Nos versos, escritos em 2000, Geraldo homenageia o jornalista e a história da Super Rádio. Hoje, aos 71 anos, ele presenteia Brasília com a obra. “Eu era fanático pela rádio. Ela faz parte da história da capital. Mesmo tendo iniciado as atividades 20 anos depois da construção de Brasília, ela foi a maior difusora da música clássica e mostrou essa importância para a cultura. Ela era única”, declara o aposentado.
Na década de 1980, ainda trabalhando no STF, ele percebeu que os ministros ficavam entusiasmados com música clássica. Como trabalhava no setor de áudio, teve a ideia de levar a Brasília Super Rádio FM para dentro do órgão. “Sugeri ao presidente da época que colocássemos o sinal dela no âmbito do STF e ele concordou. Liguei para o Mário e disse que tinha um projeto para apresentar. Fui até a sede da rádio e tive meu primeiro encontro com o casal”, lembra Geraldo. “Duas pessoas muito receptivas”, ressalta.
Geraldo lembra que Mário era apaixonado por astronomia e soube ali que ele daria aula na Universidade de Brasília (UnB). “Ele contava que olhava pelo telescópio e via, no céu de Brasília, uma estrela, fazendo alusão à esposa dele. Eles eram muito amigos”, conta.
Após a conversa, a ideia estava aprovada. Além de ter a programação da Brasília Super Rádio FM nos corredores do Supremo, uma sala foi reservada para o famoso programa Um piano ao cair da noite, com música tocada ao vivo também. Após a parceria, veio a ideia do poema. “Nos anos 2000, Mário estava com 80 anos e a rádio completava 20. Os amigos costumavam dizer que ele tinha 100 anos, juntando a idade de vida com o período que a rádio estava no ar. Por isso, meu poema chama-se Aos 100 anos do Mário’’, explica Geraldo. A emissora ficou no ar, com a mesma programação, por quase 38 anos. Em 2018, foi comprada por outra rádio e se tornou Alpha FM.
Abençoada
Inaugurada em 1980, a Super Rádio recebeu a bênção do papa João Paulo II. À época, o pontífice visitava o Brasil e, por meio dos fortes laços criados com representantes da Arquidiocese de Brasília, Mário conseguiu levar o sacerdote até o local onde seria a sede da rádio, na Torre de TV. A partir de então, os laços com o Vaticano se estreitaram e as missas realizadas ao meio-dia de domingo na Santa Sé eram transmitidas, ao vivo, com tradução simultânea, na frequência 89,9.
Mário também tinha um bom relacionamento com as embaixadas da Alemanha, dos Estados Unidos, da Itália, entre outros países. Essa conexão fez crescer ainda mais a programação da Super Rádio, com músicas europeias e notícias internacionais.
Durante a semana, as músicas eram predominantemente instrumentais. Tinha clássica, italiana, francesa, americana e muita MPB. Aos sábados e domingos, as obras cantadas ganhavam espaço. Com a chegada de mais profissionais, a lista de parceiros foi crescendo, e, aos poucos, noticiários da China e da Rússia apareciam.
Incentivadores
A emissora ocupava também um espaço ao lado do BRB, no subsolo do shopping Conjunto Nacional. Ali, era um ambiente aberto ao público e exposto a todos que passavam pelo local. Mário e Lúcia recebiam convidados para tocar. A ideia era divulgar a programação cultural da cidade e dar oportunidade aos músicos locais.
Um dos funcionários mais antigos da Brasília Super Rádio FM, Lusilvio Correia de Lima, 57 anos, lembra com detalhes como chegou ao estúdio, em 1983. Aos 19 anos, desempregado, recém-saído do quartel, onde prestava serviço para o Exército, conseguiu emprego de motoboy na emissora. “Fazia os pagamentos, ficava bastante na rua. Com o tempo, aprendi a operar som e troquei de função, mas sempre fiz de tudo lá. À época, era usado gravador de rolo, tocava vinil, tudo muito rudimentar ainda, mas tinha muito amor ali”, conta.
Silvio, como é chamado, recorda-se que Mário sempre esteve presente. Lúcia também. “Ele era a força. Ela, a coordenação”, ressalta. Além de atuar na área financeira e comercial da emissora, alguns programas contavam com a locução dela. “O seu Mário a treinou lá, para que soubesse tudo sobre locução. Tinha uma voz maravilhosa. Era o braço direito dele”, comenta o operador.
Assim que Mário morreu, em 2004, aos 84 anos, devido à falência múltipla dos órgãos, Lúcia assumiu o comando da rádio. “Ela se reuniu com a equipe e disse que tocaria o sonho do marido. Ela ficou à frente por uns 10 anos. Depois, ficou doente e debilitada”, conta. Lúcia Garófalo morreu em 2017, aos 72 anos, após lutar contra um câncer.
A Brasília Super Rádio FM ficou sob os cuidados dos familiares do casal por um ano. Em 30 de abril de 2018, ela encerrou as atividades e, em 1º de maio, a sintonia passou a se chamar Alpha FM. “A Super Rádio funcionava por amor. Era o prazer da vida de seu Mário e dona Lúcia. Eu não sou uma pessoa religiosa, mas acredito que muita coisa que funcionava ali era por algo espiritual, porque sempre dava certo”, completa Silvio.
O Poema
Aos 100 anos de Mário
Por Geraldo Costa Pinto (escrito em 2000)
Jornalista Mário Garófalo, 80 anos de praia,
Professor da UnB e Mestre em Astronomia,
Que estrela procuras lá nos céus?
Para achares, luneta alguma te ajudaria,
Pois, aqui na Terra, bem ao teu lado,
Está aquela que te ilumina noite e dia.
Em Brasília ele fundou a Super Rádio FM,
Cujo dono, já sabemos, é Mestre sem idolatria,
Sua Emissora é sucesso na cidade,
Tem som cristalino que é pura sinfonia,
Sua frequência é de 89,9MHz,
A potência do sinal por toda Terra irradia.
Na solidão do Planalto Central,
Ela é o bálsamo na psicoterapia,
Alívio, para os males da alma,
Cura, para nossa melancolia.
Esse verdadeiro marco da cidade,
Foi erguido próximo à Torre de TV,
Hoje, é símbolo da nossa História,
Fundado por um gênio para nos entreter.
Abençoada por João Paulo II,
Há vinte anos tem sido nossa alegria,
Sua música relaxante purifica o espírito,
Aliviando o estresse do nosso dia a dia.
Suas ondas, feito a brisa, pelo espaço se propagam,
Controlada, por sua equipe, com muita galhardia,
Lá, diretores e funcionários trabalham bem entrosados,
Caprichando na qualidade da nossa sintonia.