Cidades

Covid-19: Quantidade de mortes no Distrito Federal está abaixo do esperado

Estudo mostra que o número de pessoas que faleceram devido à covid-19 no Distrito Federal está abaixo do esperado para o cenário. No entanto, o registro de internações de pacientes infectados pelo coronavírus é superior ao que foi estimado pelos pesquisadores

Correio Braziliense
postado em 14/05/2020 06:00

Na capital federal, 389 profissionais de saúde estão infectados com o coronavírus. Categoria está na linha de frente no combate à pandemiaO Distrito Federal, após 71 dias do primeiro diagnóstico do novo coronavírus, chegou a 3.192 casos e 47 mortes. No entanto, pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) mostra que a capital teria 50 mortes até 11 de maio, mais do que o notificado atualmente. Por outro lado, registros de pessoas mortas com causa provável para covid-19 nos cartórios mostram que, entre 5 de março até ontem, 79 pacientes perderam a vida. Para especialistas, o fato de o DF ter adotado medidas de prevenção antes do vírus se alastrar, pode ser a explicação para o número de óbitos estar dentro do esperado.

 

O estudo, elaborado por 25 pesquisadores da UnB, do Instituto Federal de Brasília (IFB) e de associações científicas, estima a evolução da pandemia do coronavírus no DF e analisa os cenários da doença. A pesquisa também objetiva alertar o governo e oferecer estratégias de conter a disseminação do vírus. “O grande foco dos nossos boletins é mostrar ações que devam ser feitas e tomadas pelas autoridades. São medidas relevantes que o governo deveria observar, de modo que ajude a acompanhar a pandemia na capital”, explicou Edilson de Souza, pesquisador e professor de geociência na UnB.

Na análise por cenários, em um quadro otimista, a capital do país teria 24 óbitos até 11 de maio. O DF, no entanto, aproxima-se de um cenário considerado típico, em que os pesquisadores estimam 50 óbitos até a mesma data. Considerando uma perspectiva pessimista, o Distrito Federal teria um total de 106 pessoas mortas.

A infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) Ana Helena Germoglio ressalta que o fato de o DF estar dentro da previsão do estudo pode ser explicado pelas medidas de prevenção adotadas pelo governo antes de o vírus se alastrar. “Nunca podemos dizer que um óbito é bom. A pessoa que morreu era o amor de alguém, mas os números estão dentro do esperado, porque nos preparamos mais cedo. Paramos os comércios antes de outros estados. Então, provavelmente, por conta desse fechamento precoce dos estabelecimentos, conseguimos agir com mais eficácia”, destacou.

Segundo Paulo Angelo, matemático e pesquisador da rede de tecnologia GigaCandanga, a ideia é de publicar relatórios como esse periodicamente. “Estamos vendo a possibilidade de divulgar por semana ou mês. O interessante é que propomos uma metodologia de acompanhamento da aceleração da pandemia. Mais importante do que a quantidade de casos, está a rapidez que o vírus se dá nas regiões”, argumentou. 

Leitos
Apesar de o Distrito Federal estar dentro da média de mortes previstas, a pesquisa da UnB mostra que a estimativa de pessoas hospitalizadas é menor do que a do cenário atual. Levantamento da Secretaria de Saúde divulgado ontem mostra que há 92 pessoas internadas em unidades de terapia intensiva (UTIs) na capital. Porém, o estudo revela que em um cenário típico, seriam 35 pacientes. Na pior hipótese, haveria 94 pessoas em UTIs.

Até o fim do ano, os pesquisadores estimam que no cenário mais catastrófico, 474 pessoas devem ser internadas em UTIs. Na análise otimista, ocorreriam 13 hospitalizações. Atualmente, a capital conta com 232 leitos desse tipo para pacientes com a covid-19. A expectativa do Executivo local é de que a quantidade de UTIs com suporte ventilatório seja ampliada para 800.

Para a infectologista Ana Helena, essa quantidade de internações pode ser explicada pelo aumento de pessoas de outros estados que vêm fazer o tratamento no DF. “Temos recebido muitos pacientes graves com coronavírus de locais diferentes, que estão em leitos da UTI. Entretanto, a verdade é que quanto mais nos expusermos, mais risco de sermos infectados teremos. Sem falar na sobrecarga da rede pública de saúde. Uma coisa é o médico atender a 10 pessoas. Outra coisa é prestar atendimento a 20, 30 pessoas. Ou seja, quanto mais paciente, mais atenção dividida”, afirmou.
Questionado sobre quais ações estão sendo tomadas para evitar que esse tipo de previsão se concretize, o GDF esclareceu que “tem se empenhado em adotar medidas necessárias para proteger a população e avançar com muita responsabilidade, união e determinação no enfrentamento dessa realidade.”

De acordo com o governo local, 86 leitos estão previstos para serem inaugurados no Hospital da Polícia Militar; outros 70, no Hospital Regional de Santa Maria; 10, no Hospital de Campanha da Papuda; e mais 25, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante. “Outros investimentos em leitos de UTI estão previstos na medida em que 300 novos respiradores sejam comprados e outros 150, que estão sendo restaurados fiquem prontos”, afirmou o GDF por meio de nota oficial. No hospital de campanha no Estádio Mané Garrincha, há 173 leitos (enfermaria e UTI) para tratamento da covid-19. O local começa a receber os pacientes a partir da próxima quarta-feira.

Incidência

Ontem, a Secretaria de Saúde contabilizou mais duas mortes provocadas pelo coronavírus. O óbito mais recente aconteceu ontem. Uma moradora do Guará de 92 anos, portadora de distúrbios cardiovasculares, faleceu no Hospital Home, no Lago Sul. Ela estava internada desde 28 de abril.
A outra vítima é um morador de Ceilândia de 72 anos. O homem tinha diabetes e distúrbios metabólicos, comorbidades que agravam os sintomas da covid-19. Ele deu entrada no Hospital Regional de Ceilândia na última segunda-feira e faleceu no mesmo dia.

Apesar da quantidade de óbitos e casos confirmados, 1.856 pessoas estão recuperadas do coronavírus. A maioria dos diagnósticos é em pacientes de 30 a 39 anos, que somam 932 registros. O segundo grupo etário com maior incidência da doença tem de 40 a 49 anos e totaliza 680 diagnósticos. Com 376 casos, o Plano Piloto lidera o ranking das regiões administrativas com mais registros da doença. Em seguida, estão Águas Claras (242), Ceilândia (173) e Samambaia (161), respectivamente. Além disso, há 468 detentos infectados no sistema carcerário no DF, 389 profissionais da saúde e 282, da segurança pública.

 

Projeção

 

Estudo da Universidade de Brasília mostra possíveis cenários da pandemia no DF até 31 de dezembro deste ano:


Indicador                    Otimista     Típico     Pessimista
Óbitos                          120          1.710      2.701
Pico de hospitalização     31             337       1.110
Pico de uso de UTI         13             148        474

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