Cidades

Indignação em Planaltina

Manifestantes protestam contra o racismo e em defesa da democracia, após dois policiais militares agredirem um homem negro, morador da cidade. PMs envolvidos na agressão foram afastados do serviço operacional



Manifestantes ocuparam as vias de Planaltina, ontem, em protesto contra o racismo e em defesa da democracia. O ato veio após um homem negro, morador da região, ser agredido por dois policiais militares no estacionamento de um supermercado da cidade, na noite de segunda-feira. Durante a abordagem, os PMs desferiram chutes e golpes de cassetetes, além de pedradas, contra Weliton Luiz Maganha, 30 anos. Testemunhas filmaram o episódio de violência, o que gerou revolta e comoção no Distrito Federal.

O grupo, com cerca de 30 pessoas, concentrou-se, primeiramente, no Restaurante Comunitário de Planaltina. Em seguida, seguiram em direção ao estacionamento do supermercado onde aconteceu a agressão. Na porta do estabelecimento, os jovens levantaram cartazes com frases antiracistas. Em um momento, os participantes ajoelharam-se em frente ao estabelecimento e pronunciaram frases do tipo: “Planaltina não é Alphaville”, “Sem justiça, não vai ter paz” e “Racistas não passarão”.

O movimento foi pacífico, a maior parte do grupo era formada por jovens negros e moradores de Planaltina. “Esse ato nasce de uma revolta da juventude que sofre violência policial na periferia. Todos nós estamos revoltados com esse ocorrido. Não iremos mais tolerar atitudes como essa”, afirmou o organizador do manifesto, Maurício Borges, 31.

Em entrevista ao Correio, Weliton, que trabalha como vendedor de balas em ônibus, contou que, na noite de segunda-feira, foi ao supermercado fazer compras com o dinheiro recebido do auxílio-emergencial — valor distribuído às pessoas de baixa-renda prejudicados pela pandemia do novo coronavírus. Ele também acompanhou o protesto e se diz surpreso quanto à repercussão do caso. “Temos que fazer justiça, porque senão isso se repetirá cada vez mais. Graças a Deus, várias pessoas me procuraram para me ajudar e apoiar”, disse.

A vítima procurou o Hospital Regional de Planaltina, onde recebeu atendimento e foi orientado a voltar na terça-feira para uma nova avaliação médica. Ele disse que sofreu lesões na clavícula e no crânio, além de diversas escoriações pelo corpo.

Investigação

A Polícia Militar informou que os dois militares envolvidos na agressão foram afastados do serviço operacional e que instaurou um inquérito para investigar a conduta dos policiais. Eles foram ouvidos na Corregedoria da PMDF na terça-feira. A corporação confirmou as agressões, informando que “o final da ação foi registrado conforme o vídeo”, mas argumentou que foi chamada após várias denúncias de perturbação da tranquilidade e da ordem pública. A PM ressaltou que “não há que se falar em atitude racista, mas de excesso na ação policial”, e que os policiais foram ouvidos, no devido processo disciplinar/criminal, pela Corregedoria da PM, para “verificar as circunstâncias do fato com o rigor que o caso requer”.

O supervisor de policiamento de Planaltina e Sobradinho, tenente Isaildo Bellino, esclareceu que o 14º Batalhão da PM (Planaltina) está em condições de receber representantes do protesto para tratar do assunto. “Sabemos que a conduta não foi certa, mas não pode-se generalizar, pois, assim, parece que toda a PM é hostil”, frisou.


Agredido
O caso em Planaltina aconteceu em meio a vários protestos pelo mundo contra o racismo, após a morte do afro-americano George Floyd, asfixiado por um policial em Minneapolis, Minnesota, nos Estados Unidos.