Ficar em casa ainda é a melhor maneira de combater a disseminação do novo coronavírus. Em entrevista ao CB.Poder — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —, o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Wildo Navegantes falou sobre as medidas de proteção e os riscos da flexibilização do isolamento, além da eficácia de remédios citados como possíveis tratamentos. Confira.
O Distrito Federal foi um dos primeiros a adotar as medidas de isolamento social. Mas a gente percebe que as pessoas começaram a se cansar de ficar em casa. Hoje, o DF tem 45% de isolamento. O que precisa ser feito? E o retorno do comércio?
Dezoito de maio, talvez seja cedo para reabrir o comércio. Esse cansaço é um processo natural. Porém, precisamos entender que não tem outro remédio. A única maneira de evitar a infecção é mantendo a distância um do outro.
Na sua avaliação, mesmo se houver reabertura no dia 18, as pessoas devem ficar em casa?
O Governo do Distrito Federal (GDF) tem feito uma avaliação diária, e o grupo técnico tem dado informações estratégicas. Provavelmente, ele vai prorrogar um pouco mais, justamente pelo fato de as pessoas não se distanciarem. O efeito da doença aparece em cerca de 14 dias. Então, nós teremos maior competência para avaliar daqui alguns dias, se temos condições para a reabertura ou não.
Sobre o distanciamento, como fazer com as pessoas que estão com dificuldades financeiras por não poderem trabalhar?
Vou responder em três partes: primeiro, para aqueles que podem ficar em casa, preservem-se em casa. Isso diminui a circulação do vírus, protegendo quem precisa sair. Segundo, para os mais frágeis, precisa de uma preocupação maior do Estado, ofertando recursos financeiros com mais agilidade. Terceiro, não tem outra saída. Ou faz o isolamento ou não teremos leitos na magnitude que a doença exige. É melhor sofrer um pouco mais em casa, a perder a vida.
Como está sendo a atuação da UnB? Ela deve fazer alguma recomendação?
Temos 135 projetos em andamento para desenvolver soluções. Por exemplo, estamos produzindo máscaras cirúrgicas, álcool em gel, tentando identificar candidatos a vacinas (fragmentos do vírus possíveis de infectar artificialmente alguém gerando proteção contra o vírus), além de fazermos exames rápidos e protocolos de pesquisa para testar novos medicamentos.
Falando em remédio, temos a hidroxicloroquina, citada várias vezes pelo presidente Jair
Bolsonaro. Qual a sua avaliação?
Nenhum estudo afirma que funciona. Não só esse, como outros medicamentos. A gente não tem nenhum dado preciso para recomendar nenhum medicamento. Se eu fosse ele, não recomendaria. Quem prescreve medicamento são os médicos, de acordo com a condição de cada paciente. Isso não deveria ser orientado abertamente para a sociedade como um todo.
Muitos estão com medo de ir ao hospital. Quando ir? O que seria o agravamento da doença?
Se tiver um quadro clínico mais leve, o ideal é procurar um posto de saúde. O hospital é para casos mais graves. A falta de ar é o grande gatilho para procurar um hospitalar.
Algumas pessoas estão deixando de ir aos hospitais para fazerem tratamentos médicos. Como essa pessoas devem agir?
Elas devem manter o tratamento dado por orientação médica. Tem paciente que precisa fazer hemodiálise, tratamento de câncer. Não deixem de se tratar, se os médicos prescreverem o tratamento. Em caso de check-up, se puder esperar um pouco, for uma pessoa jovem e puder aguardar, sim, mas se não quiser, faça. O mesmo para exames como mamografia, se o médico solicitar fazer em certa data, siga a orientação.
Em relação às pessoas que já tiveram a doença, elas têm anticorpos?
Provavelmente sim, nós esperamos isso, porém não temos evidência se ela pode se reinfectar. A doença ainda é muito jovem, a gente não tem essa informação.
Por quando tempo o senhor acha que devemos continuar usando máscara?
A máscara caseira deve ser usada até termos outras soluções, como a vacina. Por mais que o distanciamento social seja flexibilizado — o que eu não recomendo—, a minha sugestão é continuar usando.
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