O fim de semana bateu recorde de óbitos por coronavírus no Distrito Federal, com 14 registros entre sábado e domingo. Com isso, chega a 104 o número de mortes, das quais seis são de moradores de outros estados. Nas últimas 24h, a Secretaria de Saúde contabilizou mais 390 pacientes infectados, somando o total de 6.638 casos, dos quais 3.688 pessoas se recuperaram da doença.
Por região, o Plano Piloto acumula o maior número de registros, com 673 infectados. Em seguida, está Ceilândia, com 575 ocorrências, e Samambaia, com 390. Aumenta também a escalada de casos no sistema penitenciário. O boletim epidemiológico divulgado na noite de ontem informou que 667 detentos foram diagnosticados com a covid-19.
Entre as mortes registradas ontem, a paciente mais jovem era uma mulher de 35 anos, moradora de Ceilândia, que batalhava contra um câncer. Segundo a Secretaria de Saúde, ela deu entrada no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) na sexta-feira, e faleceu no mesmo dia. Já a paciente mais velha estava com 74 anos, e sofria do mal de Parkinson. Ela vivia no Guará, e estava internada desde terça-feira no Hran.
Outra moradora do Guará, uma mulher, de 45 anos, também não resistiu às complicações causadas pelo vírus. Ela era diabética, imunossuprimida, cardiopata e pneumopata. De acordo com o boletim, a paciente havia dado entrada em 15 de maio no Hospital Brasília, onde faleceu nove dias depois. Uma quarta mulher, 67 anos, porém sem comorbidades, também integra a lista divulgada ontem pela Secretaria. Moradora do Plano Piloto havia sido internada no Hospital Brasília em 13 de maio, onde faleceu, no último sábado.
O homem mais jovem da lista tinha 45 anos, era diabético, e residia em Samambaia. Ele morreu no sábado, depois de 27 dias de internação no Hospital Regional de Santa Maria. Também de Samambaia, outro óbito ontem: um idoso de 66 anos, internado no mesmo hospital, desde 4 de maio. Ele tinha diabetes, hipertensão arterial e era obeso.
Ceilândia somou mais duas mortes. A primeira aconteceu no sábado, era um homem, de 67 anos, que estava internado desde 13 de maio no Hospital Santa Marta. Ele era diabético e tinha hipertensão arterial. Ontem, faleceu a segunda vítima: o paciente tinha 70 anos, e também era hipertenso. Ele estava no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), desde 5 de fevereiro.
A nona morte contabilizada pelo Governo do Distrito Federal (GDF) aconteceu na sexta-feira. O paciente, um morador de Sobradinho, de 67 anos, estava no Hran desde 13 de maio.
Capacidade
Enquanto isso, o número de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) na rede pública de saúde preocupa. Funcionários do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) informaram ao Correio que estão todos ocupados na unidade, que é referência no combate à covid-19.
Em nota oficial, a Secretaria de Saúde (SES-DF) negou a informação, e disse que, dos 20 leitos disponíveis, 16 estão sendo utilizados, o que corresponde a 80% do total. “Os leitos de UTI são regulados, inclusive, os reservados para o tratamento da covid-19.” De acordo com os dados divulgados pela pasta, a rede conta com 283 leitos com suporte de ventilação mecânica, dos quais 40,28% estão ocupados. Isso corresponde a um total de 116 pacientes distribuídos em 10 unidades de saúde.
Outros 197 leitos estão no hospital de campanha montado no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Aberto na última sexta-feira para atender pessoas com diagnóstico de covid-19, recebeu, até o momento, 20 pacientes e conta com 134 profissionais de saúde efetivamente contratados.
Três perguntas para
Alexandre Cunha, infectologista e consultor médico do laboratório Sabin
Em média, por quanto tempo uma pessoa com coronavírus, em estado grave, ocupa um leito de UTI?
Varia muito, mas a ocupação média é em torno de 10 dias. Os casos mais graves podem chegar a 20 dias ou mais. Em casos leves, o paciente pode ocupar o leito por um ou dois dias.
Muito se fala em achatar a curva do coronavírus. O que isso significa?
É impedir o aumento do número de casos numa velocidade muito alta. Somente o distanciamento social é eficaz, e isso é importante justamente pela disponibilidade de leitos. Muitos casos, em período curto de tempo, ocupam muitos leitos. Se diluídos pelo tempo, os leitos conseguem ser mais bem aproveitados.
A falta de leitos de UTI está diretamente relacionada à letalidade?
Sim. Não só leitos de UTI, mas de internação também. Em geral, nos países onde se conseguiu manejar a crise, com número adequado de leitos, a letalidade foi bem mais baixa. Japão, Alemanha e Cingapura conseguiram resultados bem menores do que Itália, Espanha e França, onde houve colapso.