Considerados essenciais na sociedade, profissionais da saúde e da segurança pública estão na linha de frente no combate à pandemia do novo coronavírus no Distrito Federal. Médicos, enfermeiros, técnicos, policiais e equipes do Corpo de Bombeiros convivem, diariamente, com uma realidade que os coloca em situação de vulnerabilidade diante da covid-19, doença que matou 73 pessoas na capital, sendo um policial penal e um militar. Dados obtidos pelo Correio mostram que 803 servidores dessas áreas foram infectados. Desses, 187 estão curados.
O número de pessoas que contraíram o vírus na área de segurança pública (311) equivale a pouco mais de 1% do efetivo total, de 22.291. Desses, 139 estão curados e 172 têm a doença. Desde o começo da pandemia, o primeiro caso confirmado em corporações brasilienses ocorreu em 1º de abril, na Polícia Militar — à época, o DF contabilizava 354 notificações. Trinta e seis policiais tiveram diagnóstico confirmado para covid-19. Desses, 20 recuperaram-se e um morreu por causa do vírus. O sargento Romildo Pereira tinha 50 anos e faleceu em 2 de maio. Ele apresentava comorbidades e estava na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama, desde 26 de março.
O coronel informou que, recentemente, a corporação efetuou a compra de kits de desinfecção para os veículos oficiais, com borrifadores e detergente. “Cada automóvel terá esse kit. Além disso, a corporação passa por mudanças relacionadas às escalas trabalhistas”, ressaltou. A Secretaria de Segurança Pública esclareceu que disponibilizou 10 mil testes de identificação do coronavírus para os servidores da área, além da distribuição de equipamentos e itens de higienização.
Mais casos
A Polícia Penal é a segunda corporação com o maior no número de casos confirmados. Os servidores lotados nas seis unidades prisionais do DF somam 97 notificações. O primeiro diagnóstico saiu em 3 de abril. Quatro agentes penitenciários seguem internados — um no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e três na rede particular — e um morreu. Francisco Pires de Souza, 45, faleceu no último sábado. Ele trabalhava desde 2010 na Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I), no Complexo Penitenciário da Papuda, e estava internado desde 28 de abril no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e não tinha comorbidades.
Na manhã de segunda-feira, o Sindicato dos Policiais Penais (Sindpen) promoveu uma carreata em homenagem a Francisco. E aproveitou para cobrar melhores condições de trabalho. “Um dos nossos pedidos é a criação de um auxílio-saúde emergencial, com a finalidade de amparar o servidor do sistema penitenciário. Reivindicamos que fosse pago, ao menos, durante o período de pandemia”, explicou o presidente do Sindpen, Paulo Rogério Silva.
Para aumentar a segurança da categoria, a Secretaria de Segurança Pública fará o repasse à Secretaria de Turismo do valor orçamentário para a contratação de um hotel onde policiais penais ficarão hospedados. A situação ocorrerá pelo período de até 30 dias, com possibilidade de aumento de prazo, a depender do cenário pandêmico. Servidores que residam com pessoas do grupo de risco e estejam envolvidos no atendimento presencial dos internos suspeitos ou diagnosticados com a doença poderão aderir ao programa.
Com menos casos, o Corpo de Bombeiros aparece com 14 contaminações, seguido pela Polícia Civil (24). Contudo, o cenário é de insegurança, como avalia Rodrigo Franco, presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol). “Continuamos trabalhando, mas há falta de equipamentos, como máscaras. Temos recebido várias denúncias nesse sentido, principalmente sobre a escassez de EPIs e de luvas de tamanhos diversos”, reclamou.
Em nota oficial, o Corpo de Bombeiros informou que segue os protocolos de segurança e que, quando algum militar apresenta sintoma de gripe, é afastado da atividade e acompanhado pela equipe médica da corporação. Caso a doença persista, o profissional é submetido ao teste da covid-19. “Foram promovidas orientações aos militares da tropa, publicando vídeos com conteúdo sobre prevenção à saúde mental em tempos de pandemia e isolamento. Além do atendimento ambulatorial, utilizamos as redes sociais como ferramenta de auxílio nas orientações sobre saúde mental”, esclareceu.
Mais de 200 denúncias
A situação do sistema prisional do Distrito Federal em meio à pandemia está entre os focos da central de denúncias sobre a covid-19 da Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara Legislativa. Cerca de 220 informações que abordam a situação de detentos e profissionais da área foram dadas ao canal desde 18 de março. As reclamações tratam de questões como insatisfação em relação às condições de salubridade das unidades prisionais, dificuldade de comunicação dos familiares com internos, qualidade da alimentação e preocupação com a contaminação nos complexos prisionais. “O sistema prisional mostrou-se para nós como uma das piores áreas, com esse volume de denúncias. Temos acompanhado a agonia, a tristeza das famílias dos internos”, afirma o presidente da CDH, deputado distrital Fábio Felix (PSol). As denúncias podem ser encaminhadas via WhatsApp para o número (61) 9 9904-1681.