Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 16:53
O Vale do Amanhecer entrou com uma ação judicial contra o Governo do Distrito Federal (GDF) pela construção de uma Unidade de Básica de Saúde (UBS) em frente ao templo espiritualista, localizado na entrada da cidade. De acordo com moradores do bairro e frequentadores da religião, foram oferecidos outros terrenos para a obra. No entanto, o GDF optou pelo espaço em frente ao portão da sede, em Planaltina. Representante do templo, o advogado Luciano Medeiros Crivellente conta ao Correio que entrou com tutela de urgência junto à Justiça do Distrito Federal pedindo o cancelamento da obra. Ele ressaltou que o local onde está sendo construída a UBS é particular e que foi homologado por lei, em 1991, que a área seria destinada para cultos religiosos. “Há uma intolerância (religiosa) aí. Se não tivesse outro lugar para construir, tudo bem, mas não é o caso. Já entramos com ação na Justiça, denúncia no MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) semana passada, e também na Ouvidoria do GDF, mas não tivemos retorno. Acredito que teremos uma resposta ainda hoje. Esperamos que positiva para nós”, disse.
A obra é fruto de uma emenda parlamentar do deputado distrital Cláudio Abrantes (PDT). Para o arquiteto Rogério Carvalho, 47 anos, frequentador do Vale do Amanhecer há 30, o parlamentar não deu ouvidos aos pedidos da população. “O Cláudio Abrantes decidiu aproveitar a pandemia e resolveu um lugar para a construção da UBS. Ninguém discorda da construção, mas foi feita em um lugar histórico, cultural. Falamos isso para o deputado, mas entrou em um ouvido e saiu no outro”, reclama.
Ao Correio, o parlamentar disse que participou de duas audiências públicas com os moradores do Vale do Amanhecer, uma em 2017 e outra em 2019, durante a qual falaram sobre a instalação de uma UBS na região. No último encontro, realizado em 18 de agosto na Escola Mestre D’Armas, estiveram presentes representantes da Novacap e da Secretaria de Saúde e foi apresentado o projeto e a locação do projeto no terreno. “É uma área pública. Não há cessão ou empréstimo e isso está comprovado na Justiça. A comunidade aprovou”, afirma o deputado Cláudio Abrantes.
Ele ressalta ainda que a comunidade pedia uma nova unidade de saúde na região há muito tempo, já que a única ali existente é em uma casa alugada e o proprietário não quis mais renovar o aluguel. “Para uma comunidade de 30 mil pessoas, não dava. Levei algumas questões para a área técnica da Novacap e avaliaram que se a UBS não for instalada ali, não há outro lugar. Temos todo respeito com a cultura e o ritual. Mas, em meio a uma pandemia, as pessoas têm procurado. Vai ser um ganho. Vamos seguir esse caminho”, declarou o parlamentar.
Em nota, a Terracap informou que fez a demarcação de acordo com o plano da cidade e com os limites do lote, que é destinado a equipamento público.
Os caminhões que deram início à obra chegaram na região na manhã da última quinta-feira (7/5). O arquiteto Rogério Carvalho afirma que a chegada pegou todos de surpresa. “O muro que cerca o templo foi feito de pedra, de uma maneira precária, e as máquinas trepidando ali pode desmoronar a qualquer momento. É um absurdo. Não estão dando o afastamento necessário. É uma intransigência gigante”, afirma. Rogério ressalta ainda que a população tentou reverter a situação com a Terracap. “A única resposta deles é que ali é o lugar e que se fosse feito em outro local, só estaria pronto em dois ou três meses”, completa.
Moradora da região, Regina Maria Maia, 55, não frequenta o templo, mas reconhece a importância que ele tem para a cidade. “É um monumento sagrado para muitos ali. Acho que não deveriam fazer isso. Tem outros espaços que podem ser usados para a construção desse postinho. Podia ser próximo a alguma comunidade mais carente, por exemplo”, sugere a microempresária.
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