Cidades

Amor em tempos de covid-19

A necessidade de manter o isolamento social durante a pandemia não significa distância de afeto. Moradores de Brasília usam a criatividade e buscam diferentes maneiras de demonstrar apreço por aqueles que amam

Correio Braziliense
postado em 18/05/2020 04:44
Hoje separados pelo isolamento e pela necessidade de mudar de cidade, Jéssica e Izael encontraram alternativas para celebrar um ano 
de namoro

 

 

 

 

 

 

 

 

O isolamento social necessário no combate ao coronavírus tornou mais difícil os abraços e as demonstrações de amor e de afeto. Mas não falta criatividade para externar os sentimentos. A distribuição de carinho vai além das redes sociais e se apresenta pelos quatro cantos da capital em serenatas sob os pilotis ou nas ruas; em cartas escritas à mão; e em presentes entregues às pessoas queridas. A distância física tornou ainda mais essencial esses momentos, de mostrar aos familiares e amigos o quão especiais eles são. E as declarações não se restringem a datas comemorativas.

 

Entre as dificuldades da quarentena, a universitária Jessica Carvalho, 22 anos, e o professor de educação física Izael Junior, 24, comemoraram um ano de namoro, na sexta-feira, mesmo a mais de 3 mil quilômetros de distância. A estudante mora em Brasília e Izael, em Belém. O professor residia no DF desde 2019, mas, com as dificuldades financeiras causadas pela pandemia, Izael não teve outra alternativa senão voltar para a terra natal. “Ele foi embora para Belém no dia do meu aniversário. Com certeza, foi meu pior aniversário”, lamenta Jessica.

 

Para celebrar o amor, a universitária usou as redes sociais a fim de homenagear o amado. “No Instagram, postei um vídeo do IGTV no feed, contando a trilha do nosso relacionamento a partir de fotos, e, nos stories, eu fiz uma declaração aberta. Apesar de ser difícil para mim, pois não gosto de falar em público, eu quero que todo mundo saiba da certeza de que é isso que eu quero para a minha vida”, afirma Jessica. O namorado também não deixou a data passar em branco. Izael contornou o orçamento apertado para presentear a moça com flores, carta e chocolates enviados diretamente do Pará.

 

Laços mantidos

 

A psicóloga clínica e professora de psicologia Meg Gomes explica a importância de se manter os laços afetivos no isolamento. “Somos seres sociáveis e precisamos do outro para nos desenvolvermos enquanto pessoas, mesmo que não estejamos fisicamente próximos. É importante mostrar que o outro tem um significado para você, que é especial”, diz. Para ela, mais importante do que a quantidade de pessoas com que nos relacionamos, é a qualidade desses relacionamentos. “Atualmente, contamos com as redes virtuais, mas quantas são especiais realmente? Quais são as pessoas que se mostram próximas, que estão por perto e se mostram presentes? Isso é muito importante”, explica a psicóloga.

 

Meg destaca, ainda, que demonstrar os sentimentos pode ajudar a autoestima. Além de ligações de vídeo, ela aconselha criar momentos especiais a distância durante o isolamento social. “Um bom jeito é compartilhar refeições por vídeo, como se estivessem perto. Não só uma ligação, mas um momento de reunião, um de lá, outro de cá”, conclui.

 

Serenatas

 

Em meio a tantas tristezas e incertezas, as janelas de Brasília se abriram para reacender uma antiga tradição. As serenatas, hoje, levam alegria às ruas da cidade. A musicista Georgia Nasr, 24, é uma das pessoas que entoa a voz para declarar o amor. Ao lado da mãe, decidiu fazer uma serenata para a avó, Carmem Marques, 65, no Dia das Mães. “Eu montei todo meu equipamento de som e luz embaixo da janela do prédio dela e comecei a serenata com as músicas que ela gosta. A primeira foi logo Amor I Love You (Tribalistas), e na primeira frase já estava segurando o choro”, lembra.

 

Presente na vida da avó diariamente, Georgia explica que, durante a quarentena, tem mantido o contato pelo celular. Segundo a musicista, esse amor e carinho pôde ser relembrado por meio das músicas. “Ela amou a surpresa. Chorou, sorriu, cantou, dançou, bateu palma. Foi um momento muito lindo. Quando cheguei em casa ela me mandou mensagens das vizinhas e dos vizinhos agradecendo pelo momento”, acrescenta.

 

As declarações foram além. Em homenagem ao pai de consideração, o administrador Paulo Cunha, 57, ela foi para baixo do prédio em mais uma serenata. “Comecei com a música que ele ama, Epitáfio (Titãs). Os vizinhos começaram a filmar e me marcaram nas redes sociais. Foi uma repercussão incrível e, a partir daí, as pessoas começaram a me chamar para fazer serenatas para quem elas amam”, afirma.

 

Para a musicista, o sentimento de levar amor ao próximo é único: “A energia em volta dessas serenatas é gostosa demais. E sei que ela é mútua, pela reação e as mensagens que estou recebendo. Estão fazendo diferença no dia de quem recebe e, com certeza, no meu também”, compartilha. “No fim, acho que estamos nos unindo, cada um com o que pode, tentando levar a energia do outro para cima. Como cantora, sinto que as pessoas estão prestando mais atenção, estão ouvindo.”

 

Para o advogado Hernan Rojas, 68, as declarações de amor vão além das publicadas em redes sociais. Elas estão em ações e em palavras. Há 12 anos casado, o costa-riquenho sempre busca a harmonia com a mulher, Nilda Diniz, 57. “Nesse tempo todo juntos, nunca brigamos.Também nunca aumentei o tom de voz com ela. As divergências devem ser conversadas para que a pessoa entenda com todo amor do mundo”, opina Hernan.

 

Um dos segredos do casal é a divisão de tarefas de casa. “A Nilda me ensinou muito sobre compartilhar”, diz ele. Além de fazer faxina no andar de baixo e lavar as louças e as roupas, Hernan passou a cozinhar. “Já fiz arroz carreteiro, bolo de laranja, carnes suína e bovina e saladas”, comenta. As declarações de amor do casal são verbais e necessárias, segundo ele, para manter o respeito e a boa convivência.


* Estagiários sob supervisão de Mariana Niederauer

 

 

 

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