Antes da pandemia do coronavírus, a Associação Agroecológica Mulheres Rurais do Assentamento Canaã, em Brazlândia, traçava estratégias para ampliar a comercialização de seus produtos. Tudo já estava planejado, mas precisaram se adaptar ao novo cenário mundial.
O contratempo acabou por reforçar o projeto. “Criamos uma cesta semanal, com dez itens que colhemos na semana, e comercializamos por apenas 60 reais”, conta a presidente da associação, Maria Ivanildes Souza. “Os produtos podem variar, e sempre mandamos alguma surpresa para os clientes experimentarem. Outro dia mandei cará-moela para uma cliente, que ficou encantada, pois nunca havia provado”.
Na lista de itens entram alface, couve, repolho, beterraba, batata-doce, cenoura, ora-pro-nóbis, inhame, alecrim, erva-cidreira, manjericão, alho-poró, cebolinha, batata yacon, pimenta dedo-de-moça e mostarda, entre outros produtos de consumo saudável.
As agricultoras fazem a cesta e entregam aos clientes, todo sábado, em um ponto de distribuição na Asa Norte, no antigo Sine, ao lado do Conjunto Nacional. A próxima etapa é entregar na residência dos consumidores, mediante pagamento de frete.
Qualidade
“Dá para perceber o carinho e a satisfação delas em montar a cesta”, elogia o servidor público Paulo Henrique Correa, um dos clientes da associação. “O agricultor familiar é importante: ele planta, com amor à terra, e precisa vender. Ao comprar a cesta semanalmente, me sinto parte da produção deles, da família deles; há uma sinergia.”
A engenheira florestal Rejane França também virou cliente. “Os produtos que recebi estavam maravilhosos, folhas frescas e de duração muito maior”, destaca. “[Foram] as melhores batatas-doces que já comi. É importante dar valor aos pequenos para que eles também alcancem o mercado e tenham uma qualidade de vida melhor”.
Novos hábitos
Ivanildes esclarece que segue as recomendações para a prevenção de contaminação do coronavírus. Elas entregam as mercadorias com máscaras e luvas, higienizam frequentemente as mãos com álcool em gel e não usam sacolas plásticas. Além disso, o pagamento pode ser feito via cartão ou transferência bancária, para diminuir o contato.
“Estamos tentando fazer o melhor para os clientes, para as agricultoras que integram a associação, para que não percam os produtos que foram plantados com tanto trabalho e carinho, e para o mundo, buscando oferecer o nosso melhor, que é plantar”, resume. “Temos percebido que há uma abertura maior para comprar de pequenos produtores, mas temos desafios, como [fazer com] que os clientes confiem na entrega, e [também o de] nos profissionalizarmos mais.”
Inovação
Ivanildes é uma das mulheres do Canaã que compõem, há mais de um ano, o projeto-piloto Sistemas Agroflorestais Mecanizados, implantado nas bacias do Paranoá e do Descoberto sob a coordenação da Secretaria do Meio Ambiente (Sema).
A ação incentiva práticas agrícolas inovadoras em bacias hidrográficas estratégicas para contribuir com a segurança hídrica do DF e integra as ações do projeto CITinova – Planejamento Integrado e Tecnologias para Cidades Sustentáveis, coordenado em nível nacional pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic), com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês) e gestão do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Foram implantados 16 hectares com o modelo. A expectativa é que, até o fim deste ano, serão totalizados 20 hectares. No sistema agroflorestal é feito o plantio de espécies agrícolas e florestais diferentes em uma mesma área, o que torna possível a produção sem que a natureza seja prejudicada.
“Este sistema possui benefícios econômicos, pois permite que o agricultor diversifique seus produtos e benefícios sociais, pois ajuda a fixar os trabalhadores no campo, com demanda por mão de obra durante todo o ano”, explica o secretário do Meio Ambiente, Sarney Filho.
Como funciona
A maior inovação do projeto-piloto da Sema é a mecanização do SAF Mecanizados, com o objetivo de aumentar e facilitar os trabalhos de campo e de incentivar os agricultores familiares a seguirem com as práticas sustentáveis de cultivo. O projeto oferece instrumentos adaptados para apoiar a criação de agroflorestas, como a enxada rotativa com subsolador e a ceifadeira-enleiradora.
Os participantes passam por capacitação, aprofundamento de conceitos, técnicas e prática, sempre recebendo assistência técnica. A predileção das propriedades e o apoio para os trabalhos de campo, fornecimento de maquinário, mudas e sementes, é feita através de um acordo de cooperação técnica entre a Sema, a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), a Emater e a Administração do Lago Norte.
“Aprendi muito desde que fui inserida no projeto”, conta Ivanildes. “Minha visão para a minha área e o que ela podia me oferecer aumentou, e o respeito pela terra, também. Aprendi como trabalhar com [o sistema] agroflorestal.”
Com informações da Agência Brasília