Cidades

Crônica da Cidade

Cineminha contra o tédio


Não sei se a cara leitora e o caro leitor repararam, mas a pandemia deixou Brasília muito parecida com o que era nos anos 80. Naquela época, lembro bem, a gente morria de medo de um vírus novo e letal, quase não via engarrafamento, tínhamos de ver os shows dos artistas que gostávamos pela televisão e, quando chegava o fim de semana, morríamos de tédio.

Pois, para combater esse tédio, com um T bem grande, tive um ideia genial: ir ao cinema com minha namorada! Li neste Correio que o Cine Drive-In estava de portas abertas e, logo no primeiro fim de semana de funcionamento, chamei meu amor para um filminho. Decidimos ir no sábado. Estávamos empolgados e, ainda na sexta-feira, depois do trabalho, parei numa conveniência e enchi a sacola de guloseimas, achando tudo muito barato quando comparava com o preço que pagava nas salas de shopping.

O sábado todo foi mais colorido. Sim, a sala e a cozinha eram as mesmas. A comida do almoço tava vindo, como sempre, de moto, encomendada no aplicativo nosso de cada dia. Mas, dali a pouco, ah, dali a pouco, tinha cinema! Sete e meia da noite, saímos de casa para pegar a sessão das oito e, quando chegamos ao Drive-In, ficamos de olhos arregalados. Havia ali um engarrafamento, o primeiro que víamos em semanas. Pelo jeito, não éramos os únicos na cidade com saudade de cinema. Na pista entre o autódromo e o estádio, uma sequência gigante de carros nos separava da tão sonhada sessão de cinema. Ainda entramos na fila, mas acabamos adiando o programa para o domingo.

Lição aprendida, no domingo saímos de casa cedo e chegamos com quase uma hora de antecedência. Entramos quando o filme anterior ainda acabava e aproveitamos o restinho daquela sessão para tirar selfies (as caras de felicidade eram sinceras!) e aprender as regras do Cine Drive-In durante a pandemia. A mais importante: aquela vaga maravilhosa que você vê assim que entra pode não ser uma vaga. Em época de coronavírus, deve sempre ficar uma vaga vazia entre um carro e outro. Outra fundamental: dentro do cinema, use só farol baixo. E, assim que possível, desligue completamente a luz, porque ela realmente atrapalha o pessoal do carro da frente.

O resto é diversão. Se a cara leitora, o caro leitor têm companheiros de confinamento, o Drive-In é uma boa opção para mudar um pouco a rotina. Confesso que o fato de ficarmos o tempo todo dentro do carro acaba reduzindo a sensação de que "saímos de casa", mas é definitivamente algo diferente de escolher mais uma série ou filme nos streamings da vida. Acho que outro erro nosso foi escolher um filme muito sério. No Drive-In — com o entra e sai de carros e a necessidade de constantemente procurar uma pacote de balas que caiu debaixo do banco — é um pouco difícil se concentrar na película. Uma comédia ou aventura que não exigem tanto a atenção parecem combinar mais. Neste fim de semana, devemos repetir a diversão, com Sonic — O filme, no qual o careteiro Jim Carrey está impagável. Recomendamos.