Quem vai comandar a PF?
A denúncia de Sergio Moro de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na condução de investigações da Polícia Federal criou uma nuvem de constrangimento entre delegados cotados a assumir o comando da instituição. O nome preferido do presidente Jair Bolsonaro é o atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Mas correm por fora o delegado Anderson Torres, secretário de Segurança Pública do DF, e o diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Fabiano Bordignon. Mas sempre existe o imponderável. Alguém que surja como um azarão entre os bolsonaristas.
Condenados
Três envolvidos no escândalo da Operação Drácon foram condenados por corrupção. Ex-secretário-executivo da Terceira Secretaria da Câmara Legislativa, Alexandre Braga Cerqueira foi condenado a três anos de reclusão em regime aberto. O ex-secretário-geral da Mesa Valério Neves recebeu uma pena de seis anos e nove meses de reclusão em regime semiaberto e o ex-diretor do Fundo de Saúde do DF Ricardo Cardoso Santos, a três anos e nove meses em regime aberto. A Drácon investigou um suposto esquema de venda de emendas para beneficiar empresas de UTI e, por isso, ficou conhecida como UTIgate. A sentença, da semana passada, é da Oitava Vara Criminal de Brasília, onde tramita a ação contra os ex-deputados distritais envolvidos.
Na cara
A fisionomia carregada de todos os integrantes da equipe do presidente Jair Bolsonaro durante o pronunciamento contra Sergio Moro foi um termômetro do desconforto com a saída do colega da Esplanada e o tamanho da crise. A porta está aberta.
Senadores do DF criticam Bolsonaro
Os senadores Leila Barros (PSB-DF) e José Antônio Reguffe (Podemos-DF) demonstraram apoio ao ex-ministro Sergio Moro. "As declarações do Moro, a quem presto minha solidariedade, são gravíssimas. É inaceitável que queiram transformar um órgão de Estado, como a Polícia Federal, em um instrumento político e de atendimento de interesses pessoais”, disse Reguffe. E Leila desafiou Bolsonaro a apresentar explicações: “A sociedade tem o direito de saber por qual motivo o presidente interferiu no comando da PF, em desacordo com o ministro da Justiça. O silêncio do Planalto pode alimentar as especulações de que motivações não republicanas teriam provocado a exoneração de Maurício Valeixo”.
Vitória
Nem tudo é tristeza na família da deputada Jaqueline Silva (PTB), que perdeu o sogro, Antônio Gomes Filho, de 87 anos, para o novo coronavírus. É que a mulher dele, Maria José Gomes, também foi contaminada e se recuperou aos 85 anos. Vitórias que surgem na pandemia.
Só papos
“A intenção da Carla Zambelli sempre foi de proteger e promover o governo. Expor uma conversa privada entre padrinho e sua afilhada, em que ela tentava novamente conciliar e apaziguar, escancara e evidencia o bem e o mal. Eu aprendi que o bem vence, sempre”
Secretário de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten, sobre a divulgação de conversa entre a deputada Carla Zambelli e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro
“A deputada negocia uma vaga no STF para o cara aceitar uma intervenção política na PF em troca e vocês querem dizer que ela tá certa!?”
Deputado distrital Fábio Félix (PSOL), sobre a tentativa de convencer Moro a permanecer no governo Bolsonaro em troca da nomeação para o STF
Mandou bem
O Reino Unido e a Alemanha anunciaram que vão começar a testar vacinas contra o novo coronavírus. Trabalho deve durar cinco meses.
Mandou mal
Em Manaus, mortos de Covid-19 estão sendo enterrados em cova rasa. Situação brasileira virou destaque na imprensa italiana.
Enquanto isso...Na sala de Justiça
O STJ negou salvo-conduto a uma mulher que queria ter o direito de se locomover livremente, sem o risco de ser presa ou sofrer qualquer restrição por violar medidas de isolamento social impostas como prevenção à contaminação pelo novo coronavírus, em São Paulo. O entendimento foi de que, se há medida administrativa para que os cidadãos do estado deixem de circular livremente e saiam de casa apenas em situações estritamente necessárias, seu descumprimento, em tese, sujeita o infrator ao crime previsto no artigo 268 do Código Penal, ou seja, o de infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena — detenção, de um mês a um ano, e multa.
A pergunta que não quer calar….
Com mais de 3,6 mil mortos por Covid-19 registrados no país, é hora de pensar em relaxamento do isolamento social?
À QUEIMA-ROUPA
Advogado Paulo Roque Candidato ao Senado pelo Novo em 2018
“O presidente está perdendo uma oportunidade de ouro de unir todo o Brasil diante da situação grave que estamos vivendo. Churchill emergiu entre os ingleses como grande líder exatamente durante as dificuldades geradas pela crise da Segunda Guerra Mundial“.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, único governador do seu partido, o Novo, tem demonstrado simpatia pelo presidente Jair Bolsonaro. Concorda com essa postura?
Acho que o governador Zema tem conseguido um diálogo maior com o Palácio do Planalto. Esse diálogo não implica em apoio. A postura do governador como de todo o Novo deve ser, como foi sempre anunciada pelo partido, de independência em relação ao governo federal. Apoiar sempre naquilo que é bom para o país e criticar o que está na contramão dos interesses da sociedade e do que o partido defende. O Zema, em todas as pesquisas até aqui, aparece como um dos maiores índices de aprovação. Isso é um indicador de que tem acertado na maioria de suas ações e que precisa repetir mais seu primeiro ano de governo, que foi também muito bem avaliado e não cair em tentações da política pequena nesse segundo ano.
Zema foi um dos sete governadores que se recusaram a assinar carta aberta contra a participação de Bolsonaro em ato pró AI-5. Essa posição demonstra alinhamento com o governo federal?
Neste particular, vejo que o governador, no afã de manter o diálogo, que é necessário, com o Palácio do Planalto, acabou, na minha opinião, se afastando da postura do próprio partido, que foi a de criticar essa participação extremamente inoportuna do presidente nessa carreata, com vários manifestantes pedindo a intervenção militar e a volta do AI-5. Os próprios militares consideram extremamente inoportuna a participação do presidente nessa manifestação.
Candidato ao governo pelo Novo em 2018, o empresário Alexandre Guerra defendeu, logo no início da pandemia do novo coronavírus, medidas para preservar a economia e as empresas em funcionamento. Concorda com esse posicionamento?
Isso foi logo no início da quarentena quando ainda havia muitas dúvidas, inclusive na área da saúde, sobre que caminho seguir. Hoje a maioria não tem dúvida de que, sem o isolamento horizontal, o número de mortes no Brasil, que vem, infelizmente, crescendo muito, seria ainda exponencialmente muito maior. O isolamento horizontal não é uma questão de querer. Infelizmente, é uma imposição não só aqui, mas de todo o mundo para lidar com uma das mais cruéis pandemias dos últimos 100 anos. Agora, no Brasil, temos de tomar cuidado. Muita gente fala em democracia, mas não tolera opinião contrária. O Alexandre foi literalmente atacado massivamente simplesmente por expor sua opinião à época. Isso não combina com o Estado de Direito.
Um ano e meio depois das eleições, você concorreria novamente a algum cargo público pelo Novo?
Tenho interesse, sim, mas muita coisa pode mudar até as eleições. Teremos um agravamento sem precedentes da crise econômica por conta dos efeitos da pandemia. E ninguém sabe quais vão ser os desdobramentos da crise política com a saída do ministro Moro. Infelizmente, o desemprego, como tem ocorrido no mundo todo, vai aumentar aqui também. Muitas empresas que já estavam com problemas antes do coronavírus, agora então, não terão outra saída, senão, uma recuperação fiscal, que deve bater todos os recordes no Brasil. Particularmente, antes mesmo de toda essa pandemia, nas minhas conversas, inclusive, com membros da bancada federal do partido, já vinha cobrando do Novo algumas posições. Qual a posição do Novo em relação à política ambiental? Tivemos a crise da Amazônia, que repercutiu muito mal lá fora, desestimulou investimentos estrangeiros aqui; e o ministro do Meio Ambiente, embora não indicado pelo Novo, é o primeiro suplente de deputado federal do partido por São Paulo. Como fica a política das relações de consumo em um mercado fortemente oligopolizado como o nosso? Sempre fui liberal, mas não liberal de ficar repetindo mantras. Temos de ver o que funciona e o que não funciona na realidade do nosso país primeiro. Esse é um desafio do Novo, adequar o discurso liberal à realidade do Brasil, que não é a de Angola, mas também não é a dos Estados Unidos.
Qual a sua avaliação sobre a condução da crise do novo coronavírus pelo governador Ibaneis?
Começou bem, sendo o primeiro a perceber a necessidade das medidas de isolamento social. Agora, acho que está se precipitando com o discurso de volta às aulas.
E pelo presidente Bolsonaro?
As quedas dos ministros Sergio Moro e Mandetta dizem tudo. Agora, o presidente está perdendo uma oportunidade de ouro de unir todo o Brasil diante da situação grave que estamos vivendo. Churchill emergiu entre os ingleses como grande líder exatamente durante as dificuldades geradas pela crise da Segunda Guerra Mundial. Seus próprios aliados reconhecem que boa parte de suas falas, que geram tantas crises, poderiam ser evitadas. Ele vem perdendo liderança de forma visível e receio que termine isolado. Isso não é bom para o país. Dizem que o presidente da Câmara e a maioria dos governadores não ajudam. Pode até ser verdade, mas o diálogo institucional não pode deixar de existir em nenhuma circunstância e todos os poderes são obrigados a insistir nesse diálogo, não em busca de cargos, mas em tornos dos maiores interesses do país. Infelizmente, a Covid-19 não tem nada a ver com política, mas a colocaram no centro de uma disputa eleitoral. Não era pra ser assim. A crise política está aí, infelizmente, e todos líderes têm a responsabilidade, neste momento, de não querer apagar fogo com gasolina.