Policiais penais apreenderam drogas, celulares, armas e outros itens ilícitos no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). A unidade prisional abriga 1.292 detentos. A capacidade é de 1.067 vagas. A operação, batizada Covid-19, teve início em 15 de março e resultou na prisão de 26 pessoas.
Dados fornecidos ao Correio mostram que, durante 45 dias, os policiais penais apreenderam 5,13kg de maconha, 186g de crack, 57g de cocaína e 208 comprimidos de Rohypnol — medicamento usado para diminuir crises de ansiedade e distúrbios do sono —, além de 246 aparelhos celulares, 133 carregadores, 26 facas, 86 chips telefônicos e quatro estilingues. Investigações apontam que todo o material foi arremessado de fora para dentro do CPP.
Desde a determinação da Justiça, em 20 de março, que suspendeu as saídas temporárias dos internos do regime semiaberto, como medida de contenção ao novo coronavírus, as tentativas de introdução de drogas, armas e telefones intensificaram-se na unidade. “Algumas pessoas que foram presas são ex-internos da unidade, que estavam em prisão domiciliar. O CPP não tem o formato de uma cadeia, parece mais um galpão, tanto que o muro é baixo”, afirmou o presidente do Sindpen, Paulo Rogério da Silva.
Medidas
Em ofício enviado à Secretaria de Segurança Pública, o Sindicato dos Policiais Penais do Distrito Federal (Sindpen-DF) pede a construção de um muro de contenção de tela moeda na altura das brisas do CPP. O documento, o qual o Correio teve acesso, detalha a operação de apreensão dos produtos ilícitos e cobra a atenção das autoridades.
Por meio de nota oficial, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) esclareceu que reforçou o efetivo de policiais penais na unidade, implementou rondas externas e solicitou o apoio da Polícia Militar no policiamento nas proximidades da unidade prisional.
“O reforço é feito desde a suspensão cautelar, e de forma excepcional, das saídas temporárias de internos, como parte de um conjunto de medidas voltadas à prevenção e combate aos efeitos da propagação do novo coronavírus no sistema penitenciário do DF”, informou a pasta.
De acordo com a secretaria, as medidas visam o aumento da segurança no Centro, que tem características de casa de albergado. A pasta destacou, ainda, que por causa disso, não há a possibilidade da construção de um muro mais alto do que o existente no local, tão pouco a instalação de concertinas.
Filmagem
No fim do mês passado, com camisetas escondendo os rostos, presos produziram um vídeo e divulgaram nas redes sociais.
Na filmagem, os sentenciados pediram a prisão domiciliar — benefício concedido pela Justiça aos presos com progressão de regime marcada para julho — e denunciaram as condições precárias do CPP. Em uma cela cheia, um dos presos lê um papel com a mensagem sobre a qual, segundo ele, “todos estão de acordo”. Os internos pedem às autoridades que tomem alguma providência para combater um provável surto de coronavírus.
“Somos trabalhadores do semiaberto, transformado em fechado, convivendo com mais de 500 em cada ala. Entre eles, presos com febre, tosse, oprimidos por uma situação que é desumana: escorpiões, lixo e excesso de pessoas”, disse o porta-voz do grupo. Ele destaca, ainda, o risco de os detentos adoecerem. “Pedimos que nos permitam enfrentar a situação junto com nossas famílias, pois é risco de vida, estamos todos juntos, se um pegar corona, todos serão contaminados. Pedimos em nome de nossa saúde”, diz o detento.
Dias depois da circulação do vídeo, membros do MPDFT visitaram o Centro de Progressão Penitenciária para apurar as denúncias e reclamações relacionadas a maus-tratos sofridos por detentos. A equipe averiguou, ainda, reclamações sobre a ausência de atendimento médico aos presos, principalmente em decorrência do novo coronavírus.
Promotores de Justiça verificaram que o serviço médico da unidade está funcionando normalmente e não há casos de maus-tratos. A direção do presídio informou, ainda, que os presos que apresentam sintomas de gripe estão sendo alojados em celas separadas