Entre o que se sabe a respeito da covid-19, doença que já causou a morte de quase 100 pessoas no Distrito Federal, uma coisa é clara: a transmissão ocorre por gotículas de saliva de pessoas infectadas. Esse contágio, no entanto, não acontece apenas entre humanos. Caso alguém com coronavírus tussa, toque, espirre ou fale sobre uma superfície, quem ali pôr a mão ficará sujeito a pegar a doença. Por esse motivo, é importante a desinfecção, sobretudo, de espaços públicos, onde há grande circulação de pessoas.
Com a reabertura do comércio, e a consequente diminuição do isolamento, o Governo do Distrito Federal (GDF) tem atuado na limpeza de locais como feiras, rodoviárias e estações de metrô. Para isso, foi criado o projeto Sanear, uma parceria entre a Secretaria Executiva de Cidades, e a diretoria de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde. Até o momento, todas as feiras permanentes foram higienizadas. Entre as cidades que já receberam a ação estão Planaltina, Guará, Águas Claras, Plano Piloto, Lago Sul e Park Way, e os trabalhos seguem ao longo de maio e junho.
Segundo Edgar Rodrigues, diretor de Vigilância Ambiental, depois de as equipes passarem por todas as regiões administrativas, o trabalho recomeça. Ele explica que os agentes, devidamente equipados com macacões, máscaras, luvas e botas, borrifam as áreas internas e externas dos ambientes públicos, com hipoclorito de sódio a 1%, mesmo princípio ativo da água sanitária. “Tão logo começou a se falar na covid, já estávamos preparando máquinas adaptadas similares ao fumacê”, garante. Com esse aparelho é possível desinfectar os recintos.
Além disso, caminhões-pipa fazem a lavagem de calçadas. As ações acontecem praticamente todos os dias. “Isso diminui a circulação do vírus, porque, se ele estiver impregnado em algum local, o produto o matará.” Especialistas destacam que a limpeza diária é fundamental para evitar a propagação da covid-19. Professor do departamento de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), e pneumologista do Hospital Universitário de Brasília (HUB), o médico Ricardo Martins avalia que limpezas como essas feitas com as máquinas não precisam ser tão frequentes. “Para higienização de ambientes não há necessidade de grandes parafernálias. Água e sabão é suficiente, mas evidente que se puder usar produto mais forte, como o hipoclorito em quantidade mínima, ajuda.”
O simples ato de passar um pano no chão contribui para a desinfecção. “Mas, fazer isso uma vez por semana, por exemplo, é pouco. Tem que ser um hábito diário, e várias vezes, ainda mais em locais de grande circulação. Tem que fazer um protocolo a cada duas horas pelo menos”, pondera. Cuidado redobrado em ônibus e metrôs, além de objetos como maçanetas e corrimões. “Se um idoso, por exemplo, utiliza o apoio para usar as escadas, pode contrair o vírus dessa forma.”
Protocolo
Sobre uma superfície, o coronavírus pode sobreviver por até 72 horas, no caso de plásticos e aços, menos de 24 horas em papelão, e menos de quatro horas sobre objetos de cobre, segundo afirma a Organização Mundial de Saúde (OMS). Também de acordo com a OMS, práticas de desinfecção reduzem o potencial de contaminação em locais de muita circulação de pessoas, como escritórios, academias, mercados, restaurantes, transportes e escolas, mas é preciso identificar pontos em que as pessoas tocam com mais frequência. Nesse caso, atenção para maçanetas, áreas de preparo de alimentos, como bancadas, vasos sanitários, torneiras, telas touchscreen (de caixas eletrônicos, por exemplo) e teclados.
A recomendação é de que a limpeza seja feita com hipoclorito de sódio, ou álcool 70% a 90%. As superfícies devem ser primeiro higienizadas com água e sabão, para remoção de poeira, e, em seguida, é feita a desinfecção. De acordo com a OMS, deve-se começar pelas áreas mais limpas e em seguida ir para as mais sujas. Assim, evita-se espalhar qualquer contaminação para pontos que possam não ter sido infectados. Os produtos utilizados devem ser armazenados em recipientes opacos, em áreas bem ventiladas e protegidos da luz direta do sol.
Todos colaboram
A população também deve fazer parte dos cuidados, como reforça a infectologista do Hospital Santa Lúcia Marli Sartori. “Todo mundo precisa usar a máscara de tecido, e fazer isso corretamente. Não é deixar no queixo ou pendurada na orelha”, repreende. “Deve-se ter cuidado ao manuseá-la. A máscara te protege, mas se alguém tosse perto de você, ela fica infectada. Se você pega na máscara com frequência e em superfícies, pode estar espalhando o vírus e se contaminando também”, alerta.
Ela lembra da recomendação mais comentada: evitar, dentro do possível, aglomerações. “Se o espaço tiver muita gente, fique afastado. Em casa, mantenha os locais ventilados, e sempre que sair, tenha um frasco de álcool em gel na bolsa para higienizar as mãos quantas vezes puder”, pede. “As mãos são a principal fonte de infecção. Se todos tiverem cuidado sempre, vamos diminuir muito o número de infectados. A pandemia mudou os hábitos totalmente, e espero que para sempre, porque essas medidas de prevenção servem para outras doenças também.”
Cronograma
Veja onde ocorrerão as próximas ações de desinfecção em áreas públicas no DF:
26 de maio - Riacho Fundo 2
27 de maio - Riacho Fundo 1
28 de maio - SIA
29 de maio - Fercal
1º de junho - Itapoã
2 de junho - Recanto das Emas
4 de junho - Sobradinho
5 de junho - Santa Maria
De olho na dengue
Assim como os cuidados higienização no combate ao coronavírus, o programa Sanear também está de olho nos casos de dengue. Até 9 de maio, a Secretaria de Saúde registrava mais de 30,1 mil casos prováveis, e 17 mortes.
Por isso, os agentes da Vigilância Ambiental estão percorrendo as ruas do DF orientando moradores e exterminando possíveis focos do mosquito transmissor. Até o momento, o programa inspecionou mais de 35 mil imóveis, além de 4,6 mil pontos estratégicos, isto, é, locais onde a presença do mosquito é mais provável, como borracharias e ferros-velhos.
Outra iniciativa é o manejo ambiental, ação em que os próprios moradores retiram das casas objetos que possam acumular água parada, como caixas d’água, garrafas e pneus. Em seguida, um caminhão da Vigilância Ambiental recolhe os itens e dá a destinação correta.