O cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 42 anos, foi condenado a 10 anos de prisão pelo estupro de uma jovem que, à época do crime, tinha 17 anos. O julgamento ocorreu ontem, na 2ª Vara Criminal do Paranoá. O abuso aconteceu em 1º de abril de 2019, mas a jovem só denunciou o acusado em agosto, após ele ser preso pelo feminicídio da advogada Letícia Curado, 26 (leia Memória). A defesa diz que vai recorrer da decisão.
De acordo com o depoimento da vítima, o ataque ocorreu na área de Pinheiral, região do Paranoá. O juiz responsável pelo caso, Julio Cesar Lerias Ribeiro, replicou a história contada pela garota. “Disse que um indivíduo, em um veículo vermelho, ofereceu carona. Diante da negativa, ele desceu do automóvel e, com uma faca na mão, a obrigou a entrar no banco de trás do carro sob ameaça de morte, seguindo para a região do Pinheiral, onde estacionou. Ele tirou a calça dela e a obrigou a manter relação sexual”, leu.
Depois de ser estuprada, a jovem afirmou ter sido agredida fisicamente pelo cozinheiro. “O autor a enforcou, deixando-a tonta. Logo depois, ele a empurrou para fora do veículo e lhe deu um chute na perna, dizendo que ela era um lixo e foi embora. A vítima disse que foi para casa e não contou o ocorrido para ninguém”, acrescentou.
A defesa de Marinésio, realizada pelo advogado Marcos Venício Fernandes Aredes, apresentou álibi de que o cozinheiro estaria em casa no momento em que a vítima foi abusada sexualmente. Para embasar a tese, foram apresentados prints de conversas da filha do réu com uma amiga. Na época do crime, a família residia no Vale do Amanhecer, em Planaltina.
Diante das provas apresentadas pela defesa, o magistrado refutou a versão. Julio Cesar Lerias Ribeiro argumentou que “os prints do celular da filha do réu não comprovam que ele estava em casa no momento dos fatos descritos na denúncia. Apenas demonstram que já estava em casa, porque o pai a havia pego na escola e, às 17h25, também falou que o pai estava ali. Entretanto, não é hábil em comprovar que no horário descrito na denúncia, por volta das 14h, o réu estava em casa. Assim, é inviável a acolhida da tese de impossibilidade de o réu estar em dois lugares ao mesmo tempo.”
Outro ponto explorado pelo advogado Marcos Venício era de que Marinésio não poderia ter cometido o crime porque não tinha um carro vermelho — ele era proprietário de uma Blazer prata. “Sobre a impossibilidade de o réu estar na posse do veículo Palio vermelho de propriedade do irmão, pois já havia sido alienado, em nada afasta a autoria. Salvo melhor entendimento, a acusação não apontou que o crime se consumou no interior do carro de propriedade do irmão do réu. Apenas indicou ter acontecido em um carro vermelho, e que o irmão do réu possuiu um veículo vermelho, o qual o réu já tomou emprestado em algumas ocasiões”, analisou o juiz.
“A ofendida, em todas as oportunidades em que foi ouvida, narrou o fato de forma precisa, com riqueza de detalhes, e sempre de forma coerente. Sendo assim, (...) ficou evidenciado que o réu praticou o crime. Os depoimentos coerentes e firmes da ofendida são amplamente confirmados pelos demais elementos de provas”, afirmou Julio Cesar Lerias Ribeiro, ao embasar a decisão.
O magistrado determinou que o cozinheiro cumprirá a pena em regime inicialmente fechado. “A folha de antecedentes criminais do réu revela que ele é contumaz na prática de delitos contra a dignidade sexual, o que indica que, possivelmente, ele não se curvará de bom grado a aplicação da lei penal, e que ele, em liberdade, traz intranquilidade e insegurança à comunidade. Todos esses fatores aconselham a manutenção da prisão do acusado”, finalizou.
Segundo o advogado Marcos Venício, a defesa vai recorrer da sentença, pois o juiz teria tomado a decisão baseado apenas no depoimento da vítima. “Não foi levado em consideração que ela reconheceu o veículo vermelho, que era do irmão, ‘sem qualquer sombra de dúvidas’ (como o usado no crime). Isto é impossível, uma vez que este carro foi vendido há mais de dois anos antes do fato, não podendo assim o acusado ter se utilizado dele”, alega.
Advogada
Um dos casos em tramitação (leia Denúncias) no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) é o de Letícia Curado. Marinésio responde pelo homicídio quintuplamente qualificado: feminicídio, motivo torpe, pela forma cruel, asseguração da impunidade e, por último, dissimulação. Ele também responde por ocultação de cadáver, tentativa de estupro e furto. O julgamento ainda não tem data.
Durante as audiências de instrução do caso, testemunhas foram ouvidas, assim como Marinésio Olinto. Segundo o advogado de defesa dele, Marcos Venício, o cozinheiro mostrou arrependimento. “Ele manteve a versão apresentada anteriormente, na qual teria tentado manter uma relação sexual com a vítima. Quando teve o pedido recusado, acabou perdendo a cabeça e matando-a. Mas, durante o depoimento, ele se mostrou muito emocionado e chorou bastante. Acredito que o estigma do monstro, criado em cima da imagem dele, começa a ser desconstruído”, destacou.
“Acho que a acusação tem uma visão diferente daquela construída no início do processo. Espero que todas as ações sejam tomadas com consciência, mas é preciso aguardar o andamento do processo até o julgamento para, realmente, vermos o que vai ocorrer”, acrescentou Marcos Venício.
Para o Promotor de Justiça Nathan da Silva Neto, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o depoimento prestado por Marinésio, em audiência, não muda a posição da acusação, que continuará trabalhando para que ele vá a julgamento por todos os crimes imputados do assassinato de Letícia Curado. “Como o caso segue em sigilo, o que posso dizer é que Marinésio confessa parcialmente os crimes e se esforça para construir uma narrativa que lhe favoreça no Tribunal do Júri”, limitou-se a dizer.
Auxiliar de cozinha
Marinésio também é indicado como o suspeito do feminicídio da auxiliar de cozinha Genir de Sousa, 47. O MPDFT encaminhou o inquérito policial da investigação do assassinato novamente para a 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). A ação ocorreu para que o laudo do local onde o cadáver da vítima foi encontrado fosse incluído ao processo.
O caso tinha sido entregue ao órgão em agosto passado, quando Marinésio confessou ter matado Genir. A mulher estava em uma parada de ônibus de Planaltina, em 2 de junho, um domingo, aguardando o transporte público para seguir ao Itapoã. Ela morava na cidade com o filho. O corpo de Genir foi encontrado 10 dias depois, em uma região de mata entre Paranoá e Planaltina.
- Denúncias
» Homicídio quintuplamente qualificado da advogada Letícia Curado, em 23 de agosto. Marinésio também responde por ocultação de cadáver, tentativa de estupro e furto
» O ataque de duas irmãs, de 18 e 21 anos, em 24 de agosto, um dia após o assassinato de Letícia Curado. Elas saíram de uma festa e pegaram uma carona com o cozinheiro. Elas conseguiram fugir depois de ameaçarem quebrar o carro de Marinésio com uma barra de ferro. Ele responde pelo estupro da vítima mais velha e pela tentativa de abuso sexual quanto à mais jovem
» Abuso sexual de uma mulher, que ocorreu no Guará. Como o processo é digitalizado, não havia informações sobre o crime
» Estupro em Sobradinho, que ocorreu entre 2013 e 2014. A vítima pegou uma carona com Marinésio, na Blazer cinza, para Sobradinho. Durante o trajeto, o suspeito teria desviado o caminho para uma estrada de chão, próximo ao Pólo de Cinema da cidade. Ali, cometeu o crime constrangendo a vítima sob ameaça
» Caso de privação de liberdade de uma jovem de 21 anos, que pegou carona com Marinésio no carro dele, uma Blazer cinza, em 2017. À época, a vítima tinha 19 anos. Ela relatou que o cozinheiro tentou uma investida sexual, mas ela não quis. Depois de algumas tentativas, ele deixou a mulher na porta de casa. Com medo, ela se mudou
» Caso que está na 1ª Vara Criminal de Planaltina, no entanto sem informações disponíveis sobre a vítima e o crime
* O caso do assassinato da auxiliar de cozinha Genir de Sousa, 47 anos, em 2 de junho, ainda não está em trâmite na Justiça - Memória
Cozinheiro maníaco
O cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto foi preso em 24 de agosto do ano passado, acusado do feminicídio de Letícia Curado. Agentes da 31ª DP (Planaltina) chegaram ao suspeito após relatos de a advogada ter entrado no carro dele, uma Blazer cinza, no dia anterior. Em interrogatório, Marinésio confessou o crime, ao ser confrontado com as provas coletadas. Ainda naquele dia, ele afirmou ter assassinado Genir de Sousa, em 2 de junho, um domingo. A auxiliar de cozinha aguardava por um ônibus para Planaltina, em uma parada do Paranoá. Ela também entrou no carro de Marinésio. Em ambos os casos, ele se passou por motorista pirata.