Com a reabertura dos comércios e shoppings, empresários precisam driblar a crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus e se reinventar para atrair os consumidores, aumentar as vendas e reduzir perdas. Tudo, é claro, com muita segurança, tanto para o consumidor quanto para o lojista. Nada de aglomerações. Contudo, para especialistas e entidades do setor, a recuperação será lenta e o segmento deverá demorar a voltar à normalidade.
Na avaliação do vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista-DF), Sebastião Abritta, o cenário é incerto e, segundo ele, os clientes serão cautelosos na hora de comprar. “Os produtos que estão saindo mais em termos de venda são as roupas e calçados. Nossa esperança é de que o comércio varejista fique positivo entre 60 e 90 dias, dependendo do ramo da atividade, para recuperar todo esse tempo de fechamento”, afirmou.
A taxa de desemprego total do DF aumentou no último mês, chegando a 20,7% e alcançando cerca de 333 mil moradores da capital. O número é 0,9% maior do que o do mesmo período do ano passado, quando havia 320 mil pessoas desempregadas na capital. Os dados são da Pesquisa de Emprego e Desemprego pela Companhia de Planejamento (Codeplan), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Contudo, o desemprego pode atingir mais 15 mil trabalhadores nos próximos dias, como estima Sebastião Abritta. “Vai depender muito da reabertura de outros segmentos, como bares e restaurantes. Tem toda uma cadeia produtiva, mas se o empregador não perceber que não haja demanda para aquele número de funcionários, esse empregado será demitido”, acrescentou.
Os shoppings centers da capital puderam reabrir na última quarta-feira, entre 13h e 19h. Funcionários e clientes formaram fila do lado de fora para passar pelo medidor de temperatura — uma das propostas condicionadas pelo GDF para a retomada. De acordo com o vice-presidente do Sindivarejista-DF, o movimento nesses estabelecimentos ainda está fraco. “Nossa maior preocupação é com o Dia dos Namorados, que é a melhor data depois do Natal, no que diz respeito às vendas. Esperamos ter um bom retorno”.
Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio), Francisco Maia, os empresários entenderam a necessidade de tomar os devidos cuidados de higiene, visando a saúde dos clientes e funcionários. “Pelo que verificamos, os estabelecimentos estão cumprindo todas as medidas impostas e essa é a nossa maior preocupação. Seguindo as orientações, o comerciante transmite tranquilidade ao cliente e demonstramos que outros segmentos podem reabrir daqui 10 dias, como bares e restaurantes, um dos mais afetados por essa crise”, ressaltou.
Expectativa
Giovanni Romano, 60 anos, é proprietário de três lojas de chocolate em três shoppings da capital. Ele conta que, no período em que os estabelecimentos estiveram fechados, a direção decidiu adotar o serviço delivery e funcionou. “Fizemos um bom trabalho de divulgação nas redes sociais e tivemos um resultado bem expressivo, que não esperávamos. No período da Páscoa, por exemplo, vendemos todas as mercadorias”, disse.
Durante o período da pandemia, o empresário precisou demitir alguns funcionários, mas mantém uma expectativa positiva. “O que sinto é que os shoppings começam a ter um pequeno movimento e os clientes estão voltando aos poucos. Nossas lojas, por exemplo, estão recebendo alguns clientes, principalmente aqueles que procuram presente para o Dia dos Namorados. Mas, agora, entendemos que o cenário mudou, inclusive a forma de atender ao cliente. Não dá para ficar do lado do consumidor ajudando ele escolher o produto. Sabemos das medidas de prevenção e da importância de manter determinada distância”, destacou.
Na avaliação de Ciro Almeida, economista da G2W Investimentos, o setor produtivo levará um tempo para se recompor. “A retomada vai ser pautada na expectativa de confiança do consumidor, em quem manteve emprego se vai continuar empregado, com mesmo salário, com os mesmos hábitos de consumo”, avaliou.
O economista avalia que a capital da República sofrer impacto, também, em razão do turismo corporativo. “Brasília é muito dependente do setor público. Antes da pandemia, era comum as pessoas desembarcarem aqui para participar de reuniões de trabalho. Consequentemente, elas gastavam com alimentação e hospedagem, o que gerava muito lucro. Mas, agora, como fazer isso?”, acrescentou.