O primeiro Dia das Mães
Agora é pra valer. Em maio do ano passado, já carregava Alice no ventre, mas a chegada dela fez qualquer celebração da maternidade tomar outra dimensão. Para além de uma data aguardada pelo comércio, consiste em vivência digna de comemoração mesmo.
Cada momento do dia, cada sorriso, cada aprendizado impressionam de maneira inimaginável. “Mãe é um coração que bate fora do peito”, resumiu lindamente uma mulher que encontrei no primeiro passeio após o parto. Pai e avô assumiram os cuidados enquanto eu assistia ao bate-papo com Mia Couto na Embaixada de Portugal.
Havia acabado de passar por uma quarentena. Ficávamos a maior parte do tempo em casa, tanto porque os cuidados com um recém-nascido exigem muito quanto pela necessidade de preservar a saúde do bebê, ainda extremamente frágil nesses primeiros dias de vida.
Aquele mergulho poético nas palavras do escritor fortaleceu as bases, trouxe leveza e emoção. Qualquer dia desses voltarei ao tema, destacando algumas frases que pesquei do evento com o moçambicano.
Mas, hoje, eu queria retornar à estante que tem ilustrado os meus dias. Alice, danada que só ela, acertou em cheio na escolha do livro que puxou dali, certo dia, para brincar. Paz, de Angela Leite de Souza, é um aconchego para o coração, tudo o que se precisa no meio dessa pandemia que mudou nossas vidas.
A experiência do livro é tridimensional e sensorial. Impossível transmiti-la apenas por escrito, mas tentarei dar uma breve ideia aqui e recomendo ao leitor, se puder, que encomende a obra assim que possível.
Os personagens da história são botões e outros itens de costura. Os objetos encenam pelas páginas sentimentos e atitudes que, no fim, ensinarão o verdadeiro significado da paz.
Ao longo do livro (aviso de spoilers, mas dos mais gratificantes!), aprendemos que paz não é “uma pomba branca com um ramo de oliveira no bico”. Nem suportar o vizinho, o diferente ou o outro. Muito menos “ficar quieto no seu canto enquanto o mundo explode ao redor”. “Não é buscar segurança, ou conforto, ou riqueza, ou tudo isso junto”.
Paz, revela Angela, “é ter um coração tão grande, tão imenso, que não sobra em você nenhum espaço para o ódio, a mágoa, a tristeza, a indiferença, o medo”. Aprendemos ainda que a paz é irmã da paciência e filha da solidariedade. “Seus pais se chamam amor e seus avós se chamam perdão.”
“A paz… vai chegando de mansinho... e acontece quando você descobre que está feliz porque o mundo inteiro está feliz!”