produz quando entra em contato com um invasor.
Produzido no início do contágio - entre o 3%u02DA e o 5%u02DA dia -, o IgM é um tipo mais generalista de anticorpo. O IgG, específico para um agente viral e usado no exame, pode aparecer só mais tarde. Por isso, a recomendação é que a amostra seja coletada somente após o sétimo dia de início dos sintomas. A utilização de testes rápidos antes desse período pode levar a resultados negativos mesmo nas pessoas que possuem o vírus e produziram anticorpos, sendo, portanto, um resultado “falso negativo”.
Resultado
De acordo com informações da Anvisa, um teste rápido positivo indica que a pessoa teve contato recente com o vírus, por isso tem anticorpo IgM: ou já teve covid-19 e está se recuperando ou já se recuperou, por isso tem, no sangue, o anticorpo IgG. Mesmo assim, a Anvisa pondera que o resultado positivo pode indicar que o examinado teve contato com outros tipos de coronavírus, e não o SarsCoV-2. Isso seria um caso de "falso positivo".
Em caso de resultado negativo, significa dizer que a pessoa não tem anticorpos contra a covid-19. Considerando que esses anticorpos só surgem em quantidade detectável dias depois da infecção, o exame só tem significância após esse período.
Teste RT-PCR
De biologia molecular, o RT-PCR (Reverse Transcription - Polymerase Chain Reaction) é usado para diagnosticar tanto a covid-19 quanto a Influenza e a presença de Vírus Sincicial Respiratório (VSR).
Nele, uma amostra de secreção nasal e da garganta do paciente é levada ao laboratório para uma busca minuciosa pelo material genético do Sars-Cov-2. A detectação da doença pode ser feita ainda em fase inicial, a partir do 3º ao 7º dia de sintoma. A metodologia usada leva algumas horas e requer, além da estrutura, pessoal habilitado para fazer a coleta. O diagnóstico pode levar alguns dias para sair. No DF, atualmente, o resultado é divulgado em até 72 horas pelo Laboratório Central.
Como funciona?
O princípio do teste é uma reação em cadeia - que dá nome ao procedimento - da enzima polimerase. O procedimento laboratorial verifica a presença de material genético do novo coronavírus, confirmando que a pessoa está com a covid-19. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), este é o exame considerado positivo.
Uso paralelo
Jonas Brant, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências da Saúde (FS) e membro do Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde do Covid-19 (COES) da UnB, esclarece que nenhum teste é 100% perfeito e que deve se levar em conta que o vírus começa a ser transmitido dois dias antes de aparecerem os primeiros sintomas e que, dependendo de quando eles se iniciaram, um teste pode ser mais adequado que o outro.
"A análise é feita com base em duas classificações. Uma é a sensibilidade e outra é a especificidade. A sensibilidade significa dizer quantos por cento dos casos reais você vai detectar. Por exemplo, no caso do teste rápido IgG-IgM, ele tem entre 70% e 80% de sensibilidade, isso quer dizer que, de 100 casos analisados, 70 vou conseguir detectar. E são testes com cerca de 95% de especificidade, ou seja, a capacidade de evitar falso positivo, o que significa apontar pessoas que tiveram o coronavírus, quando na verdade não tiveram", explica
Apesar da possibilidade dos falsos negativo rondar os 30% nesse tipo de exame, Brant pontua que a finalidade do método e o uso como testagem em massa tem a ver com ampliar a capacidade de detecção e identificar a proporção das pessoas, em uma comunidade, que já tiveram contato com o vírus. "E ver qual a proporção de pessoas já foram expostas ao vírus", acrescenta. Segundo Brant, vários estudos recentes feitos no país com essa estratégia do teste rápido sugerem que entre 5 e 7 casos positivos são contabilizados e não foram detectados pelo sistema de vigilância.
No caso do RT-PCR, na teoria, os índices são quase de 100%. "O maior problema é que ele deveria desencadear uma ação de busca de contato, das pessoas que tiveram contato com a pessoa infectada, que está acontecendo de maneira muito frágil. Esse é um dos motivos pelos quais não conseguimos controlar a epidemia", avalia. A metodologia também requer insumos que estão escassos em todo o mundo, o que dificulta a aplicação e, com um procedimento de coleta complexo e que exige técnica, pode haver um erro que provoque um falso negativo.
O professor esclarece ainda que, a partir do teste rápido, como é o único exame capaz de detectar anticorpos no corpo humano, é possível entender como o vírus circulou na população, como está a situação, se diminuiu ou aumentou o contágio, se terá uma outra onda de contaminação. "Cada um tem a sua função e eles devem ser trabalhados de maneira paralela. Importante lembrar que qualquer pessoa com sintomas respiratórios deve buscar atendimento médico para fazer o RT-PCR e o isolamento", completa.
Em publicação do JAMA, The Journal of the American Medical Association - revista científica de medicina publicada pela American Medical Association - pesquisadores descrevem como interpretar os testes mais comuns para diagnóstico da SARS-CoV-2.
O gráfico a seguir mostra a variação estimada ao longo do tempos dos testes em relação ao início dos sintomas. Confira:
Procedência
Os testes vendidos e usados no Brasil passam por uma análise da Anvisa. Em resolução publicada no início de março, a autarquia estabeleceu regras extraordinárias e temporárias para agilizar a avaliação de novos produtos, por meio da priorização da análise de pedidos de registro de testes para detecção da covid-19.
A avaliação é feita com base na qualidade, na segurança e na eficácia dos exames. "Considerando a emergência em saúde pública decorrente da pandemia de covid-19, os procedimentos de regularização sanitária desses testes foram priorizados e flexibilizados, temporária e extraordinariamente, visando ampliar a oferta desses produtos e evitar o desabastecimento", informa a agência. Para Brant, os testes não têm eficiência considerada ideal, mas possível neste momento.
De acordo com o último balanço da Anvisa, até 28 de maio, a autarquia recebeu 418 pedidos de registros de exames, dos quais 127 foram deferidos e 62 estão em análise. Dos aprovados, 28 são do tipo RT-PCR; 79 usam a imunocromatografia; e os outros 20 que detectam anticorpos por meio de outras reações.
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