Correio Braziliense
postado em 26/05/2020 17:16
O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) requisitou, nesta terça-feira (26/5), que o chefe da unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) — unidade de referência no combate ao coronavírus —, Victor Bittencourt, preste esclarecimentos sobre o motivo pelo qual mandou uma médica dar plantã mesmo após relatar que apresentava os sintomas da covid-19.
O documento, ao qual o Correio teve acesso, foi encaminhado nesta terça-feira para o médico. Nele, o MPDFT pede que a chefia apresente as razões pelas quais a profissional de saúde precisou ir trabalhar. Além disso, o Ministério Público pediu que o chefe da UTI informe a quantidade total de leitos de UTI ativos exclusivos para o tratamento do coronavírus, indicando, separadamente, quantos estão ocupados e quantos, bloqueados. Pediu, ainda, que, caso hajam leitos bloqueados ou reservados, que seja indicada a razão.
Na sexta-feira (22/5), em mensagens trocadas com outra médica, que recomendou o afastamento da colega das atividades, Victor Bittencourt escreve: “Você ta querendo desfalcar um plantão da UTI sem motivo real para isso?”. Em seguida, a profissional responde: “Você quer colocar plantonista que disse que está com dispneia (falta de ar) hoje para dar plantão ou você está me ameaçando?”.
O chefe da UTI, no entanto, argumenta: “A (médica) está ótima em perfeito estado físico e mental. Todos os pacientes são covid positivo. Ela disse que a dispneia passou. Não tem febre. Tc (tomografia) normal. Sem taquicardia, saturação normal. Está usando máscara e álcool em gel”.
Em seguida, a doutora alega que a obrigação dela é proteger a equipe, mas Victor lhe repreende e diz: “Sua obrigação é orientar, aconselhar, conversar, emitir opinião e parecer especializado. Não é sua obrigação fazer escala. E não deveria falar para ela sair do plantão sem antes falar comigo”. A profissional de saúde encerra a conversa afirmando estar cumprindo a obrigação de zelar pela equipe e pacientes.
Um dia depois, no sábado, a médica que alegou apresentar sintomas da covid-19 afirmou ter testado positivo para a doença. Questionada, a Secretaria de Saúde informou que um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) será aberto para apurar a situação.
Ao Correio, Victor Bittencourt argumentou que a médica que apresentou sintomas da covid-19 é uma amiga e que os dois trabalham juntos há oito anos. “Durante o plantão, ela me disse que se sentiu mal e que iria fazer alguns exames. Nos falamos por ligação à tarde e ela disse que o exame de tomografia havia dado normal e a saturação de oxigênio deu 100%. Eu a perguntei se ela tinha condições de ir para o plantão e se fosse preciso substituí-la. Mas ela disse que não e, quando chegou ao hospital, estava ótima, alegre, corada e tranquila. Perguntei novamente se ela estava bem e ela disse que sim.”
Segundo ele, a profissional teria procurado uma infectologista do Hran e relatado a situação. A médica, no entanto, a orientou a ir para casa. “A doutora concordou em assumir o hospital. Quando voltei da UTI, minha colega afirmou que estava bem e disse para esperar o resultado sair, porque ela estava com um sintoma leve, o que poderia ter outras causas. E eu disse: ‘Se der positivo, te afastamos, mas o importante é estar bem'”, ressaltou.
Em seguida, o chefe da UTI procurou a infectologista que teria orientado a profissional e a informou que o papel dela era emitir um parecer especializado, mas não alterar a escala. “O nosso trabalho tem sido importante para salvar vidas, principalmente em época de coronavírus. É preciso união", frisou o médico.
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