Um novo método de tratamento para a Covid-19 começará a ser testado pelo Governo do Distrito Federal. Em cerimônia com a presença do governador Ibaneis Rocha (MDB) e de integrantes do primeiro escalão do governo, o Executivo local anunciou, ontem, que pesquisará a eficácia e a segurança da transferência de plasma sanguíneo de pacientes recuperados para quem está contaminado.
A iniciativa será promovida pela Fundação Hemocentro do DF, com apoio da Secretaria de Saúde e da Universidade de Brasília (UnB). Chamada de transferência passiva de imunidade, a técnica passa, por meio de transfusão do plasma sanguíneo, anticorpos de pessoas que tiveram a Covid-19 e se curaram para quem está com a doença.
Não há, até então, evidências clínicas de que esse tipo de tratamento é eficaz para conter o novo coronavírus, mas estudos realizados em diversos locais buscam comprovação para a efetividade do método. O Hemocentro destaca que a técnica foi empregada, anteriormente, para o tratamento de outras doenças virais com sucesso.
“Essa técnica já foi usada em vários locais do mundo, principalmente no combate à Sars, à H1N1 e ao ebola. Em todos esses casos, houve melhora no quadro dos pacientes. Agora, foi também utilizada na China contra a Covid-19”, afirmou o presidente da Fundação Hemocentro, Osnei Okumoto.
Ele frisou a importância do estudo para balizar o uso do plasma sanguíneo de recuperados no combate ao novo coronavírus. “Esse trabalho de pesquisa sobre a utilização desse protocolo é fundamental para demonstrar efetividade no tratamento de pacientes graves. O Rio de Janeiro também tem utilizado, assim como São Paulo”, complementou Okumoto.
O Ministério da Saúde monitora os estudos feitos para validação do método, já em andamento há alguns dias em hospitais de referência como o Albert Einstein, de São Paulo. Na capital federal, o Hospital Regional da Asa Norte (HRan) e o Laboratório Central (Lacen) serão usados para a análise do material e para os testes em pacientes contaminados.
Pesquisa
O secretário de Saúde, Francisco Araújo, frisou que o investimento em ensino e pesquisa é essencial para o combate à Covid-19 e que o GDF se esforça, desde o início da pandemia, para fortalecer os estudos. “Essa parceria com a UnB e com outras universidades tem nos ajudado muito. Tenho dito que não são apenas com hospitais e leitos de UTI que vamos conseguir superar tudo isso.”
O governador Ibaneis Rocha (MDB) acrescentou que os resultados do estudo no DF podem ser úteis para outras unidades da federação. De acordo com o emedebista, é preciso lembrar também de locais onde a situação é mais crítica do que na capital federal. “Eu tenho certeza de que o momento ainda é de muita dificuldade, mas quem acompanha os números do DF sabe que temos uma responsabilidade muito grande com a nossa população”, assegurou.
Carência
Hemerson Luz, especialista em doenças infecciosas e médico do Hospital de Base e das Forças Armadas (HFA), explica que, atualmente, não há um medicamento ou um tratamento específico eficaz contra o coronavírus. “O que temos, hoje, é o suporte clínico, a abordagem sintomática e o uso de oxigênio quando necessário”, esclarece. Por isso, avalia que é indispensável estudos como o que é promovido pelo Hemocentro.
“É muito importante, porque esse estudo que vai pegar justamente os anticorpos no plasma dos recuperados e testar no doente para ver se vão ter alguma reação e qual a eficácia. É importante que a pesquisa seja o mais científica possível, com comparação com a evolução de pacientes nos quais não se utilize esse método”, argumenta.
Cadastro
Quem tiver interesse em participar do programa deve se inscrever no site do Hemocentro (http://www.hemocentro.df.gov.br/plasma/). Os recuperados precisarão atender a condições específicas (Leia Critérios) para aderir ao estudo, e serão entrevistados pela equipe de pesquisa para esclarecimento de dúvidas, triagem clínica e coleta de amostras para exames. O tratamento de pacientes da Covid-19 com essa técnica só será realizado com o consentimento do próprio doente ou de familiares dele.
- Critérios
Veja as condições, além de ter se recuperado da Covid-19, para participar da pesquisa:
» Ter entre 18 e 60 anos de idade;
» Pesar no mínimo 60kg;
» Se mulher, não ter histórico de gestações;
» Ter diagnóstico laboratorial confirmado de infecção por Sars-Cov-2;
» Estar sem sintomas de Covid-19 há pelo menos 15 dias;
» Não ter tido manifestações graves em função da Covid-19 (choque séptico, parada cardíaca e/ou entubação traqueal/respiratória).
Fonte: Fundação Hemocentro