Cidades

Coronavírus: infectologista venceu a doença após 20 dias de hospital

O infectologista Werciley Júnior, 36 anos, chefe do controle de infecção hospitalar do Grupo Santa, conta como precisou ser entubado e fala sobre as dificuldades da doença

Na linha de frente do combate ao novo coronavírus, os profissionais de saúde se tornaram verdadeiros heróis no enfrentamento à pandemia. Levantamento mais recente da secretaria de Saúde mostra que 658 trabalhadores da área foram infectados pela covid-19. Ao Correio, um desses diagnosticados, o infectologista Werciley Júnior, 36 anos, chefe do controle de infecção hospitalar do Grupo Santa, contou como foi estar com a doença e falou sobre o difícil processo de recuperação. 
 
Não tenho ideia de como fui contaminado. Participei do tratamento de vários pacientes e fiz atendimento em consultórios, sempre tomando os cuidados necessários”, ressaltou. Werciley começou a se sentir mal em 5 de maio e foi procurar uma unidade de saúde. “Tive febre e dor no corpo no fim do dia. Fiz vários exames, inclusive o da covid-19, que deu negativo, porém, ainda estava cansado. Um colega médico indicou fazer uma tomografia, que mostrou alterações pulmonares. Em seguida, fui internado”, detalhou. 
 

Saiba Mais

Apesar de estar fora do grupo de risco do coronavírus, Werciley tem um fator de risco que pode agravar os sintomas do coronavírus, que é a obesidade. “Inicialmente, fiquei na ala onde pacientes com suspeita permanecem. Porém, comecei a evoluir com o cansaço e, como não estava respondendo, optamos pela entubação em 7 de maio”, disse. O infectologista explica que são usados sedativos para entubar os pacientes e que alguns podem causar amnésia. “Por isso, não lembro de nada que aconteceu nesse período”, comentou. 
 
Werciley detalhou que, inicialmente, respondeu bem ao processo de entubação, mas depois teve complicações. “Passei por procedimento em que é necessário inverter a posição do paciente, que auxilia na oxigenação, mas também não sustentava a medida”, frisou. Como chefe da unidade, o infectologista já havia orientado os profissionais a não fazerem uso de cloroquina nos pacientes, por não haver eficácia comprovada. “A minha melhora é a prova viva que o treinamento da equipe e a capacitação deles funcionou”, destacou. 

Recuperação

Após 13 dias entubado, Werciley foi retirado do sedativo na última quarta-feira (20/5). “Estava conseguindo respirar melhor. Passados os testes, consegui ser retirado do tubo. Porém, ainda estava sob efeito de alguns sedativos e não lembro de muita coisa, mas sabia que tinha sido entubado. A minha primeira pergunta foi se tudo tinha durado apenas cinco minutos”, disse. 
 
Apesar de não ter se dado conta do período em que ficou entubado, o infectologista explicou que o tempo médio do procedimento é de 5 a 10 dias, mas ele permaneceu 13, espaço de tempo que é considerado longo. O procedimento, entretanto, gera consequências. O médico perdeu 18 quilos durante o período e apresentou muita fraqueza muscular. 

Alta

O infectologista recebeu alta do Hospital Santa Lúcia nesse domingo (24/5). Já em casa, ele ressaltou que os riscos da doença são grandes. “Eu, como profissional de saúde e coordenador, sabia que teria esse risco, mesmo tomando os cuidados necessários. Não tenho como dizer onde me contaminei, acredito que tenha sido fora do hospital. Portanto, eu digo que sou a prova viva de que cuidar bem de um paciente, traz resultados. A vitória também é da equipe que cuidou de mim”, ressaltou. 
 
A esposa do médico também apresentou sintomas da doença dois dias antes dele, mas ela teve apenas perda do paladar e já refez o teste, que deu negativo. “Ainda não fiz o reteste, mas pelo período, a recuperação já deve ter acontecido”, esclareceu. O infectologista também explicou que os testes rápidos podem dar negativo mesmo em casos de contaminação, como aconteceu com ele. 

Alerta

Werciley ainda ressaltou que o coronavírus é uma doença que não dá para dizer quando o quadro vai evoluir para algo mais complicado. “O isolamento social é uma medida válida. Porém, temos que somar as medidas. O ideal, também, é manter a higienização das mãos e obedecer o uso de máscaras corretamente. Mesmo em isolamento, é possível pegar em um ambiente familiar”, alertou. 
 
O médico também diz que, após superar a doença, ainda tem um caminho a se percorrer até estar reabilitado. “Hoje, consigo ficar em pé de 10 a 15 minutos no máximo. Ainda não sinto o cheiro das coisas, mas o paladar já voltou. Apesar de já ter passado do período de contaminação, ainda preciso aguardar sair o próximo exame”, disse.
 
Após passar o período de reabilitação, o infectologista ressalta que quer voltar ao trabalho o mais rápido possível. “A pandemia continua e ainda tem outras doenças também. Temos que trabalhar e cuidar das pessoas. O meu plano é me reabilitar, de uma maneira correta. Não adianta pagar o preço lá na frente”, frisou.