Cidades

Com o isolamento social, Brasília resgata a tradição Cine Drive-in

Após mais de um mês fechado, o espaço foi reaberto em 28 de abril adaptado ao momento da pandemia

Em um passado de pouco entretenimento, era comum moradores de Brasília assistirem ao cinema ao ar livre. Acomodados dentro de carros ou do lado de fora, sob o céu, os telespectadores acompanhavam as projeções da época na tela de concreto, de 312m². Família, amigos, namorados e amantes compunham a cena do Cine Drive-in, inaugurado em 1973, e declarado, em 2 de janeiro de 2018, Patrimônio Cultural e Material do Distrito Federal. Com o tempo, o local foi perdendo público para os cinemas de salas fechadas, mas, nunca o coração dos apaixonados e curiosos pelo cinema ao ar livre.

Hoje, frente aos desafios da pandemia e com o isolamento social, o Cine Drive-in reconquista a antiga e a nova geração de Brasília. Após mais de um mês fechado, o espaço foi reaberto em 28 de abril, autorizado pelo Governo do Distrito Federal, agora com novas regras. “Quando a gente reabriu, parecia que estávamos com outro cinema, tudo diferente. A lotação diminuiu, a lanchonete está fechada, e só é permitido uma pessoa por vez nos sanitários”, declara a dona do estabelecimento, Marta Fagundes. 

A grande procura do público também surpreendeu. “Foi uma novidade para nós. Não esperávamos uma movimentação tão grande”, revela Marta. Segundo a proprietária, apenas na sexta-feira passada foram contabilizados 180 carros na fila para entrar na sessão. “Antes da pandemia, durante o fim de semana, a média era de 100 carros. Agora, essa rotina está completamente diferente. As pessoas ficam na fila uma hora e meia porque querem assistir ao filme. Fiquei muito feliz com o retorno dessa tradição. É a hora do Drive-in”, comemora. 

Desde criança, a cinéfila Natália Lobato, 19 anos, costumava ir com a família para o Cine Drive-in. Durante a pandemia, não foi diferente. Desta vez, na companhia de um amigo, ela chegou mais cedo para assistir à sessão das 18h30. “Fiquei mais de uma hora na fila, mas valeu a pena”, comenta. Para curtir o longa, eles levaram comida japonesa, travesseiro e cobertor. “Eu conheci o drive-in com minha mãe. Na época, levávamos um colchão e assistíamos do lado de fora do carro. Tenho muitas recordações ali”, lembra. Ver filme a céu aberto fez bem e a ajudou ainda mais durante o período de isolamento. “Foi muito bom ter ido, desestressar, ver gente, mesmo que de dentro do carro. Gosto muito do ambiente e me sinto nos anos 1990 quando vou”, conta. 

A ida da neta ao Cine Drive-in despertou as lembranças e saudades de Graça Mariano, 60, avó de Natália. “Há 30 anos, eu ia para lá com amigos, família e filhos. Era bem legal. Quando ia com as crianças, a gente levava lanche e ficava do lado de fora do carro”, conta. “Antigamente, não tinha esse tanto de shopping, não tinham muitos cinemas. Hoje, a oferta é gigantesca, por isso as pessoas esqueceram durante um tempo o Cine Drive-in. Fico feliz que essa tradição não tenha se perdido em Brasília. Pretendo ir em breve, já falei com minha irmã e minha prima para relembrarmos os velhos tempos”, planeja Graça. 

Resgate

A pandemia trouxe diversos desafios, mas também a certeza de que é possível se reinventar e buscar formas positivas de ver o mundo. E é o meio cultural que permite esse enfrentamento da realidade, segundo o professor de cinema do Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb) Paulo Duro. “O que eu tenho visto é que a cultura tem salvado muito a nossa sanidade mental. O Cine Drive-in traz uma dupla possibilidade: a de entretenimento e a de resgate histórico de uma memória que Brasília tem”, aponta. 

O acesso ao ar livre e o tamanho da tela chamam a atenção do telespectador. “Quando você vê, parece que está sendo projetado no céu. É uma experiência única”, revela o professor. Paulo vê este fluxo maior de pessoas na busca por cinema ao ar livre como uma tendência da pandemia. “O que era retrô vira vanguarda. O mais belo do Cine Drive-in é a resistência de se manter durante o tempo” reflete. 

A estudante Milena Holanda, 22 anos, ficou feliz com o retorno do Cine Drive-in e planeja ir com a família. “Gosto muito do ambiente, traz uma sensação boa e de paz. Ainda é muito confortável, porque dá para levar comida, sentar no porta malas e se cobrir com cobertor” explica. Além disso, a notícia de que o estabelecimento segue todas as medidas de segurança para evitar a propagação do novo coronavírus deixaram Milena mais tranquila. “O bom é que o espaço é aberto e que não temos contato com outras pessoas, além das que estão dentro do carro”, diz. Milena começou a frequentar o espaço em 2018. Desde então, vai pelo menos quatro vezes ao ano. “Gosto de apresentá-lo às pessoas. É um ambiente turístico de Brasília que todos deveriam conhecer e preservar”, reforça. 

  • Duas perguntas para psicóloga Natassia Bueno 

    Por que, neste período de pandemia, o entretenimento e a cultura são tão importantes para a saúde mental?
    A pandemia trouxe, para o mundo, muitas preocupações. O medo do contágio e das graves consequências que a doença pode ter levaram à necessidade de fazermos adaptações em nossas vidas, uma delas é o isolamento social. Esta situação requer um esforço de todos para manterem-se em casa, com o mínimo contato possível com outras pessoas, diminuindo, assim, os riscos de contágio. Neste contexto, muitos tiveram grandes mudanças em suas vidas. Estamos enfrentando desafios para os quais não estávamos preparados: trabalho remoto, o “homeschooling”, a necessidade de cuidar da casa e as restrições relacionadas às relações sociais. Muitos depararam-se com sentimentos como tristeza, solidão, desespero, desamparo e ansiedade. Tais estados mentais podem ser paralisantes e fazem com que a vida pareça muito difícil. O entretenimento e a cultura ganham, portanto, papel ainda mais importante em nossas vidas, porque ajudam as pessoas a manterem seus pensamentos em outras coisas, que não a pandemia. Conseguir manter o foco em algo que nos distraia, que nos traga bons sentimentos é uma estratégia excelente para conter a ansiedade e gerar pensamentos mais positivos.

    Como o cinema pode influenciar na vida das pessoas? Pode ser uma fuga da realidade em que vivemos?
    O cinema é um elemento cultural de entretenimento. As pessoas assistem a filmes para distrair a mente, fazer reflexões ou conhecer histórias. Filmes proporcionam momentos de prazer quando o espectador se conecta a outras histórias. Pode até haver uma busca para fugir dos  problemas, da realidade, mas a fuga não duraria muito tempo. Se alguém julga que a vida está muito difícil, ela precisa buscar ajuda de um profissional para que possa desenvolver mecanismos de enfrentamento dos problemas, e não de fuga da realidade.


  • Programação de hoje

    O PARQUE DOS SONHOS

    Classificação: livre 
    Duração: 1h25min
    Horário: 18h05
    Diretor: David Feiss, Dylan Brown (II)
    Gênero: Animação, Comédia, Família
    Idioma: Dublado

    JUMANJI: PRÓXIMA FASE

    Classificação: 12 anos
    Duração: 2h4min
    Horários: 19h30 
    Diretor: Jake Kasdan
    Gênero: Aventura, Comédia
    Idioma: Dublado

    A GRANDE MENTIRA

    Classificação: 16 anos 
    Duração: 1h50min
    Horário:  21h40 
    Diretor: Bill Condon
    Gênero: Drama, Suspense
    Idioma: Legendado

    Ingressos
    Segunda a quinta-feira 
    Inteira: R$ 28
    Meia: R$ 14

    Sexta a domingo e feriados
    Inteira: R$ 30
    Meia: R$ 15

    Estudantes com carteirinha, idosos e crianças até 10 anos pagam meia.
    Pagamento em dinheiro e cartões de débito e crédito


  • Tendência 

    O Taguatinga Shopping vai inaugurar, em junho, um cinema drive-in que será instalado no último andar de estacionamentos do centro de compras. O drive-in será ao ar livre e com garantia de distanciamento social. A programação ainda não foi definida, mas a organização adianta que serão filmes já exibidos, dentre eles clássicos da comédia, família e infantis.