A primeira semana do mês de junho registrou 6.843 novos casos de covid-19. O número é 723% maior na comparação dos primeiros sete dias de maio, quando foram contabilizados 831 casos. Com isso é possível dizer também que, no DF, este mês, uma pessoa é infectada a cada dois minutos em média. No mês passado, havia uma infecção a cada 12 minutos.
Exponencialmente, o número de contaminados pelo novo coronavírus no DF tem crescido em uma média de 20% a cada dia. O maior número foi registrado no sábado, com 1.642 novos casos confirmados. Na quinta, o número chegou a 1.127 e na sexta, a 1.285. O domingo terminou com 773 novos infectados pela covid-19 no Distrito Federal.
Diante dos números, a Secretaria de Saúde estima que o pico epidêmico local, momento em que os números devem começar a diminuir, como observado em outros países que também enfrentaram a doença, deve acontecer na primeira quinzena de julho. Segundo a pasta, com as projeções e ampliação do atendimento em hospitais, incluindo leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) no sistema público e privada contratada, a rede está preparada para atender a esta demanda.
Segundo o professor Jonas Brant, do departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB) e participante da Sala de Situação da Universidade e do Comitê da Covid-19, é possível que a data esteja um pouco para a frente, no final do próximo mês. Até este momento, ele avalia que o DF poderá ter cerca de 8 mil infectados diários. “Nós ainda estamos no início da pandemia, ainda vai crescer muito”, avalia.
De acordo com o especialista, os estudos mostram que poucas pessoas foram expostas ao vírus até o momento, portanto a política de relaxamento do isolamento social e a ideia de imunidade de rebanho como uma tentativa de acelerar a chegada do pico para, só então, tratar as consequências, não é a melhor saída para o DF.
“Não entendemos o foco de muitos estados estarem à espera do pico para depois solucionar os problemas que este lhes causou. A ideia não pode ser essa. Nós temos que conter a disseminação e não amenizá-la. Se poucas pessoas estão expostas à covid-19 e temos esses números, imagine se tivermos mais contato social? O número de mortos seria inimaginável”, pondera Jonas.
Mortes
Em contrapartida ao número crescente de infectados, o aumento de óbitos no Distrito Federal não caminha na mesma proporção. De acordo com o último boletim da Secretaria de Saúde divulgado ontem, 196 pessoas morreram de covid-19 no DF até o momento, quatro somente no ontem.
Segundo o especialista, a explicação para isso é uma boa ação da administração local. “O Laboratório Central de SaúdePpública do DF conseguiu organizar uma rede de parcerias, inclusive, com apoio da Universidade de Brasília (UnB) e outras áreas da saúde, que ampliaram muito a capacidade de testagem da população. Isso permitiu conhecer mais casos e a tendência é que, assim, a letalidade, proporção de casos que evoluem para mortes, seja menor do que em outros estados”, avalia.
Isolamento
A cidade com a menor taxa de isolamento do Distrito Federal tem o maior número de mortes pelo novo coronavírus. Segundo o Governo do Distrito Federal (GDF), na última semana, apenas 31% da população de Ceilândia cumpria o distanciamento social. A região administrativa completou, também, uma semana no topo do ranking de números de casos. São 1.968 infectados e 42 mortos em decorrência do coronavírus.
O aumento dos registros fez com que o governador Ibaneis Rocha (MDB) determinasse o fechamento, por 72h, a contar a partir desta segunda-feira, das atividades do setor produtivo, além de proibir aglomerações e eventos culturais e religiosos em Ceilândia, Sol Nascente e Estrutural.
Para Jonas, a medida pode desacelerar a curva de contaminação, mas trata-se de um “erro estratégico” do governo, uma ação que apenas ameniza, mas não contém o avanço da doença. “Com os comércios fechados, isso, na teoria, vai diminuir o contato pessoal e a disseminação do vírus, mas ainda há o comércio informal, as pessoas podem sair dessas regiões para consumir em outros lugares, ou seja, sem isolar os casos positivos e os contatos, não se contém a pandemia”.
“Não é de dentro do gabinete que se contém uma pandemia, é preciso uma atenção primária forte, ação no nível local. O DF tem agido muito no nível político, o que é bom, mas pouco no nível local. Então, essas ações em Ceilândia, se não forem acompanhadas de um isolamento de casos, busca de contatos e aumento de testagem, tendem a ser pouco efetivas”, critica.
Segundo o especialista, com todas as ações demonstradas até o momento, é possível que, a partir de agosto, o DF passe a viver uma desaceleração da contaminação do vírus, mas provavelmente ainda teremos que investir em medidas de distanciamento até o fim do ano.
Em Ceilândia, moradores estão divididos
A partir de hoje e até, pelo menos, quarta-feira, boa parte do comércio e das atividades produtivas de Ceilândia estará fechada para cumprir decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB). A suspensão das atividades consideradas não essenciais é uma maneira de tentar conter a disseminação do novo coronavírus. A cidade lidera o ranking com mais casos confirmados no Distrito Federal, mas a medida do GDF tem dividido a população. O empresário Elias Nascimento, 47 anos, é contrário. Ele destaca que o número de infectados com a covid-19 na região subiu antes mesmo da retomada das atividades comerciais. “Acredito que exista outra forma de controlar essa curva, sem ser fechando o comércio, mais uma vez. Nós temos feito nossa parte, cuidando dos ambientes, medindo temperatura dos clientes, evitando aglomeração”, diz Nascimento, que é proprietário de uma loja na cidade.
Para a secretária Eliane Gomes, 40, o setor não deveria ter reaberto nas últimas semanas. “Acho que foi um atraso. O fechamento deveria ter sido mantido desde o início da pandemia. Essa foi a decisão mais acertada do governo”, afirma. Ela conta que, quando precisa sair de casa, observa a quantidade de pessoas na rua e as aglomerações em alguns locais de Ceilândia. “Os números estão altos aqui porque tem irresponsáveis nas ruas, sem necessidade. A responsabilidade de se cuidar é de todos nós”, completa.
O aposentado Albino Feitosa, 59, concorda com a medida. Segundo avaliação dele, muita gente está desacreditada do coronavírus e apenas o isolamento pode salvar vidas. “O fechamento dos comércios deveria acontecer por uma semana ou mais. Se não fechar, o número de mortes também não cessa. Hoje (ontem), só saí de casa por uma necessidade, mas daqui vou direto para casa. Na minha rua, tem muita gente fazendo festa, com música alta até a madrugada. Embora sejam confraternizações em família, o momento não é para isso”, destaca.
A musicista Leninha Pinheiro, 45, não conseguiu se posicionar sobre a medida. Para ela, é preciso olhar para os dois lados. “É complicado opinar, porque são dois pesos e duas medidas. Tem de se prevenir e o índice da doença é alto aqui. Porém, há trabalhadores que dependem dos comércios. Não tenho uma opinião sobre isso mas, se é para fechar, é preciso seguir”, avalia. Ela ressalta que, se a população seguisse as orientações de usar máscara e álcool em gel e evitar aglomerações, os números estariam mais baixos. “No Sol Nascente, tem gente fazendo festa. Dá muito medo, porque conheço pessoas que tiveram o coronavírus, e isso é preocupante”, garante.
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