Representante do templo, o advogado Luciano Medeiros Crivellente conta ao Correio que entrou com tutela de urgência junto à Justiça do Distrito Federal pedindo o cancelamento da obra. Ele ressaltou que o local onde está sendo construída a UBS é particular e que foi homologado por lei, em 1991, que a área seria destinada para cultos religiosos. “Há uma intolerância (religiosa) aí. Se não tivesse outro lugar para construir, tudo bem, mas não é o caso. Já entramos com ação na Justiça, denúncia no MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) semana passada, e também na Ouvidoria do GDF, mas não tivemos retorno. Acredito que teremos uma resposta ainda hoje. Esperamos que positiva para nós”, disse.
A obra é fruto de uma emenda parlamentar do deputado distrital Cláudio Abrantes (PDT). Para o arquiteto Rogério Carvalho, 47 anos, frequentador do Vale do Amanhecer há 30, o parlamentar não deu ouvidos aos pedidos da população. “O Cláudio Abrantes decidiu aproveitar a pandemia e resolveu um lugar para a construção da UBS. Ninguém discorda da construção, mas foi feita em um lugar histórico, cultural. Falamos isso para o deputado, mas entrou em um ouvido e saiu no outro”, reclama.
Ao Correio, o parlamentar disse que participou de duas audiências públicas com os moradores do Vale do Amanhecer, uma em 2017 e outra em 2019, durante a qual falaram sobre a instalação de uma UBS na região. No último encontro, realizado em 18 de agosto na Escola Mestre D’Armas, estiveram presentes representantes da Novacap e da Secretaria de Saúde e foi apresentado o projeto e a locação do projeto no terreno. “É uma área pública. Não há cessão ou empréstimo e isso está comprovado na Justiça. A comunidade aprovou”, afirma o deputado Cláudio Abrantes.
Ele ressalta ainda que a comunidade pedia uma nova unidade de saúde na região há muito tempo, já que a única ali existente é em uma casa alugada e o proprietário não quis mais renovar o aluguel. “Para uma comunidade de 30 mil pessoas, não dava. Levei algumas questões para a área técnica da Novacap e avaliaram que se a UBS não for instalada ali, não há outro lugar. Temos todo respeito com a cultura e o ritual. Mas, em meio a uma pandemia, as pessoas têm procurado. Vai ser um ganho. Vamos seguir esse caminho”, declarou o parlamentar.
Em nota, a Terracap informou que fez a demarcação de acordo com o plano da cidade e com os limites do lote, que é destinado a equipamento público.
Os caminhões que deram início à obra chegaram na região na manhã da última quinta-feira (7/5). O arquiteto Rogério Carvalho afirma que a chegada pegou todos de surpresa. “O muro que cerca o templo foi feito de pedra, de uma maneira precária, e as máquinas trepidando ali pode desmoronar a qualquer momento. É um absurdo. Não estão dando o afastamento necessário. É uma intransigência gigante”, afirma. Rogério ressalta ainda que a população tentou reverter a situação com a Terracap. “A única resposta deles é que ali é o lugar e que se fosse feito em outro local, só estaria pronto em dois ou três meses”, completa.
Moradora da região, Regina Maria Maia, 55, não frequenta o templo, mas reconhece a importância que ele tem para a cidade. “É um monumento sagrado para muitos ali. Acho que não deveriam fazer isso. Tem outros espaços que podem ser usados para a construção desse postinho. Podia ser próximo a alguma comunidade mais carente, por exemplo”, sugere a microempresária.