Cidades

Empreendedores criam novas estratégias impulsionadas pelas redes sociais

Quem souber se adaptar bem ao período pode até crescer durante a crise de Covid-19


Os impactos econômicos da crise causada pelo novo coronavírus são sentidos não só por grandes indústrias, mas também por microempreendedores. No Distrito Federal e em todo o país, não são poucos os que viram o valor das contas ser maior do que a renda do mês. Tanto porque vários estabelecimentos precisaram fechar as portas quanto porque os consumidores estão com o faturamento prejudicado: o Ministério da Economia estima que 1 milhão de pessoas perderam o emprego durante a crise.

Nacionalmente, a taxa de desocupação do primeiro trimestre deste ano teve alta de 1,3 ponto percentual quando comparada com o último trimestre de 2019, chegando a 12,2%. No DF, pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio) mostrou que 37,8% dos empreendedores estão com dificuldade de realizar pagamentos rotineiros. Em meio aos números negativos, a ordem é se reinventar, mesmo que de casa ou, no negócio, mas a portas trancadas.

Neste período em que grande parte do comércio está fechado na capital federal e a principal recomendação médica de combate ao coronavírus é o distanciamento social, o primeiro passo necessário para garantir a renda do mês é a organização, como explica a consultora financeira Catharina Sacerdote. “É hora de organizar as contas, saber o que é prioridade, o que não pode ser negociado e o que pode ser deixado para depois. É como montar um novo plano de negócios, tanto financeiro quanto de novas formas de vendas”, ensina.

“É um momento de criatividade e de inovação”, diz. Uma das estratégias que vêm sendo adotadas pelos moradores do DF é a comercialização de produtos on-line. A especialista considera que esse meio permite muitas possibilidades. “A pessoa deve pesquisar as plataformas digitais que já existem e ver os tutoriais de utilização e, assim, conseguir usar esses canais para vendas”, diz. “É como uma tática de guerra: a gente avalia cenários, busca mais de um caminho e faz testes do que vai dar resultado”, observa.

Após analisar as opções, quem deseja apostar no e-commerce neste período deve criar conexões com os compradores, segundo Catharina. “As redes sociais são instrumentos poderosos para este período de comércio on-line. Por meio delas, o empreendedor consegue contar uma história e isso gera muita conexão com os clientes”, afirma. “É hora de mostrar o diferencial, criar um registro digital da sua venda, ser autêntico e demonstrar o propósito na plataforma”, detalha.
 
Possibilidades na quarentena
 
 
O negócio de Ronney Portela, 30 anos, aprendeu na prática a importância da comunicação digital com os resultados positivos do período de quarentena. Ele e a irmã, Thayse Portela, 29, construíram um empreendimento de venda de materiais para o lar, que se reinventou durante a crise. “Ficamos mais de 20 dias sem atividades, até que vi que precisava fazer algo. Montei um esquema de delivery e hoje enxergo um milhão de oportunidades, porque fizemos um trabalho em nossa conta do Instagram e hoje recebemos pedidos de clientes que não conheciam a loja”, conta Ronney.
 
A conta da rede social do empreendimento, o Shopping da Casa, tem quase 30 mil seguidores. O público confere produtos e pode conversar com lojistas pelo celular, o que permite uma experiência semelhante a um passeio à loja física.
 
“Vimos que 40% das entregas que fazemos são de clientes que nunca foram à loja. Nosso diferencial é se comunicar nas redes com um atendimento humanizado. O seguidor diz que precisa de um copo, eu envio dez fotos, de dez modelos de copos para ele. Chamo pelo nome, mando vídeo, faço o que posso”, conta o empresário. O trabalho cresceu tanto que antes eram duas pessoas responsáveis pela conta no Instagram, e hoje são oito.
 
“Nossa demanda aumentou 200%, tudo por conta desse período que estamos vivendo. Quando a pandemia passar, quero continuar com esse serviço de delivery, que vi ser uma boa oportunidade”, adianta. Ronney diz ainda que o mercado de produtos para o lar tem ganhado novas caras neste período, já que os brasilienses estão passando mais tempo em casa e querem se sentir confortáveis no ambiente.
 
“Antes, muita gente só ficava mesmo em casa no fim de semana, mas agora temos mais tempo de colocar um papel de parede, comprar um objeto para a cozinha ou sala”, relata.  


O levantamento da Fecomércio mostrou ainda que:


64,9%
dos empreendedores confirmaram que o impacto negativo da crise provocada pela pandemia foi alto

16,2%
implantaram o comércio de produtos on-line

14,9%
adotaram a compra com retirada no local

87,1%
disseram que vão continuar com os serviços implantados depois da abertura do comércio

48,6%
responderam que anteciparam as férias para parte dos empregados

36,5%
afirmaram ter reduzido a jornada de trabalho dos funcionários

Curso


Estude para ter bons resultados
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) oferece gratuitamente o curso “Como vender pela internet na crise do coronavírus”. As aulas ensinam técnicas para melhorar a performance nas redes sociais e aumentar o tráfego de clientes nos canais de vendas. Ao fim, os participantes recebem um certificado digital com verificação de autenticidade. Essa e outras opções de cursos podem ser acessadas no site www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae, na aba “Cursos gratuitos para você fazer na quarentena”.

Nova tendência de consumo


Quem também identificou novas tendências de consumo neste período foi Isabela Alvares, 23. A jovem produz doces e bolos em casa e faz entregas. Tudo começou quando ela resolveu juntar dinheiro para comprar um celular. A confeitaria se provou uma boa aposta para isso e, agora, o delivery não para durante a quarentena. “O início foi até engraçado. Eu queria um celular novo e vi que, se eu vendesse doces, talvez poderia ter um”, conta.
 
 

“Sem saber se daria certo, aprendi as receitas no YouTube e anunciei os produtos na internet. Cheguei a vender mais de 150 ovos de Páscoa e comprei o aparelho que era meu sonho”, lembra. “Depois, vi que, se eu tinha conseguido alcançar aquele desejo de consumo, conseguia também ter uma renda a partir disso”, relata. 

Isabela passou a movimentar mais o Instagram que criou para o negócio, o @supremo.doce, incluir mais pessoas no empreendimento para dar conta das demandas e dar atenção aos pedidos pelo WhatsApp.

“As vendas dobraram com esse isolamento, acredito que porque as pessoas estão mais ansiosas e o doce alivia isso. Fazemos pronta-entrega nas quintas-feiras e nos sábados, e chegamos a produzir mais de 1.500 produtos por dia”, comemora. Ela dá uma dica primordial para quem deseja aproveitar este momento para conseguir uma renda: conhecer as próprias possibilidades. “É preciso pensar no que a pessoa sabe fazer e investir naquilo, porque precisamos ter um ponto de partida, começar, ir sem medo. Se a pessoa gostar do que se propõe a fazer, não vai se arrepender e pode ter sucesso”, afirma. 

Dicas

Quatro mandamentos financeiros

 
A consultora financeira Catharina Sacerdote explica como começar ou ampliar as possibilidades de negócios durante a quarentena. 

O ponto inicial para todo negócio ainda é o planejamento. Avalie quem é o cliente, qual é o produto, por qual preço ele deve ser vendido para atender às necessidades da empresa e como irá vendê-lo. Há muitas demandas novas nascendo, como atendimentos específicos em casa, entrega de serviços, produção de sites, gerenciamento de redes. O empreendedor pode avaliar o ponto forte que possui e oferecer parceria com outros estabelecimentos que não estão preparados para isso;

Do ponto de vista das finanças, quem não tem uma reserva pode fazer um ajuste no orçamento, renegociar as dívidas que forem possíveis, mesmo aquelas que estão em dia, para que possa existir um respiro nas contas, e ter um pouco de dinheiro que possa ser reservado para investir na produção e, assim, manter o negócio vendendo durante o período;

O empreendedor pode buscar as linhas de crédito que estão sendo oferecidas com taxas especiais de juros. No entanto, antes disso, é preciso fazer o exercício de planejar os custos e a previsão de receita. É bom ter em mente que vender é uma prioridade no momento;

Para os prestadores de serviços, oferecer vouchers ou kits por assinatura para que o cliente utilize o serviço no futuro também é uma maneira de vender neste momento. Repare que tudo permeia o planejamento, já que é preciso ter um equilíbrio de serviços oferecidos na pandemia e no período pós-pandemia, para que a situação não afete demais o faturamento futuro.
Arquivo pessoal -
Marcelo Ferreira/CB/D.A Press -