Cidades

Reduções nas mensalidades escolares podem gerar demissões e falências

Em nota técnica do Departamento de Estudos Econômicos, entidade alerta para o perigo de demissões e falência das instituições de ensino, caso projeto de lei seja sancionado pelo governador Ibaneis Rocha. GDF analisa constitucionalidade do texto

Correio Braziliense
postado em 25/04/2020 06:00
Em nota técnica do Departamento de Estudos Econômicos, entidade alerta para o perigo de demissões e falência das instituições de ensino, caso projeto de lei seja sancionado pelo governador Ibaneis Rocha. GDF analisa constitucionalidade do textoO Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) alertou sobre malefícios em relação aos projetos de lei relacionados a descontos de mensalidades escolares. Na análise do Departamento de Estudos Econômicos, o Cade destacou o projeto de lei aprovado pela Câmara Legislativa que autoriza a redução de 30% a 50% das mensalidades. Para o conselho, medidas como essa podem gerar demissões e falências das instituições de ensino. O deputado Daniel Donizet (PSDB), um dos autores da proposição, discorda e garante que as escolas serão ressarcidas após reporem as aulas. O projeto aguarda a sanção do governador Ibaneis Rocha (MDB).

O Cade citou alguns possíveis impactos negativos da medida. A redução na renda das escolas poderia gerar desemprego ou redução de salários, o que impactaria no poder de compra dos funcionários. A dificuldade de realocação é outro ponto levantado pelo conselho. Em caso de desemprego, a reinserção dos professores no mercado de trabalho seria difícil durante o isolamento. No âmbito da macroeconomia, a redução das mensalidades podem resultar em diminuição da demanda agregada e da arrecadação de impostos. Além disso, existe a possível necessidade de a rede pública precisar absorver alunos de instituições privadas, em caso de falências.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica também abordou efeitos concorrenciais, como a concentração do mercado e o aumento de poder por parte das empresas maiores. “A interferência nos preços dos contratos educacionais por meio de posição unilateral e linear pode desequilibrar as relações comerciais, melhorando o ambiente negociável para alguns estudantes de um lado, às expensas de eventual piora da situação de estabelecimentos de ensino”, detalha o texto.

O deputado Donizet garantiu que o projeto de lei foi elaborado a partir de diálogo com todas as partes, incluindo representantes dos colégios. “Muitos pais estão com dificuldade de pagar a mensalidade. É melhor a gente flexibilizar e manter os pagamentos. Se a gente não flexibilizar, vai aumentar o índice de inadimplência”, justificou. O parlamentar destacou que o projeto prevê o pagamento desse valores. As quantias podem ser parceladas e pagas após 90 dias do retorno das atividades escolares presenciais.

Para o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe/DF), a lei interfere nos contratos firmados entre as instituições e os clientes. “Infelizmente tivemos de sucumbir ao diálogo com a Câmara a fim de minimizar os citados impactos constatados por nossa pesquisa com o setor. A medida gerou interferência nos contratos firmados, desrespeitando o direito de livre negociação”, afirmou o presidente do Sinepe/DF, Álvaro Domingues.

Diálogo

Do ponto de vista da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino no DF (Aspa), a medida ajudaria muitos pais que estão com dificuldade de manter as mensalidades em dia, porém é preciso saber se o projeto é constitucional a fim de garantir a segurança jurídica dos envolvidos. “Os pais não querem redução de salário, demissão ou falência. A gente está preocupado, nós temos uma relação de muito carinho e respeito com as escolas”, disse o presidente da Aspa, Alexandre Veloso. A associação cobra mais diálogo com as escolas para resolver os problemas durante o período de isolamento. Alexandre ainda destaca a necessidade de mais esclarecimentos em relação à aplicação da lei, caso sancionada. Entre eles a forma como as negociações e a demonstração da necessidade do desconto serão feitas.

O Governo do Distrito Federal informou, em nota oficial, que só se pronunciará em relação à proposta de lei após a Procuradoria-Geral do Distrito Federal analisar a constitucionalidade do texto aprovado pela Câmara Legislativa.


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